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quarta-feira, 21 de maio de 2014

Há toda uma carreira de técnica de vendas que me passou ao lado

... ou mas esta gente não faz uma formação antes de tentar vender o que quer que seja?

Estava a família Mirone no salutar convívio que  diariamente sucede a refeição da noite e antecede a recolha de Mironinho aos seus aposentos, cenário idílico como se há-de imaginar, "Mironinho, quantas vezes já te disse que o sofá não é pare se saltar? Começa a reunir a bonecada que entretanto está na hora da caminha e isto não é para ficar espalhado no chão". "Ohhhh, mas mamã, ainda não brinquei tudo...", quando o telefone de casa toca. "Um número fixo? A esta hora? Não conheço... não vou atender". "Atende lá, pode ser  importante". "Atende tu", "Não, atende tu".
 Atendi.
- Sim.
- Boa noite. estou a falar com a dona da casa?
Oh sorte macaca, vendedores a esta hora, deixa-me despachar isto. Respondo enfadada.
- Sim...
- O meu nome é "Jánãomelembro" e estou a ligar da "Nempercebi". Somos uma empresa ligada à saúde e precisavamos de saber se conhece a qualidade da água que usa em casa.
Filtros de água, outra vez? Quantas vezes é que tenho de dizer que não quero?
- Boa noite, não estou interessada em comprar nenhum filtro, muito obrigada.
- Mas quem é que lhe disse que eu quero vender um filtro de água?
Ó minha amiga, a falar nesse tom já percebi que não deves estar muito interessada em vender, não.
- O seu telefonema não é oportuno.
Deve ter-se lembrado que se chamar a pessoa pelo nome cria mais empatia e avança.
- Como é que se chama, já agora?
Já agora?!
- Não é importante, a senhora conseguiu este número sem precisar do meu nome...
- Mas conhece a qualidade da água que consome? É que nós temos técnicos na sua zona dispostos a fazer uma análise gratuita à qualidade da sua água sem quaisquer custos.
- É água da rede pública e o resultado das análises periódicas pode ser consultado a todo o tempo. Mas já lhe disse que não estou interessada em comprar um filtro, muito boa noite.
- Espere lá!
Espere lá?! Já agora deixa-me ver até onde isto chega.
- Diga...
- Eu não não vou vender nada.
Ai não vais não, podes estar descansada.
- Estamos só a fazer um agendamento para uns dos nossos técnicos se deslocarem a sua casa e sem quaiquer custos fazerem uma análise à qualidade da água.
- E eu estou a dizer-lhe que isso não vai acontecer. Não tenho por hábito receber estranhos em casa. Quando estiver interessada num serviço ou produto eu própria tomo a iniciativa de o procurar.
- Não gosta de receber estranhos em casa?
- Não. Em minha casa entra quem eu quero e deixo.
Já vi que não lês o Mirone, senão já sabias.
- Mas você trabalha, não trabalha?
Você? Já estamos neste patamar... 
- Trabalho.
- Então como é que trabalha se não quer falar com estranhos, sabe-me dizer?
 Eu sabia dizer-te, mas se me fizeste essa pergunta é porque seguramente não perceberás a diferença entre as duas situações.
- Com licença.
Desliguei.
- Anda Mironinho, vamos para a cama que a mãe conta-te uma história.


A educação é uma coisa muito linda, não é?




10 comentários:

  1. Há pessoas a quem nem todas as formações de atendimento e vendas do mundo bastariam...falta de chá.

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  2. Não tenho essa paciência. Digo logo que não estou interessada e desligo!

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  3. Caramba... E os senhores só preocupados com a qualidade da água que bebes Mirone...

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    1. Não bebo água da torneira, só engarrafada. Além de não dar muito jeito, não me parece muito higiénico levar a boca à torneira da cada vez que tenho sede, depois salpico-me toda. Olha não gosto. Prefiro beber por um copo. Manias, é o que é.

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    2. Mas que raio de argumento. Que não beba da rede, ou porque não goste dela ou por outros motivos, até compreendo.
      Agora, que o beber água da rede implique colocar a boca na torneira, isso é que já se me torna um pouco mais difícil aceitar.
      O mesmo copo que a garrafa enche, a torneira também o faz.
      Ai ai, esta senhora.

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    3. Ora, ora, seja bem aparecido. Amigo OCorvo, sempre tão pertinente. Quando digo "da torneira" queria dizer "pela" torneira, saiu-me mal o trocadilho (morreria à fome se vivesse do humor). Mesmo a água engarrafada naqueles garrafões que trazem acoplada uma torneira, recuso-me a beber pela torneira , uso sempre um copo.

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  4. Não há pachorra. Por norma tento ser o mais educada possível enquanto despacho a cena, até chego a dizer que enquanto estão a perder tempo comigo não fazem negócio com outro. Mas da última vez que recebi um telefonema do Barclay's card passei-me da marmita e soltei uns valentes berros, só me lembro de ter dito qualquer coisa como 'isto já é assédio, porra' antes de desligar.
    E pronto, lá em casa deixámos de atender números privados ou que não conhecemos. Sossego.

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    1. Do Barclay's ligavam para o telemóvel e eu já lhes conhecia o número (agora só me assediam nos centros comerciais). Em casa ligam-me da zon e estes dos filtros de água... Ontem estava a fazer tempo para a Mironinho acabar de brincar e estava bem disposta, dei-lhe mais conversa.

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  5. Mirone, isso mais parece uma forma de se "infiltrarem" em sua casa, com a sua autorizaçao, com a porta aberta por si e sem necessidade sequer de lhe arrombarem a porta. Quando não conseguem tal "proeza", ficam ao menos a saber se é habitual a casa estar vazia. Não é à toa que lhe perguntam se trabalha.

    Pelo menos, aqui na minha zona, em tempos, houve uma moda dessas chamadas e dizia-se que era com essa intenção. Nunca cheguei a sabê-lo porque também sou das que desliga o telefone na cara sem dó nem piedade. Custa-me, até porque o meu filho já trabalhou num call center, sei o que passam os desgraçados que lá são explorados até ao tutano, mas...

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