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segunda-feira, 14 de abril de 2014

Os pais que batem nos filhos

Por causa disto  e disto, lembrei-me de um episódio que se passou comigo.
Tinha seis anos mas consigo descrever o que se passou com uma precisão incrível, como se tivesse sido ontem, lembro-me do que estava a fazer, o que trazia vestido, tudo.
Foi em Julho, a meio da semana, à hora do lanche e estava em casa com as minhas irmãs, a mais velha com sete anos e a mais nova com um, a minha mãe, que tinha acabado de ter alta hospitalar por ter sido operada às varizes nas duas pernas há poucos dias, e a empregada, a "Isabel". Naquela altura as operações às varizes eram quase um bicho de sete cabeças e os doentes vinham com as pernas entrapadas como uma múmia e indicação de repouso absoluto.
Estávamos na cozinha enquanto a "Isabel" nos preparava o lanche que consistia numa "iguaria" presente em quase todas as casas nos anos 80, batido de iogurte caseiro, feito a partir da flor do iogurte, e fruta. A flor do iogurte precisava de ser lavada cautelosamente antes de voltar  ao frasco onde seria submersa em leite que no dia seguinte estaria transformado em iogurte. A meio dessa tarefa pediu-me para ir à fruteira buscar duas bananas para fazer o batido. Do alto da insolência dos meus seis anos fui grosseirona e respondi-lhe que não ia, que fosse ela porque ela é que era a empregada. Além da soberba devo ter usado de um tom de voz suficientemente alto para a minha mãe, que estava deitada, me ouvir. A minha mãe tinha indicação para só se levantar em caso de absoluta necessidade. Aquele era, não tenho dúvidas nenhumas, um caso de absoluta necessidade. Nem a vi entrar na cozinha, inchada que estava com a minha atitude de autoridade, só senti um bofetão na cara.
- NUNCA, mas nunca mais, voltas a falar assim com alguém, Mirone! Pede já desculpa à "Isabel" e vai para o teu quarto pensar no que fizeste. Hoje não lanchas e este Verão estás proibida de comer gelados e de ver desenhos animados.
Não soltei um pio. Pedi desculpa à "Isabel", dei-lhe um beijo, baixei a cabeça e fui para o quarto. Não precisava de pensar muito no que tinha feito, sabia muito bem, ainda antes de ter sido malcriada, que aquilo não era maneira de tratar ninguém. Antes de sair a "Isabel" foi levar-me um copo de batido. Larguei-me num pranto até à hora do jantar, não porque lamentasse o castigo, que sabia merecido (ainda que não tenha sido rigorosamente cumprido, durou pouco mais de uma semana), não porque  me doesse a cara, mas porque me doía, muito, a alma.

A minha mãe que dizia sempre que nunca se bate, muito menos na cara,  que ficou incomodadíssima com o sucedido durante vários dias e que chorou quase tanto quanto eu, terá violado todas as regras da pedagogia e pedopsicologia. Eu, que não sou pedagoga nem versada em psicologia,  agradeço-lhe aquela bofetada de todo o coração e, como diria o meu avô, "só se perderam as que cairam no chão".





16 comentários:

  1. Ora aí está!
    Correndo o risco de ter a CPCJ à porta, estou absolutamente convencida que um tabefe bem dado, na hora certa, pode ser decisivo! Continuo a acreditar que pode fazer a diferença entre criar-se um ser humano digno e respeitável e um marginal (ainda que de bom aspecto)! ;)

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    1. Se me perguntarem se a coisa se teria corrigido com um sermão e o uma conversa? Provavelmente. A minha própria mãe ficou arrependidíssima (mais por ter sido na cara, se tivesse sido no rabo passava) e ainda hoje não gosta de se lembrar da única vez que me bateu. Mas, também provavelmente, entrava por um ouvido e saía pelo outro e na próxima oportunidade voltaria a repetir a gracinha. Lembro-me perfeitamente ter noção de que "agi de forma livre e consciente, bem sabendo que aquela conduta era proibida" e de depois me sentir toda orgulhosa e importante, "ah, ah, sou muitA boa!". A verdade é que aquela bofetada foi muitíssimo eficaz e ainda hoje sou muito pouco tolerante a grosserias...

