Se há coisa que me deixa feliz é o sucesso alheio. Gosto verdadeiramente de ver o trabalho de alguém dar frutos. Gosto de pessoas ousadas, com sentido de empreendorismo. Admiro aqueles que querem mais, os que não se acomodam, os que em vez de se queixarem dos limões que a vida lhes dá, os usam para fazer limonada (isso e as pedras do caminho para fazerem castelos, não é bonito?), os correm riscos e criam riqueza para si e para os outros.
Há uns tempos cruzei-me com alguém que decidiu levar o conceito de oportunidade e risco mais além.
Naquele dia regressava a casa feliz com o meu trabalho, com a sensação de dever cumprido. Sim senhor, Mirone, assim vale a pena sair da cama todos dias. Na berma da estrada um carro patrulha da GNR. Do lado de fora, encostado à porta, o guarda olhava atento o trânsito que, àquela hora, andava compacto. Fez-me sinal e pediu que encostasse. Suponho que o outro elemento da patrulha estivesse no carro. Já não sei. Isto foi o que se seguiu.
- Boa tarde. Os seus documentos e os da viatura, se faz favor.
- Aqui tem, faça favor.
Examina os documentos, dá uma volta ao meu carro, inspecciona os pneus, procura no vidro a vinheta da carta verde. Tudo em ordem.
- Sabe que daqui a dois meses tem de pagar o imposto único de circulação?
- Sei sim, normalmente é a empresa que trata disso, mas vou lembrá-los, não vá a data passar-lhes ao lado.
- Já vi que sim, o carro é da empresa.
- É, tenho aqui a declaração de autorização para conduzir o veículo, fora do horário de trabalho, inclusive.
- Deixe estar, não é preciso. Diga-me só uma coisa, nessa empresa há impressoras?
-?! Impressoras?!
- Sim, impressoras, daquelas normais, a jacto de tinta.
(Já agora, deixa-me só ver onde é que isto chega)
- Sim, tem.
- E que tinteiros é que usam? Os da marca?
- Sim, acho que sim... mas não tenho a certeza.
- Sabe, é que eu vendo tinteiros reciclados nas horas vagas.
- Pois, mas não sou eu que compro os tinteiros... mas é sempre bom saber.
- Então, quando lhes der a palavrinha do imposto de circulação, diga-lhe isso dos tinteiros. Normalmente ando por aqui, mas se forem ao posto perguntem por mim que toda a gente me conhece, que se for preciso faço-lhe um orçamento. Mesmo para si, se tiver impressora em casa, também vendo a particulares, não é só empresas.
- Com certeza. Vou lembrar-me do senhor da próxima vez que precisar de tinteiros.
- Então boa tarde e boa viagem. E tinteiros, já sabe, pergunte pelo cabo J.
Se isto não é correr riscos, já não sei o que é.
(preciso de comprar tinteiros)
- Sim, tem.
- E que tinteiros é que usam? Os da marca?
- Sim, acho que sim... mas não tenho a certeza.
- Sabe, é que eu vendo tinteiros reciclados nas horas vagas.
- Pois, mas não sou eu que compro os tinteiros... mas é sempre bom saber.
- Então, quando lhes der a palavrinha do imposto de circulação, diga-lhe isso dos tinteiros. Normalmente ando por aqui, mas se forem ao posto perguntem por mim que toda a gente me conhece, que se for preciso faço-lhe um orçamento. Mesmo para si, se tiver impressora em casa, também vendo a particulares, não é só empresas.
- Com certeza. Vou lembrar-me do senhor da próxima vez que precisar de tinteiros.
- Então boa tarde e boa viagem. E tinteiros, já sabe, pergunte pelo cabo J.
Se isto não é correr riscos, já não sei o que é.
(preciso de comprar tinteiros)
Hehehehehe... isso é muito bom! O ordenado de GNR não é grande coisa, logo o senhor teve de fazer pela vida.
ResponderEliminarbeijinhos
Tu guarda bem o contacto do Cabo J, que algum dia ainda te irá ser útil noutras situações :)
ResponderEliminarEsclarece-me: conversa off the record, visto o parceiro estar ausente da situação, certo? :)
Não sei. Não percebi se o parceiro não estava ou, se por estar dentro do carro não se apercebeu da conversa (ou, apercebendo, fechou os olhos/ouvidos), tamanha era a descontração do cabo.
ResponderEliminarInacreditável!
ResponderEliminarPor acaso, preciso de um tinteiro.