Falam-se línguas (translate)

terça-feira, 31 de maio de 2016

Oh pá! Oh pá! Oh pá!

Tenho o Facebook a dizer-me que hoje é o dia dos irmãos! Grande pinta! Sou irmã dos três melhores do mundo! Oh yeah!
Sou a segunda de quatro, todos iguais mas tão diferentes. Na número um, mais velha que eu 363 dias, admiro a generosidade, a entrega, a capacidade de fazer de qualquer sonho realidade, pela combatividade e determinação, a nossa generala/sindicalista, a que sabe tanto e quer sempre saber mais, a que ainda hoje ouve ralhetes porque não se senta direita à mesa e insiste ler enquanto janta, mãe de três quando a ciência lhe dizia que muito dificilmente isso viria a acontecer. Na número três, o meu presente dos cinco anos, admiro a maturidade, a doçura, o sentido de justiça, a verticalidade, as boas energias e o sorriso pepsodent mais perfeito que conheço. No número quatro, o Menino Jesus dos meus 12 anos, o benjamim muito desejado, o bebezola de 1,90m das manas, o melhor tio do mundo, admiro tudo, até a rabugice de sono.
Um grande Viva! para eles!


segunda-feira, 30 de maio de 2016

Ainda estive para ficar calada

Ando há uns dias a remoer o 'novel' conceito de estudar com os filhos e a carga supostamente negativa que lhe é atribuida. Aparentemente, estudar com os filhos é um passaporte para uma vida adulta de frustrações, dependências e limitações de toda a ordem.

Enorme parênteses: Os meus pais estudaram comigo. Não sinto que tenha crescido frustrada, dependente, insegura ou menos preparada para a 'vida real'.
Tive uma professora primária acérrima defensora dos trabalhos de casa e por isso todos os dias tínhamos de fazer uma cópia, um ditado, palavras difíceis, contas e a tabuada. Pelo menos na parte que dizia respeito ao ditado era a mãe que mo ditava. Nas vésperas dos testes o pai ou a mãe pegavam no livro e fazia-me perguntas sobre a matéria, umas vezes a meu pedido, outras vezes por iniciativa própria. Eu ficava mais tranquila e eles inteiravam-se de forma mais participativa do meu grau de aprendizagem. Continuaram a fazê-lo até praticamente ao 9.º ano. O grau de participação, como é óbvio, foi decrescendo com o tempo. Desenvolvi o meu próprio método, tornei-me mais autónoma e e independente e nos últimos anos de secundário raramente lhes pedia ajuda para rever a matéria. Ainda assim, lembro-me perfeitamente de, na véspera da prova de aferição de filosofia, ter dado ao pai os apontamentos e resumos que fiz para que ele me fizesse perguntas. Vim a saber, mais tarde, que falhei uma série delas, mas ele nunca mo disse, não me queria deixar nervosa. Fiz a prova tranquila, sem grandes preocupações, e a verdade é que tive boa nota. Se os meus pais teriam preferido ficar a descansar em vez de me fazerem perguntas ou me ajudarem com mnemónicas de auxílio? É bem provável que sim, como prefeririam que eu dormisse as noites todas seguidas mal saí da maternidade, ou que mudasse fraldas ou me alimentasse sozinha.

Para aqueles que condenam o apoio que os pais dão aos filhos no estudo, acusando-os de criarem crianças frustradas e mal preparadas, pequenos ditadores habituados a ter o mundo as seus pés e os outros à sua inteira disposição, eu contraponho: Deixar crianças imaturas à sua sorte, forçar o seus crescimento em prol da independência vai gerar adultos sem escrúpulos, desconhecedores de noções básicas como a entreajuda, fomentará a lei da selva, onde 'vale tudo menos tirar olhos' e só os mais fortes sobrevivem, nem que para tal tenham de eliminar a concorrência. 

Não é por extremar posições que elas se tornam mais acertadas.


quarta-feira, 25 de maio de 2016

"Donde no puedas amar no te demores"

Pobre Frida Kahlo, devia reunir muito com os serviços de urbanismo, de certeza.
Alguém me explique, se souber, como é que um compromisso marcado para as nove, num serviço que abre às nove, já está atrasado uma hora?

Até sinto a 'monocelha' a crescer.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Em que categoria encaixo isto?