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  2. Eu sou 100% a favor de uma palmada, desde que não seja a regra e sim a excepção.
    Em pequena levei meia dúzia de tabefes. E uma única bofetada do meu pai. Absolutamente merecida, lembro-me como se fosse hoje.

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  3. Não sou a favor das bofetadas. Mas neste caso a sua mãe agiu da melhor maneira. À sua mãe a estalada doeu-lhe mais do que a si, mas Mirone ,concerteza, nunca mais repetiu a gracinha.

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    1. Sou contra bofetadas na cara/cabeça, podem ser perigosas, mesmo sem força, suponhamos que acerta num olho? Ouvi uma história de uma criança que ficou com lesões no tímpano por causa de um bofetão que lhe apanhou a zona da orelha, Não sei se foi assim tão simples, um único bofetão, mas não quero descobrir. Agora uma palmada no rabo em casos especiais e excepcionais, não tenho dúvidas, é muito bem dada. Sim, doeu mais à minha mãe que a mim (na altura calhou na cara porque estava sentada á espera do lanche, se estivesse de pé teria levado um palmadão no rabo). Sei que ficou atrapalhadíssima e talvez por isso a duração do castigo tenha sido encurtada.
      Quanto à eficácia, não tenha dúvidas: nunca mais repeti a gracinha.

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  4. Eu sou contra pais que batem... Bater é mesmo o último recurso... Qdo se bate muito (ou se ralha muito, ou se põe muito de castigo) banaliza-se a situação, passa a ser normal o portarem-se mal e isso é que não pode ser.

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    1. Eu sou a favor.
      A NM deve fazer parte dos pais que se preocupam muito com um mundo melhor para os filhos, e esquecem-se que a maior preocupação dos pais deveria ser criarem uns filhos melhores para este mundo.

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    2. :) Leu o meu post sobre o assunto?

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    3. Anónimo, tem todo o direito à sua opinião, especialmente quando fundamentada. Já o restante comentário era perfeitamente dispensável. Já disse mais do que uma vez que apesar de não ter moderação de comentários não hesitarei um segundo e apagarei todos os ataques gratuitos a outros blogs ou comentadores. O seu comentário é profundamente injusto e baseia-se numa suposição sem qualquer suporte. Digo-lhe mais, não me parece um comentário digno de quem defende a criação de filhos melhores para o mundo. Vou conceder-lhe o benefício da dúvida, partindo do princípio que é a primeira vez que cá vem - sem nome não tenho como distinguir um anónimo de outro - e que não quis ofender a NM, noutras circunstâncias mão o admitiria (como não admitirei se insistir). Boa noite.

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    4. NM, quis efectivamente sugerir ao anónimo que lesse o que escreveste, mas não o fiz, não fosse dar-se o caso de ele te ir lá "trollar".

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    5. :) no worries, mirone! Tenho para mim que o anônimo só não leu o meu post e acha que eu sou daquelas que nem por sombras toca nos filhos... Só isso! :)

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    6. Não li o seu post e a NM não leu bem o meu comentário porque se lesse, mesmo na diagonal, veria que não tenho dúvidas nenhumas que toca nos filhos. Toca e toca bem!
      Por acaso agora vou ler o seu post, agora ainda não que tenho a telenovela para ver mas logo a seguir vou ler, e ou muito me engano ou tenho a certeza de que vou encontrar uma mãe implacável castigadora dos rebentinhos.
      Se eu vir la violência infantil tenha a certezinha que vai ouvir das boas. :)
      E não se deixe enganar com o sorriso porque é falso como Judas,
      Quanto à senhorinha Mirone não tem nada que travar os comentários porque ela se sabe bater nas criancinhas também se sabe defender, para mais nunca se corta um comentário de uma pessoa de bem que defende as crianças inocentes.
      Vici?... Bem...

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    7. :))) Demore o tempo que precisar...

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    8. "Vici?" Que saudades da Tieta do Agreste.
      Está a parecer-me que o anónimo está a pedir uns tapinhas no bum-bum... Não conte comigo, vici? Licencinha...

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