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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Finalmente o mar cuspiu-me

Há uns anos, muitos, talvez quinze, farta de ficar horas na areia a ver os outros divertirem-se, decidi sem qualquer experiência acompanhar Arlindo Orlando numa sessão de surf com os amigos.  Nunca tinha pegado numa prancha senão para o ajudar a tirar ou guardá-la no saco e amarrar às barras do tejadilho, mas eu até nadava bem, éramos um grupo grande, seis ou sete, ia ser engraçado. O mar estava grande, gelado e partido, ia levar uma tareia pela certa, isto se alguma vez conseguisse  passar a rebentação para entrar. Levei. Lembro-me de uma onda grande que se partiu nas minhas costas e me puxou para o fundo e para dentro. Senti o esticão da prancha a puxar-me a perna para um lado e a onda a puxar-me para o outro. Terei ficado debaixo de água menos de um minuto, mas pareceu-me uma eternidade. Senti a areia grossa arranhar-me a cara e quando percebi para que lado ficava a superfície poupei as minhas forças e deixei-me andar embrulhada à espera que a onda que me levou me devolvesse. Devolveu.

Andei desde segunda embrulhada numa onda gigante, a suster a respiração para não engolir a água fria e salgada, com a areia grossa a arranhar-me a cara. A onda devolveu-me hoje.

15 comentários:

  1. Sacode a areia, embrulha-te na toalha e quando o sabor do sal desaparecer, atira-te de cabeça. É como aquela história de cair do cavalo, tens de o voltar a montar.
    Abraço

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    1. Podes ter a certeza. Já está marcada a próxima "surfada".

      (A pessoa acha piada à ideia de tirar uns dias e nem pensa duas vezes, tira. O pior é que quando chega tem de fazer o trabalho de 10 dias em 4 e os prazos todos a estourar não se compadecem. Não é impossível, mas uma pessoa não vê a hora de ser cuspida dessa onda).

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  2. Já eu farto-me de rir é da Mirone ir lá à Picante atravessar-se à frente da Bailarina só para ser Primeiras! a explicar o vil ataque que esta sofreu lá na Pipoca. E não venha já contra-atacar que fui eu que disse aquilo, que não foi nada disso, também lá vi e também me ri de tão ridículo que foi, mas mais ridículo ainda é ir para a Picante armar-se em defensora dos fracos. Ai, ai, essa necessidade de protagonismo...

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    1. Tal e qual. A bailarina é fraca e eu sinto uma absoluta necessidade de os defender para alcançar o almejado protagonismo blogosférico.

      Deixe-se só fazer uma experiência, posso?
      O anónimo cheira a xixi!

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    2. Eu e a mirone temos uma longa relação que nos permite embrulhar em ondas e ser salvas do mar e ainda partilhar receitas e ementas semanais (sopeiras).
      Posso ser muita coisa, sendo que feia é uma das melhores de todas, mas não pertenço ao grupo dos fracos e nunca me darei ao trabalho de explicar isso por esta blogosfera. O que aconteceu na PMD e na Picante foi divertido, pelo menos para mim, porque me fez lembrar uma altura da minha vida onde chamarem-me feia, dentuças e trinca espinhas me perturbava. Hoje só me faz rir e divertir e sabe porquê? Porque quem me chamava esses nomes hoje cruza-se comigo gorda, descabelada, de fato de treino, nada cuidada enquanto eu sou uma mulher muito bem resolvida e com um nível de confiança em mim e no que alcancei perto dos 100%. Podia chegar ao pé dessas raparigas e fazer-lhe o mesmo que me fizeram? Podia! Mas a grande diferença é que quando estamos bem na vida, quando não somos invejosas, quando estamos bem na nossa pele, não precisamos de atacar ninguém com um argumento tão fraquinho!

