Arlindo Orlando <3 Sónia Sandra!
Muitos anos depois, e já na companhia de Célio Celso, Sónia Sandra haveria de recordar a noite fria em que Arlindo Orlando a pediu em casamento. Sim, adoro Gabriel Garcia Marquez!
Muitos anos depois, e já na companhia de Célio Celso, Sónia Sandra haveria de recordar a noite fria em que Arlindo Orlando a pediu em casamento. Sim, adoro Gabriel Garcia Marquez!
Corria o ano de 2001 e Sónia Sandra acordara naquela madrugada gelada de Janeiro cheia de planos para um dia que se adivinhava longo. Haveria de se fazer à sua querida A1, enfrentar o nevoeiro e o frio para na velha Universidade ter um cansativo dia de aulas, que começaria às nove da manhã para só terminar às seis da tarde. Regressaria depois a Lisboa onde o seu namorado Arlindo Orlando e conservadora família a esperavam para um jantar comemorativo do seu (Arlindo Orlando) aniversário.
O dia adivinhava-se longo, portanto, mas a perspectiva de o terminar nos braços do seu amado assegurava-lhe todas as forças de que precisava. Sónia Sandra era uma jovem mulher feliz!
Como jovem mulher feliz que se sentia, nem o triste episódio do furo daquela manhã, abalava o sentimento de plenitude que a invadia. Nem o facto de, atrasada que chegou, só ter conseguido estacionamento numa ruela estreita, atrás da Faculdade. Nem a omelete gordurosa que comeu num snack-bar ali ao lado, à hora de almoço, e que pagou com as poucas moedas que lhe restavam na carteira (mas onde está uma caixa multibanco quando precisamos dela?). Nem o ardor, primeiro ligeiro, depois mais forte que sentia no olho esquerdo. Sónia Sandra estava feliz, corria-lhe a vida de feição.
No fim das aulas, correu ao WC para trocar de roupa e aprimorar a maquilhagem. Arlindo Orlando reservara mesa num badalado restaurante e Sónia Sandra não queria apresentar-se com os discretos jeans e cara "deslavada" com que comparecera nas aulas. Ademais, queria estrear o vestido preto (Carolina Herrera, se não estou em erro) adquirido recentemente numa promoção irresistível do El Corte Inglés de Vigo (nem uma palavra, é um destino tão válido quanto qualquer outro) na última passagem de ano. Caramba Sónia Sandra, aquilo do vestido preto funciona mesmo. Pareces uma senhora, elegante, sofisticada! Ooops! Uma malha nos collants (Sónia Sandra até podia sentir-se uma senhora sofisticada, mas as suas nádegas não se compadeciam com a aragem fria de Janeiro, por muito sensual que lhe parecesse a ideia de usar meias e cinto de ligas em vez de collants)! Não havia problema, Sónia Sandra, além de jovem mulher feliz era também previdente e levara consigo um par suplente. Collants rotos no lixo, collants novos nas pernas, aproxima-se do espelho para se maquilhar. Oh não! O ligeiro ardor que sentira no olho a meio da manhã e que começava a tornar-se mais incomodativo ao longo do dia era nada mais que uma conjuntivite! Imediatamente tirou as lentes de contacto e pôs os seus óculos. Deu uma cor às maçãs do rosto, passou baton nos lábios e não arriscou sequer uma máscara de pestanas. Nunca tinha tido conjuntivite, mas sabia que não era coisa para se brincar. Usaria os seus óculos pretos, de massa, os únicos suficientemente fortes para suportarem os pirex que usava como lentes (que triste é ser-se míope desde os 10 anos). Sónia Sandra quis acreditar que os óculos lhe conferiam até um certo ar intelectual. Não, não haveria de parecer mal no jantar de aniversário de Arlindo Orlando.
Confiante e em passo apressado (entre outras habilidades Sónia Sandra era perita em enfrentar calçadas antigas e irregulares de saltos altos), que em Janeiro às seis e meia já é noite, dirige-se ao carro. Novo contratempo. Esquecera-se de recolher os espelhos retrovisores, erro crasso numa rua estreita, já devia saber, e alguém lho tinha partido. Sem medos Sónia Sandra, és uma mulher decidida e independente! Pancadinha daqui, jeitinho dali e o espelho, outrora pendurado por um fio, estava perfeitamente encaixado no lugar de onde nunca deveria ter saído.
