1. 2. Sssom. Ssom. A. A. Experiência. Sssom. Ssom.
Eu sei que é feio, que não se faz, que roça a
devassa, mas não resisto, gosto de observar as outras pessoas, de ouvir as suas
conversas. Faço-o onde quer que esteja, no trabalho, na rua, no carro, no café, no restaurante ou
no supermercado. Quando em criança ouvia os meus pais comentarem que não
percebiam como havia gente capaz de “fazer vida de café”, sentada a ler o jornal, a ver quem
passa e a dar palpites sobre tudo e todos, sem nada fazer, eu achava tudo muito
estranho. Já na altura a hipótese de poder passar uma tarde sem fazer nada, sem
ter de pensar muito, simplesmente a ver quem passa e a “mandar bitaites” me parecia fascinante. E
pensava “mas que mal tem “fazer vida de café?”. Depois cresci e afinal “fazer
vida de café” não é propriamente uma vida que almeje, mas o gosto por ver quem passa e ouvir
o que se diz mantém-se. Faço-o, modéstia à parte, com mestria. Depois de anos a
ler blogs decidi criar o meu, um blog onde pudesse escrever sobre o que vou vendo, ouvindo e lendo e
onde desse uns palpites, como os que muito falam e nada fazem. Se levo a sério
as conversas de café que vou ouvindo? Não. Nem o que aqui escrevo é para levar.
Então ter um blog é isto...?
Mas que interesse pode ter um blog escrito por
mim? Que relevância pode ter aquilo que eu escrevo? Nenhuma (ou toda, nunca se
sabe), mas se os outros têm, eu também posso ter. Soa a inveja, é pequenino?
Não é. E se fosse? Tens algum problema? Então?! Querem lá ver... E se escrevo
mal? Os outros também, não será o primeiro nem o último blog mal
escrito, qual é o teu problema? Na pior das hipóteses ninguém o lê,
eventualmente, e com muita sorte, receberás comentários insultuosos, não
é o fim do mundo. E se me falta assunto? Não escreves, parece-me
simples. É a vantagem
de ser só um blog. Quando te fartares ou te faltarem as ideias agarras
nas tuas
coisinhas, apagas a luz e fechas a porta. Ninguém sabe quem és tu, podes
seguir
a vidinha na paz do Senhor. Está decidido! Vou ter um blog, “ó larilas”!
Então vamos lá pensar nisto. Como é que eu lhe
chamo? Não foram precisos mais que dez minutos no café para ter uma epifania.
Fazer “vida de café” opera maravilhas no cérebro humano. Exclui o óbvio “Vida
de café” (mas fica guardado, nunca se sabe...). Vai chamar-se Mirone e o header há-de ser um maluquinho a espreitar por uns
binóculos. Header em vez de
cabeçalho... Catita hein?! Até parece que domino o tema! Isto só pode ser um
bom augúrio para o meu blog sobre tudo e sobre coisa nenhuma. Nisto dos blogs,
acredito que mais vale parecê-lo que sê-lo.
(Mentalmente ensaio uma coreografia de vitória) Oh yeah! Já tenho nome e cabeçalho, perdão, header. Pago o café e volto ao escritório. Depois leio as gordas do jornal na net. O meu blog não pode esperar! Escrevo no motor de busca “como criar um blog”. Sugere-me o Blogger. Está feito! Crio uma conta de mail, blogmirone@gmail.com (quão mais básico se pode ser?!). Escolho o esquema, o fundo. O esqueleto está definido. V amos lá é guardar isto antes que alguém tenha a brilhante ideia de fazer um blog chamado Mirone. Feito! Nasceu o mirone.blogspot.com.
(Mentalmente ensaio uma coreografia de vitória) Oh yeah! Já tenho nome e cabeçalho, perdão, header. Pago o café e volto ao escritório. Depois leio as gordas do jornal na net. O meu blog não pode esperar! Escrevo no motor de busca “como criar um blog”. Sugere-me o Blogger. Está feito! Crio uma conta de mail, blogmirone@gmail.com (quão mais básico se pode ser?!). Escolho o esquema, o fundo. O esqueleto está definido. V amos lá é guardar isto antes que alguém tenha a brilhante ideia de fazer um blog chamado Mirone. Feito! Nasceu o mirone.blogspot.com.
