Falam-se línguas (translate)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

... com caracóis

Depois de ler este post da Be, dei comigo a pensar na educação pelo exemplo que damos aos filhos e na forma como, mesmo sem querermos, lhes condicionamos a perceção do certo e do errado, do bom e do mau, do belo e do feio. Hoje foi assim, enquanto descíamos no elevador e lhe passava os dedos pelo cabelo.
- Tenho mesmo sorte, Mironinho, saíste muito melhor do que alguma vez imaginei. Acho que se te pudesse escolher não teria escolhido tão bem. Para mim és perfeita.
- Pois, tinha saído como a Isolda, com caracóis.
- Hã?
- Para mim a Isolda é perfeita, menos nos caracóis.

Com sete anos, a Mironinho acha que a perfeição de alguém depende da textura do cabelo e eu não posso deixar de estar magoada com o péssimo exemplo que lhe dou quando, todos os dias, faço por disfarçar os meus.



13 comentários:

  1. Com sete anos é normal que a perfeição dela dependa de factores como o aspecto. Importante é que lhe consigas passar a mensagem de que é mais importante ver além das imperfeições, as dela e as dos outros. E isso eu sei que fazes.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mas uma coisa é o que eu digo (e nesse aspeto acho que estou a fazer um bom trabalho, é uma miúda tranquila, tolerante, conciiadora...), outra é o que eu faço. E há coisas que faço sem me dar conta que a influenciam.
      Hoje foi o cabelo, podia ser a cor da pele, a orientação sexual... os miúdos lêem significados nos nossos comportamentos que podem mais tarde manifestar-se na forma de discriminação. Isso incomoda-me e faz-me questionar atitudes tão simples como o facto de todos os dias alisar o cabelo.

      Eliminar
    2. Não acredito que seja por aí, seria grave se ela dissesse que não gosta de A ou B porque tem o cabelo encaracolado. Tu sendo o exemplo dela só tens de lhe dar as ferramentas e esperar que no futuro as saiba usar. Acaba sempre sendo uma incógnita, mas se te sentes confortável com a educação que lhe dás e se ela corresponde é esperar pelo melhor.

      Eliminar
    3. Até agora não está a correr mal, acho mesmo que será uma pessoa íntegra se continuar como tem sido até aqui... mas fica sempre a dúvida, será que o exemplo chega lá?

      Eliminar
  2. Ai Mirone, que semana para divagar sobre isto! Estou farta de ler, ler, ler, que basta dar o exemplo. Pergunto-me eu: Que exemplo estarei eu a dar??? eu que me julgo tolerante, preocupada com a família, que não trato mal o outro por prazer, eu a quem nunca falta um bom dia, boa tarde, obrigado...O Raúl, do alto dos seus 7 anos, não está a comportar-se de acordo com o meu exemplo, ou eu/nós estaremos a fazer algo errado. Inicio de 2017 conturbado este, Beijos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Penso que a Mironinho se porta bem, em casa não faz grandes birras (nem na rua) e quer os professores quer os pais das amiguinhas a casa de quem vai brincar dizem que é bem comportada. O meu medo é que depois, em pequenas atitudes se revele uma pessoa intolerante, egoísta, etc. Porque quem diz o cabelo podia muito bem estar a escolher em função da cor da pele...

      Eliminar
  3. Pipocante Irrelevante Delirante13 de janeiro de 2017 às 13:57

    Oh EFE...
    Humanismo não é achar alguém perfeito, é aceitar um individuo mesmo que este tenha mau cabelo.

    Daqui a pouco não podemos achar alguém gordo, magro, feio ou bonito.
    A ideia não deve ser "não rotular", mas sim aceitar todos os rótulos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A questão não é rotular, todos rotulamos, catalogamos, julgamos (umas vezes guardamos esses julgamentos para nós, outras damos-lhe voz). A questão é saber se quando estico o meu cabelo (porque efetivamente detesto vê-lo com caracóis - que na verdade nem isso são, são apenas umas ondas que me dão ar de desleixada, de quem saiu de casa sem se pentear), ou quando lhe digo que para mim é perfeita (e estava a referir-me a muito mais do que o seu aspecto), não estarei sem me aperceber a dar-lhe motivos para discriminar os que não são como ela.

      Eliminar
    2. Este comentário foi removido pelo autor.

      Eliminar
  4. pá, Mirone, é assim - toma nota - se eu sei que tu andas a dar cabo dos teus caracóis - bênção divina a mulheres que nasceram para ser as mais belas! (está escrito na bíblia, 2ª edição revista e aumentada) - eu mando os meus primos do norte furarem-te os pneus!!!!

    NÓS, as maravilhosas dos caracóis, temos de assumir as nossas riquezas, caramba! para cabelos desgrenhados e sem personalidade já nos basta a Palmier! por favor, Mirone, tu vê lá isso, pá!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caracóis é eufemismo. Aquilo são umas ondas que me dão aquele ar de quem acabou de se levantar, molhou os dedos, enfiou-os na tomada e depois saiu de casa sem se pentear. Para poderem sair à rua e serem chamados de caracóis teria de perder uma eternidade a modelá-los. Eu preciso de trabalhar, tenho de ter uma imagem credivel. Andar a rua com o meu cabelo natural não é opção.

      Eliminar