Parei numa passadeira para dar passagem a um senhor que aparentava ter idade para ser meu avô. Ele tirou o boné em forma de cumprimento e com a língua fez rodar o palito que trazia na boca. Como não avançasse, fiz-lhe sinal com a mão para que atravessasse e apontei para a fila de carros que se estava a formar atrás do meu. O senhor lá se faz à zebra, à velocidade que consegue, mas em vez de se dirigir ao outro passeio vem bater na minha janela.
- Sabe, é que a menina tem potência. Eu, infelizmente, já não.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Breve pausa para falar de coisas importantes

Assinala-se hoje o dia mundial da Doença Inflamatória do Intestino.
A Doença Inflamatória do Intestino (DII) é uma patologia crónica grave que afeta mais de 5 milhões de pessoas em todo o mundo e cerca de 20 mil pessoas em Portugal. Para saber mais sobre a doença de Crohn e a Colite Ulcerosa, as manifestações mais comuns da DII, e as iniciativas levadas a cabo em mais de 35 países no sentido de aumentar a consciencialização sobre este problema carregue aqui.

E a ti, Mirone, o que te trouxeram os restaurantes?

Hoje, uma açorda de comer e chorar por mais, uma caixinha de plástico com o que sobrou dela, e uma modorra que prende o corpo ao ponto de ponderar reclinar a cadeira só para passar pelas brasas.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Voltar ao lugar onde já se foi feliz



Depois do almoço de domingo, e para não acordarem a bebé que dormia a sesta, sempre que o tempo a tal convidava, o pai levava-as a passear de bicicleta. Seguiam por trilhos que julgavam secretos, espreitavam os ninhos, chamavam bosque ao velho Carvalhal que tinha calhado ao avô em herança e jardim às clareiras onde se sentavam a descansar antes de regressar a casa. Para lá do bosque ficava uma jeira de terra onde no verão  havia milho alto e uma vala onde de inverno corria um ribeiro. O pai chamava-lhe o Salto do Lobo. O nome tinha tanto de assustador como de fascinante. "Ainda há lobos, pai? Podemos ir procurá-los? Se vier um lobo salvas-nos, pois salvas? Vamos explorar, vamos?". "Não, o terreno tem outro dono".

Um destes domingos à tarde sem um bebé a dormir a sesta e por falta de convite do tempo, o pai pergunta-lhes se se lembravam do Salto do Lobo. "O dono morreu há quase de trinta anos e aquilo hoje está para lá um silveiral desprezado. Ontem veio cá a filha perguntar se lho comprava. Aquilo não vale nada e o que ela pede não é nenhuma fortuna. Vocês têm algum interesse em ficarmos com a terra?"

"Aos dezoito dias do mês de Maio de 2016, compareceram neste cartório..."

terça-feira, 17 de maio de 2016

Empatia

- Mamã, vês o que é o almoço da escola?
- Sopa de grão com espinafres, massada de peixe e fruta da época.
- Ooohhh!
- Olha, paciência...
- Paciência? Gostavas de chegar à escola e ter esse almoço e que a avó te dissesse paciência?
- ...
- Tens de começar a pensar como uma menina de seis anos antes de me dizer paciência, mamã, não é dizer as coisas assim sem pensar nos outros.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Comunicado

Desapareceu do seu blog Palmier Encoberto. Da última vez que foi vista vestia um casaco... errrr... enfim, vestia um casaco, e apresentava o cabelo... errrr... pois, tinha cabelo.
Palmier Encoberto costuma fazer-se acompanhar de um Schnauzer miniatura que responde pelo nome de Cutxi. Desconhece-se se a desaparecida sofre de fortes perturbações bloguisticas, mas os registos apresentados apontam para uma saudável insanidade em grau avançado.

Qualquer informação útil sobre o seu paradeiro deverá ser prontamente enviada para a Polícia Blogociária.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Consolidando conhecimentos

Ontem, enquanto ajudava a Mironinho a preparar o teste de Estudo do Meio.
- A água que se encontra na superfície da terra, nos lagos, rios, oceanos..., evapora-se com o calor do sol e quando encontra uma zona de ar mais frio forma nuvens. É a consolidação.
- Não é consolidação, Mironinho é condensação.
- Ah, enganei-me. É a condensação. Depois, quando as nuvens estão muito cheias as gotas de agua caem em forma de chuva, neve ou granizo. É a precipitação.
- Muito bem. Então diz-me os nomes das fases do ciclo da água.
- Evaporação, consolidação e precipitação.
- É condensação. Vá, repete 20 vezes para não te esqueceres.

