Falam-se línguas (translate)

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Perspectivas

Enquanto segurava uma daquelas saquetas de sílica:
Mironinho: A Miquelina disse que esta silicone é venenosa, é verdade?
Mirone: Isso é sílica, silicone é o que algumas senhoras põem nas maminhas.
Mironinho: Nas maminhas?!
Mr. Mirone: Não ligues à mãe, silicone usa-se nas juntas dos vidros.
Mironinho: Nos vidros?! Então não é aquilo de fazer bolos? As senhoras põem isso nas maminhas?! São um bocado tolas, não são?

quarta-feira, 29 de junho de 2016

terça-feira, 28 de junho de 2016

Donde se conclui que

Depois dos sessenta anos (alguns homens começam a manifestar sintomas logo aos cinquenta) os homens acreditam em tudo, especialmente se lhes dissermos, mentindo, que aparentam muito menos idade do que a que têm.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Suspeito que numa outra outra encarnação fui figurante numa plateia e um qualquer programa da manhã

'Por coisas cá da minha vida' precisei de ir a uma conservatória do registo civil pedir uma certidão de nascimento. 
Entre tempo de espera e de atendimento terei estado lá dentro pouco mais que vinte minutos, os suficientes para presenciar a alegria e entusiasmo com que um casal de emigrantes ucranianos dava entrada ao processo de aquisição de nacionalidade portuguesa e as lágrimas de alegria  que um um rapaz órfão criado numa instituição e que ali se tinha dirigido na esperança de saber um pouco mais sobre as suas origens verteu quando soube quem algures em Fânzeres, Gondomar, poderão viver três tios paternos e dois irmãos mais velhos.
Sabe Deus o que me custou mais conter, se uma lagrimita marota de emoção, se a vontade súbita de bater palmas.

O timing, senhores, o timing

O Ministro Centeno apresentará o plano de reestruturação da Caixa Geral de Depósitos esta tarde, pelas 15h30m.

Não podia ter escolhido melhor hora, a seguir vai dar o jogo da selecção, com sorte Portugal passa à fase seguinte, arranja-se assunto por mais uma semana e não se fala mais da CGD.


terça-feira, 21 de junho de 2016

Esclareçam-me só umas dúvidas, por favor

Os jogadores da selecção nacional, excluindo os contratos publicitários, são pagos por a representarem em competições internacionais?
Esse pagamento, partindo do princípio que existe, é igual para todos?

Agradecida.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

terça-feira, 14 de junho de 2016

O Irrigador*

Para lá do tanque de pedra do pomar, depois de passar as tangerineiras, havia junto da eira O Barracão. N'O Barracão,  que não era mais do que um depósito de velharias com um cantinho reservado à Oficina, uma mesa de marceneiro que nunca me lembro de ter visto ser usada e umas quantas prateleiras de tábua corrida onde o avô guardava ferramentas variadas, sobretudo as alfaias de resineiro que um dia foram do seu avô, os púcaros de barro que levávamos para fazer papas de terra com que banqueteávamos as Tuchas e os Carecas, alinhavam-se três gerações de bicicletas enferrujadas, um tear desmantelado, louças lascadas, candeeiros de petróleo, cabeceiras de camas de ferro, lavatórios de esmalte, cadeiras desirmanadas com estofos gastos e pernas bambas, uma máquina de costura, caixotes de todos os tamanhos e móveis velhos, onde procurávamos tesouros que depois, se a avó deixasse - deixava quase sempre -, usávamos para brincar. Partimos pratos, demos descaminho a tachos e panelas, arrancámos portas para fazer casinhas para as bonecas. Existia contudo um móvel onde não mexíamos, uma mesinha de cabeceira de madeira escura, sem gaveta, com um tampo de pedra branca partida e uma única porta que guardava, além d'O vaso de noite branco com uns morangueiros pintados que tantos risinhos abafados nos causava na ninhada de netos entre os quatro e os nove anos, não tanto pela função que desempenhava, mas sobretudo pelo eufemismo com que a avó o designava, coberto por um pano de linho bordado, um fascinante artefacto de vidro com uma base de ferro encarnada decorada com flores douradas já muito sumidas, com um tubo de borracha castanha que terminava numa torneirinha de baquelite preta. Avó, e o extintor, podemos brincar com o extintor? Nós temos cuidado, pode ser? Não! estávamos terminantemente proibidos de brincar com O vaso de noite, muito menos com O Irrigador, o que quer que fosse!, e nessa tarde não pudemos brincar mais n'O Barracão. No dia seguinte, quando voltámos, a mesinha de cabeceira tinha desaparecido e com ela o penico dos morangos e o "extintor", sem que alguma vez percebêssemos porquê e para que servia, perdendo-se para sempre no fundo das nossas memórias. Longe da vista, longe do coração. Ou não.
Há uns dias, numa dessas feiras de velharias que enchem as pracetas das vilas pequenas no segundo domingo de cada mês, em cima de um pano verde estendido no chão, entre bricabraque de toda a sorte, a mesma base de ferro encarnado, o vidro fino e a mangueira de borracha. Lembrei-me d'O Barracão e da mesinha e do vaso de noite e pude, finalmente, perguntar para que servia o estranho "extintor". Ahahahahahahahah! Extintor?! Essa é boa, nunca lhe tinha ouvido chamar extintor, mas olhe que não anda lá longe. Ahahahahah! É um irrigador, minha senhora, servia para dar clisteres.