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    3. Pá, Sandra, não era isso que tinhas de dizer, 'miga. Tinhas de lhe responder como os anónimos imaturos. Chamar-lhe nomes, ou outra resposta igualmente básica.
      Deixei na Picante uma teoria sobre os bloqueadores de conversa e quero ver se funciona. Dizer que és feia independentemente do assunto sobre o qual estejas a falar, seja economia, horticultura ou meteorologia, funciona, parece-me, como um bloqueador de conversa, mata ali toda e qualquer hipótese de manter um diálogo.
      Disse ao anónimo que cheirava a xixi (podia ter dito que era feio, ou que tinha uma pilinha pequena, sei lá há tanta resposta parva para dar). Se a teoria do bloqueador de conversa funcionar o diálogo acabou ali, tão cedo não o temos cá.

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    4. Mirone, li atentamente as tuas ideias e digo-te mais, fiquei a pensar usar isso naquelas reuniões em que a coisa não anda nem desanda. Ja me imagino num debate sobre fugas, perto das 18h30m e eu a pensar no jantar e debito um: olha lá és xixi e cheiras a chulé! Tenho cá para mim que nos vai salvar, a todos, de grandes secas!

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  3. Até ia escrever algo diferente... mas depois vejo que o mar está mesmo revolto para estes lados ...

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    1. 'Tá nada revolto. Por aqui está flat.

      É só um post sobre decisões e consequências. Quis divertir-me, e diverti, depois sujeitei-me às consequências. Tive dias de aperto, mas já passaram. Se não soubesse que passavam também não me metia nas coisas. Quando fui fazer surf sabia que nadava bem e tinha pulmão e remada para enfrentar um mar grande, de outra forma nunca o faria.
      Aquilo ali com o anónimo é a "prova provada" de que não quero cá anónimos embuchados, aqui têm sempre a porta aberta que eles acabam por sair pelo próprio pé, tal como entraram.

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  4. O sufoco de estar debaixo de água deve ser das piores coisas do mundo. Há só uma outra morte que me assusta tanto como essa: a de morrer queimada.

    Do mar tenho muito medo. Quando era muito miúda (dizem que tinha 4 anos, acho que teria de ter mais porque a minha memória da situação é bem vivida) pois que veio uma onda e me enrolou nela, lembro-me de estar completamente deitada no chão, a rebolar em direcção ao mar e não conseguir parar. A onda foi e veio 2 vezes sem que me conseguissem apanhar...

    A vez depois disso que me aventurei a nadar do mar era já adolescente e bastante boa a nadar em piscinas... fui com o meu pai mas estava cheia de medo.
    Depois de ultrapassar esse meu "trauma" ocorreu uma coisa parecida com o meu irmão como me tinha acontecido a mim tinha ele mais ou menos a mesma idade: ia a minha mãe e uma prima minha de mão dada com ele à beira-mar e vem uma onda que o apanhou e elas não aguentaram a força do mar. Era verão mas ainda estava o dia a nascer e o nadador-salvador ainda não tinha chegado ali... apanhei um susto de morte. A única das 3 que sabia nadar era eu... entrei atrás dele para o mar (a minha mãe também entrou mas ela não sabia nadar, nem sei como é que não ficou lá) mas foi o maior pânico que senti em toda a minha vida pois nunca pensei que o conseguisse encontrar e muito menos sair do mar com ele viva.
    Nunca mais nadei no mar depois disso. Ensinei o meu irmão a nadar, nadei com ele em piscina e no rio mas no mar sou incapaz de entrar e não gosto de praia. Agora com um filho faço o esforço e vou com ele para a praia também mas estar perto da rebentação é matar-me.

    Ps: A parte boa de nos enrolar-mos nas ondas (seja em seco, seja com água) na nossa vida é que usualmente chegamos sempre a um momento em que somos salvos - ou cuspidos.

    D.

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    1. Ai que aflição, no seu lugar também não sei se voltaria a nadar no mar.

      No meu caso nunca senti que corresse verdadeiramente perigo de vida, sabia que ia andar ali às cambalhotas mas que entretanto seria cuspida (além disso estava com outros nadadores experientes). O que não invalida que aquele tempo debaixo de água me parecesse uma eternidade.

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