Hoje de manhã. Enquanto tomava o pequeno almoço.
- Mamã, vê lá se eu sei. As fases do ciclo da água são a evaporação, a con...
- Con...
- Con...
- Con...
- Consolidação e precipitação.


...


segunda-feira, 9 de maio de 2016

O estranho caso das personagens que desapareciam da história


Rodou a maçaneta de porcelana branca decorada com três peónias rosadas devagar e percebeu que a porta não estava trancada. Deteve-se antes de entrar, prescrutante, tentando perceber se realmente estava só, espreitou pela porta entreaberta e, não vendo ninguém, esgueirou-se para dentro da sala. De olhos semicerrados e ombros tensos, fechou a porta tão devagar como a abrira momentos antes, para que o gemido das velhas dobradiças não denunciasse a sua presença.
Caminhou lentamente sobre a alcatifa, sentindo o suave ceder das tábuas grossas do soalho que cobria. Passou pelo piano e conteve a vontade de lhe varrer o teclado como dedo, como fez tantas vezes durante a infância. Dirigiu-se à mesa onde repousava o telefone, tapou o bucal com palma da mão esquerda e aproximou-o o ouvido. Do outro lado, numa língua que não identificava, a voz falava ininterruptamente. Deteve-se em frente ao oratório de madeira escura. As portas de vidro estavam fechadas e, onde antes repousavam as figuras de santos, encontrava-se um único livro, com capas de pele verde e gravações douradas. Pegou-lhe com cuidado e sentou-se no canapé de veludo junto à janela.
De olhos fechados sentiu os relevos da capa do livro, a pele era incrivelmente macia. Abriu-o e sentiu o cheiro doce das folhas amareladas e àsperas e passou o indicador pela primeira página onde leu J. Grimm, W. Grimm, Der Teufel mit den drei goldenen Haaren. 
As letras começaram então a sumir-se do papel, até desaparecerem  por completo. Depois de lidas as palavras apagavam-se, como que por magia, deixando apenas uma folha amarela, àspera, o seu cheiro adocicado e rasto de nada. 
Fechou o livro com um gesto seco e vigoroso. Sentiu medo e quis fugir dali, mas a porta estava agora trancada. Puxou um cigarro e levou-o à boca, tentando acalmar-se e perceber que fenómeno era aquele que apagava as palavras lidas. Apalpou os bolsos freneticamente até encontrar o isqueiro de prata e riscou a pedra uma, duas, três vezes até conseguir acendê-lo. Inspirou com força, reteve o fumo o mais que pôde e depois exalou longamente. Sentiu-se desvanecer. Era agora o fumo que lhe saía quente da boca e que se perdia nos tectos altos de estuque trabalhado.
Na sala, outra vez, ficou só a voz, falando ininterruptamente pelo telefone.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

E depois ficam a olhar para mim como veados encadeados pelos faróis de um camião numa noite escura

Encontrei no café umas conhecidas que me convidaram para me sentar na sua mesa. A conversa girava em torno dos empecilhos que têm em casa e a que dão o nome de marido. Porque não sabe fazer nada, deixa roupa por todo o lado, nunca sabe do lugar das coisas, ou porque é picuinhas, um miudinho que lhe enche a cabeça de manhã à noite, porque é pieguinhas, porque anda há meses a queixar-se mas não vai ao médico, um verdadeiro duelo pela conquista do título "o meu marido é mais traste que o teu", a antevisão do que daqui a alguns anos será o campeonato sénior de sala de espera "a minha doença é pior do que a sua".
- Estás muito calada, Mirone.
- Estava a pensar nas vantagens dos casamentos arranjados...

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Vacilou, Imelda!

Numa escala de 0 a 10, em que 0 representa nada adequado e 10 representa absolutamente adequado, que nota atribuem ao binómio condições meteorológicas/sabrinas malva (não são brancas, Mr Mirone!) com que S. Pedro e eu vos brindamos nesta promissora manhã de Primavera?
Sejam sinceros, eu aguento.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Aquele momento

Em que além do visto te exigem um seguro médico para poderes viajar para um país dito civilizado.

segunda-feira, 2 de maio de 2016