* Ou de como o lugar de alguns objectos é guardado a sete chaves, dentro de uma mesinha de cabeceira fechada num barracão e, sobretudo, na nossa memória, sob pena de perderem toda a sua beleza.


segunda-feira, 13 de junho de 2016

Estica o indicador e o médio debaixo do fio fino de água gelada que corre para a pia de esmalte onde o tempo e o ferro gravaram uma risca castanha e sacode-os vigorosamente antes de os passar nas pálpebras para lavar as remelas da noite, espalha a espuma de barbear no rosto magro e desfaz a barba com uma lâmina descartável que lhe trazem em sacos de dez as meninas do centro social quando vêm deixar a comida e lavar a mãe, que há quase um ano espera a morte e estado vegetativo. No fim limpa-se com uma toalha velha que pendura num gancho que pregou na porta e despeja after-shave nas mãos que espalha com palmadas no rosto, pescoço e debaixo dos braços. Teria três anos quando caiu no charco dos patos e nunca mais conseguiu sentir água na cara, falta-me logo o ar, afogo-me. Molha os dentes de um pente de plástico azul para modelar a madeixa de cabelo que deixa crescer até ao ombro esquerdo sobre a careca luzidia. Depois veste o fato castanho muito coçado e lustroso que um vizinho lhe deu, aperta a gravata debaixo do colarinho gasto e  passa uma escova pelos sapatos, para ter a certeza que brilham. 
Aproxima-se cerimoniosamente e em silêncio da cama da mãe, endireita-lhe a cabeça na almofada, estica o tubo do oxigénio, puxa a roupa da cama para cima e ajeita a dobra do lençol sobre o cobertor. Segura-lhe nos braços moles e tenta fixar-lhe as mãos como que em oração sobre o peito, sem êxito, e volta a estendê-los ao longo do corpo, por cima da roupa, afasta-se para a mirar melhor e volta a consertar a almofada. Estica a roupa da cama uma última vez, simula que lhe fecha as pálpebras, acena afirmativamente com a cabeça como quem se congratula e esboça um sorriso de satisfação antes de se pôr de plantão à janela, de olhos fixos no fundo da rua, à espera da carrinha branca das meninas que chegando à hora do costume lhe parecem mais demoradas naquela manhã. 
- Já são oito e meia?
- Bom dia, Tó, estás todo janota, onde é a ida com tanta pressa, nem comes?
- Começo hoje no Xico da funerária e ele disse que me vinha buscar às oito e meia. Diz que se eu for atinadinho um dia me vai ensinar a preparar os corpos, hoje até já estive a praticar com a mãe.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Eu também tenho saudades

De um tempo que nunca vivi, do tempo em que Mr Mirone me oferecia flores.

Uma pessoa já estava na cama

Mas depois recebe uma chamada para fazer um comentário em direto na televisão e só tem tempo de vestir um casaco, ala que se faz tarde.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Vitor?!

Ou como educar pelo exemplo.


- Papá, hoje na ficha de revisão de Português tínhamos de inventar uma história com um peixe. Sabes que nome é que eu lhe dei?
- Qual?
- Lembrei-me de ti.
- Oh...
- E por isso chamei-lhe Vitor.
- Vitor?! Mas eu não me chamo Vitor!
- Pois, mas nas histórias que tu arranjas sempre nomes feios para as personagens.

Dia Mundial a Criança - Day After

Circula na internet mais uma fotografia, um homem com um bebé lindo ao colo. Por respeito não reproduzo.
Porque é um homem alemão, voluntário, pai de filhos, que embala um bebé morto acabado de resgatar de mais um naufrágio no Mediterrâneo. Um bebé que ninguém sabe quem é.
Não sei bem digerir estas coisas.

Ora bolas!

Logo hoje que me senti tão inspirada, que me apeteceu divagar sobre o que sustem a conversa das senhoras sentadas à mesa do café, porque sabe o senhor Dionísio que mais que um maxilar definido pela força de quem morde os dentes e olhar penetrante, são juras abstratas de atenção indisputada sem destinatária que fazem cada uma daquelas senhoras sentir-se única e especial, não o escrevi a tempo de encontrar a caixa de comentários aberta.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Post real em tempo de sonho

E eu que faltasse a um movimento blogosférico

Fotografei sapatos para o Pipoco, vesti pombos para a Palmier, fui ao Marquês com a Filipa, alguma vez ia deixar o Senhor Ministro desamparado? Nem pensar! 
O Senhor Ministro tem um blog de amor sem o amor para o alimentar, e isso entristece-o, definha-o. Ora eu, um coração de manteiga assumido, não consigo ver um ministro cabisbaixo, aceitei de imediato o desafio de, com a minha manifestação de amor incondicional, fornecer ao Ministro o alimento que teima em faltar-lhe. 

Senhor Ministro, excelência, saiba que não há de há dois meses para cá um dia em que não lhe dedique uns minutos a minha atenção. Sabe, Senhor Ministro, quantos minutos têm os meus dias? Ora bem, são vinte e quatro horas, com sessenta minutos cada uma, ora portanto, seis vezes quatro vinte e quatro, seis vezes dois, doze, é fazer as contas, como disse um dia um seu colega, e olhe que se deu bem, ainda há dias prestou provas na ONU. O senhor ministro esteve presente, sabe bem do que falo. Não são muitos, Senhor Ministro. Ainda assim, reservo sempre uns quantos para o visitar.
Senhor Ministro, não sei se o amor que lhe ofereço é o que procura, mas é genuíno, não é de desprezar. 
Traga-me no coração a dizer-lhe que me faz rir, porque é assim que o trago no meu.
Faça de conta que estamos num reality show, afinal, o que são os blogs senão um imenso reality show. 

Senhor Ministro, eu amo-o. Mas como irmãos.


Como é, minha boa gente?

Doze pontinhos, novinhos e a estrear, para estourar nas estradas, hein?
Vá, juizinho, não gastem tudo de uma vez que depois querem mais e já não há.