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segunda-feira, 8 de julho de 2013

16-8-77 LOVY DORA

Tenho reparado que ultimamente é cada vez maior o número de pessoas tatuadas e que cresce o cuidado na escolha dos motivos tatuados e na qualidade da sua execução. Nada como uns minutos numa esplanada à beira mar para as vermos desfilar: tatuagens com motivos tribais, as clássicas carpas, dragões, datas, referências clubísticas, nomes, iniciais entrelaçadas, caracteres chineses, frases árabes, signos, borboletas, flores, golfinhos, estrelas, luas, retratos, santas, terços, crucifixos, caveiras, animais, o que se queira. Sempre me intrigou o que leva alguém a querer marcar o seu corpo de forma definitiva. Normalmente respondem-me que cada tatuagem tem um significado profundo, que  tanto pode ser uma homenagem a alguém, como uma forma de assinalar um acontecimento importante. Que, no fundo é uma forma de arte que querem eternizar no seu corpo. Confiemos então que a pele manterá sempre a firmeza e tonicidade e que a tatuagem conservará as cores e definição do primeiro dia, a bem da arte.
O fenómeno da tatuagem generalizou-se, democratizou-se de tal forma que hoje em dia quase todos temos um familiar, um amigo ou conhecido que ostente uma tatuagem. Porém, há uns anos só os mais rebeldes e corajosos ousavam marcar o corpo daquela maneira.
Hoje tive mais uma prova que, de facto, era assim. Hoje vi um desses bravos. No braço uma cruz que desafiava todas as regras da perspectiva, emoldurada por iniciais toscamente desenhadas, no peito, uma cabeça de cavalo, sim acho que era um cavalo. Num antebraço aquilo que em tempos terá sido uma sereia (?), no outro uma serpente gorda enrolada numa palmeira. Numa coxa, um paraquedas, ou um cogumelo, não percebi bem, na outra, a pièce de résistance, um coração que dizia 16-8-77 "LOVY DORA". Quão rebelde e corajoso é preciso ser-se para cobrir o corpo com frases e figuras escritas e desenhadas por um miúdo de 6 anos? Ao dono dessas tatuagens, uma palavra: Respect!


6 comentários:

  1. Caro Mirone,

    Eu sou dona de uma tatuagem que me enche de orgulho. Não a fiz para marcar uma data, não a fiz pelo valor sentimental de coisa nenhuma, fi-la simplesmente porque sim. Sou fã do trabalho de um ilustrador e pedi-lhe que me fizesse uma ilustração exclusiva que eu pudesse tatuar. Tive a sorte de ele me dizer que sim, ainda era pouco conhecido, e agora vejo o reconhecimento dele a aumentar e eu a ter uma obra exclusiva tatuada. Já a tenho há uns anos, e não me arrependo nada. Esta em sítio discreto, daqueles que só se vê se eu quiser, e penso sempre que se me fartar um dia ou se a coisa me parecer ridícula, há sempre o laser para resolver o problema. E sempre a possibilidade de um dia e tornando-se ele mesmo mesmo famoso, de - sei lá e quem sabe - ainda a leiloar, vender :)
    Essa faz-me sentido. Outras há que não fariam sentido algum, nem tão pouco terei a pretensão de vir a fazer mais nenhuma. Chega-me. Confesso não compreender os que as escolhem através do catálogo da loja de tatuagens, como quem escolhe roupa por catálogo. Fora isso, é uma forma de arte como outra qualquer: há quem goste, quem deteste, quem ache ridículo e quem não viva sem elas.
    Como todos os movimentos artísticos, temos os bons, os muito bons e os péssimos. E como qualquer movimento artístico, os péssimos têm que ser necessariamente em maior número que os outros, para que este possam destacar-se pela positiva.
    E, caramba, existem tatuadores que são artistas absolutamente brutais. e depois temos os outros, mas também ainda bem que assim é :)

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    1. Vender uma tatuagem seria muito à frente. Mal fosse que a pipa de massa arrecadada com a venda não desse para uma cirurgia de recontrução da zona de pele removida. :D
      Quanto aos seus motivos para a fazer, só não constam do texto porque não falei consigo, senão é evidente que os teria referido.
      De resto, continuo a achar que aquelas tatuagens, há mais de trinta anos, Mesmo com erros e desenhos farsolas, seriam coisa de um tipo bem "bad-ass" (na altura a arte de tatuar não estava tão divulgada como hoje, era quase clandestina...). Acho que nos dias de hoje só teria como paralelo um tipo tatuar um palavrão cabeludo na testa (e com erros).

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    2. mas quem resiste a um angola 1972?? ou a um amore de mãe já meio apagado?? os bad boys de outros tempos eram uns visionários! há coisa de um ano atrás, vi moça potencialmente hipster eventualmente coisa nenhuma, com um lobe you pai abaixo duma foto possivelmente do senhor em novo, tatuado no braço, exibido com muito orgulho. um revivalismo, uma coisa retro que deve ter uma função qualquer que me ultrapassa :) não duvide, caro Mirone, que os comece a ver por aí, aos da nova geração numa espécie de rebeldia, numa afirmação de qualquer coisa. dir-lhe-ão que não é só moda, que aquilo é para marcar uma posição qualquer.
      confesso que rebeldia é coisa que sempre me atraiu. não consigo de deixar de achar graça a essas tatuagens de que fala. se fosse eu a decidir, transformava-as em património da humanidade!

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    3. Então não é? Bem sei que nem todos se tatuam por rebeldia, mas o que é que há de rebelde em fazer uma tatuagem toda bonitinha? Queres ser rebelde, queres? Então tatua aí o primeiro borrão que te ocorrer!

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    4. ;) e para encerrar a conversa em beleza, um assunto que nada tem a ver com o resto: gosto do teu blog. encontrei-o por acaso, e li-o de uma assentada. já estás no feed, e já te acompanho diariamente.
      Frederica

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    5. São as vantagens de ter um blog que faz hoje, precisamente, duas semanas? Dá para ler de uma assentada :)

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