Até entrar para a Faculdade contavam-se pelos dedos das mãos as vezes em que tinha andado de metro, mas nos cinco anos seguintes passou a ser o meu meio de transporte de eleição, evitava as esperas sujeita a intempéries e em pouco mais de dez minutos fazia o percurso entre casa e a universidade.
Num dos primeiros dias de aulas, vejo entrar na carruagem um cego que com voz condoída pedia "quem tem a bondade de auxiliar um ceguinho?".
Nunca nos meus mais loucos sonhos me ocorreu que o ceguinho "em apuros" procurasse auxílio financeiro e não ajuda para encontrar um lugar sentado. Levantei-me imediatamente, pus o meu melhor sorriso, que estas coisas não se vêem mas sentem-se, pego-lhe cuidadosamente no braço e digo "sente-se aqui, por favor, que eu não me importo de ir de pé". Do ceguinho, nada, nem um sorriso, nem um grande bem-haja, Deus lhe dê muita saúdinha, zero, apenas um seco "não menina, eu não me sento" enquanto avança lamuriento pela carruagem "quem tem a bondade de auxiliar um ceguinho".
As carruagens de metro deviam vir com uns alçapões de emergência, uma espécie de auto-eject invertido, na altura teria accionado o meu com todo o gosto.
E olha que o senhor em questão deve ter sentido vergonha dele mesmo e da sua má-educação.
ResponderEliminarEu também me teria sentido envergonhada, noutra idade e com outras vivências, hoje em dia sou muito céptica em relação ao "estica a mão". Há quem não queira ajuda, apenas dinheiro, são os mal-agradecidos.
(Desculpa se desvirtuei o teu post)
Na altura senti-me como se saísse daquelas comédias em que a saloia que sai da aldeia para ir à cidade pela primeira vez, só me faltava a galinha na cesta e o lenço na cabeça. Como é que era suposto eu saber que aquele pregão era de esmola? Então não era "senhora, dê uma moedinha, pela sua saúdinha"?
EliminarPois que não devia ser o estupor que anda lá sempre a pedir e a cantar o pregão em hip-hop e depois, quando chega ao fim da carruagem insulta toda a gente por não lhe terem dado nada...
ResponderEliminar:)
Depois de acabar o curso voltam a contar-se pelos dedos da mão às vezes que andei de metro em Lisboa, desconheço os novos pregões. No meu tempo, e que me recorde, a pedir nas carruagens eram dois senhores e uma senhora cega e um miudinho a tocar acordeão com um cãozito.
EliminarDesses já só sobra um dos Senhores e é raro vê-lo!
ResponderEliminarLembro-me muito bem desse senhor.
ResponderEliminarComo já era "conhecido" de todos ficava-se só pelo quem tem a bondade de me auxiliar e seguia carruagens acima e abaixo
Depois desse dia fiquei a conhecê-lo. :DDD
EliminarEsse senhor andou anos e anos a pedir no metro (desconheço se ainda lá andará) mas não há muito tempo, depois de já ter deixado de andar de metro há uns bons anos voltei a encontrá-lo numa das raras vezes em que voltei a utilizar este transporte.
EliminarAhahhahahahah! Que "vergonha" deliciosa :D
ResponderEliminarHoje tive outro episódio, mas foi mais de culpa que vergonha. Se tiver tempo faço um post.
EliminarAcho que uma pessoa numa situação dessas não deve ter vergonha. O sr. é que procedeu mal...
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