Agora é escolher uma imagem para testar isto do header. Vou
procurar na net, que é mais rápido e
assim também fico a saber o que anda por aí quando se pesquisa mirone. E não
corro o risco de fazer uma coisa igual ao que já existe – não quero começar a
minha aventura blogosférica com uma acusação de plágio. Motor de busca a
trabalhar, escrevo mirone, selecciono imagens e... Oh diabo!!! Que é isto?!!!
Então uma pessoa procura imagens relacionadas com mirone e a primeira coisa que
vê é pornografia, voyeurismo?!!! Pronto! É o fim! O meu blog morreu ainda antes de ter nascido! Está bem que eu disse que
não é para levar a sério o que aqui escrevo, mas caramba, há mínimos de “decência”.
Porque é que eu não escolhi “Vida de Café”? Calma, calma, respira, mantém a presença de
espírito. Podes sempre mudar o cabeçalho, perdão, o header, para “Vida de Café". Que mal tem o nome do blog
ser diferente do seu endereço? O Café Central que conheces afinal chama-se Ramiro & Filhos, Actividades Hoteleiras,
Ldª e ninguém reclama. Não senhor, nasceu Mirone, há-de morrer Mirone! Sabes bem que na vida só vencem
aqueles que na desgraça vêem uma oportunidade. Espera lá, isto parece conversa
de café... Precisamente! Encara isto como uma oportunidade. Pode trazer-te
muitos leitores. Sim, virão ao engano, mas algum há-de ficar.
Sendo assim, agora é oficial, abriu o Mirone.
Ainda sem header, quando tiver um
tempo livre faço uns rabiscos no paint ou no sketch pro do iPad, ou arranjo uma
imagem livre de direitos na internet, logo se vê. Textos, pois, deixa-me lá ver
o que é que se diz por aí...
Volto já. Volte também! (Ai que piroseira, eu nem acredito que escrevi isto!)
Nha, nha,
nha, nha, nha! Toma, toma, toma!
As fotografias que mais vejo pela net (Facebook, para sermos rigorosos) são, além
dos pés na areia mal se aproxima o Verão, as fotografias de comida. Ele é sushi,
é sardinha assada dos santos populares, o prato de caracóis acompanhado das
louras e frescas imperiais, o jarro da sangria e as bolas de berlim a babarem
creme, os cafés e os pastéis de nata... O que se queira.
Sobre isto, só tenho a dizer que acho horrível postar fotos de comida no
Facebook (não tenho Instagram, mas ouvi dizer que é o seu core-business). A não ser que, efectivamente, seja uma coisa
extraordinária, digna de ser partilhada com o mundo (ou que a pessoa em questão
tenha um verdadeiro gosto pela culinária e gastronomia), o que há de tão
maravilhoso num prato de sushi ou na mesa de sobremesas do aniversário da cria,
que careça, depois de devidamente “instagramizado” para parecer uma foto tirada
em mil novecentos e troca o passo, de publicação no mural do FB? Se queriam mostrar
àquela "amiga" lá do serviço, convidavam-na, não é?
Há uma frase que ouvia da minha mãe em criança e
que não me canso de repetir à minha filha: "Ser invejoso com a comida é das coisas mais
mesquinhas que existe". E, para mim, é tão mesquinho fazer queixinhas à
mãe "mas oh mãe, a fatia de bolo dela é maior que a minha", como fazer inveja e dizer
através das fotos do fb "Toma, toma, toma, estou a comer isto e tu
não!".
Pois é, cada um cai nas esparrelas que muito bem entende, e eu decidi que "então vamos lá ler o primeiro post da Mirone!" E vim cá dar, a 2013. Acho que entendi perfeitamente o que te moveu na altura, já que o que me moveu a mim ainda estou para entender. Aliás, foi mesmo só para deixar de ler aquela conversa "dos anónimos"... E entretanto fiquei p'rali, a falar sozinha. Olha Boa Sorte para o teu blogue! ;-)
ResponderEliminarKina, escreves muito bem e sobre o que queres, indiferente a modas. Enquanto assim for, o teu blog será sempre um bom blog, sabes bem, mesmo que tenhas a sensação de estar a falar sozinha (não falas, eu vou lá todos os dias, só não comento mais porque não me sinto à altura).
EliminarOlha, aqui que ninguém nos ouve (pois não? ninguém vem ler os comentários ao teu primeiro post, certo?): gostava muito de "escrever muito bem", juro-te que gostava, mas tenho noção das minhas limitações e, no fundo, não as lamento, são as minhas, é a minha circunstância. Satisfaz-me ter disso alguma consciência, ou achar que tenho, afinal nunca saberemos se estaremos ou não a delirar...
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