Seguia agora tranquila na A1. Dentro de duas horas poderia beijar o seu querido Arlindo Orlando. Logo depois de Condeixa o retrovisor começa a dar sinais da sua frágil condição. Abrandou a velocidade, Ainda estava com tempo. A 120/130 km/hora chegaria bem a tempo do jantar. O abrandamento, porém, não foi suficiente e, na área de serviço de Pombal, teve de sair e voltar a encaixar o espelho. Aguentaria até perto de Leiria, onde voltou a parar para consertar o espelho. Ao chegar a Fátima já o espelho estava novamente pendurado. Tinha de arranjar outra solução. Parou na área de serviço de Santarém. É incrível, no meio de tanta bugiganga à venda nas lojas de conveniência nem um único rolo de fita cola! Mas o espelho não podia seguir pendurado, iria estragar-lhe a pintura do carro, além do perigo que representava. Sónia Sandra teve então uma ideia que, sabendo disparatada, era a única que lhe parecia exequivel. Maldisse-se por ter deixado os collants estragados no cesto do WC da Faculdade. Ter-lhe-iam sido tão úteis. Bonito! Está a pôr-se uma chuva miudinha, era mesmo o que eu precisava para a viagem. O meu cabelo! Estiquei-o esta manhã! Estava tão lisinho. O que tem de ser tem muita força Sónia Sandra! Dirigiu-se ao WC, tirou os collants e improvisou com eles uma amarra para o espelho. Já não mexe! Amanhã logo procuro uma oficina que me encaixe o espelho como deve ser. Agora é prego a fundo que ainda tenho de passar num centro comercial a arranjar meias.
A restante viagem, efectivamente, correu bem e sem outros sobressaltos. Não foi tão rápida quanto calculou, por causa da chuva, e apesar do ar curioso do portageiro quando o viu, o espelho aguentou-se no seu lugar. Estava a passar o aeroporto quando o telefone toca. Era o seu amado Arlindo Orlando, a saber se ainda demorava, que já só faltava ela, Sónia Sandra. Estou a chegar, estou mesmo a chegar.
"Voou" como pôde até ao restaurante. Rezou para que ninguém reparasse que não trazia meias e com a segurança possível entra no restaurante.
À sua espera, Arlindo Orlando, acompanhado dos pais, irmão, cunhada e avó, recebe-a com um abraço apertado. Sónia Sandra era novamente uma jovem mulher feliz.
- Agora que chegaste, meu amor, e aproveitando o facto de ter a família comigo, quero dizer que és a mulher mais bonita que já vi e que o maior presente que me podias dar neste aniversário é aceitares passar o resto da tua vida a meu lado.
E foi assim que Sónia Sandra, sem meias, de cabelo frisado, óculos com lentes de fundo de garrafa e olho de goraz com uma semana fora do frigorífico, soube que era junto de Arlindo Orlando que queria envelhecer, com os Igor Romeu e Petra Priscila que Deus lhes quisesse dar.
Eu ainda estou incrédula com o que acabo de ver, Jesus! Pedida em casamento num estado tão miserável, nem quero acreditar, mas se calhar compensava com um vestido Stradivarius que é tiro e queda mesmo amarrotado e sem passar a ferro, e umas pulseiras Swaroski que é queda garantida, e também não lhe faltava o relógio Swatch nem os óculos Mr: Boho, pois não?
ResponderEliminarMas ao mesmo tempo fiquei toda orgulhosa de mim porque pensava que só eu é que era uma excluída por ser pedida em casamento numa sanzala perdida no meio da selva do Botswana, a suar como uma condenada ao fim de dois dias sem tomar banho nem mudar de roupa, a tratar e a vacinar os pretinhos. No meio daquela sujeira toda, ele chegou muito aflito e preocupado para me perguntar se casava com ele ou não. "Caso, agora deixa-me trabalhar".
Sheila Carina, diga-me que o seu noivo se chamava Helder Alfredo e acreditarei que somos almas gémeas!
EliminarNão não somos que eu sou uma medricas para dar 130 à hora. E porque a menina verificou que até nem tinha muita pressa, porque nem quero imaginar a velocidade meteórica a que ia antes de chegar a essa dedução.
EliminarMas se não se preocupa muito com o look aprimorado e vai confiante na sua natural beleza, então já somos parecidas.
Talvez 140, não mais... Que o carro não era propriamente um F1.
EliminarQue uiiiindo!! Uma verdadeira história deamor :)
ResponderEliminarEntão não?
EliminarAmeeeeeeei!
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