Falam-se línguas (translate)

quarta-feira, 12 de março de 2014

Problemas do primeiro mundo não são problemas

Sofro muito. E de muitas coisas.
Nunca vos contei isto porque também nunca achei que fosse um contributo relevante para felicidade dos leitores em geral ou da humanidade em particular e ainda mais particular os dois leitores do sexo masculino que me seguem - ia arriscar três, mas não me parece o momento ou o lugar certo para excessos de confiança. Porém, e porque o critério da relevância para a felicidade dos leitores e da humanidade nunca foi determinante na escolha do conteúdo do blog - nem esse, nem outro - vou contar-vos agora um dos incontáveis motivos do meu sofrimento. Sofro muito, já vos disse?

Tenho um couro cabeludo sensível, circunstância que me causa um desconforto tremendo de cada vez que lavo o cabelo com um champô específico, muito comum e à venda em qualquer supermercado (mas que por acaso é o preferido do Mr Mirone). Primeiro vem a comichão, depois as borbulhinhas e, enquanto o diabo esfrega um olho, já eu tenho as unhas na guedelha e só descanso quando faço sangue. Acontece que o meu champô acabou e eu achei por bem usar o que Mr Mirone usa. Lavei uma vez, nada, lavei duas vezes, nada. Bom, ou os senhores mudaram a fórmula a isto ou estou curada. De maneira que andei a semana inteira a lavar o cabelo com o tal champô. Fatidicamente, ao contrário de tudo o que tinha cogitado, nem os senhores mudaram a fórmula do champô, nem eu fiquei curada, antes fiquei, como de costume, com uma comichão louca que invariavelmente tentei resolver à lei da unha e me deixou a cabeça cheia de feridas pequeninas.

Ontem, nos balneários da piscina, enquanto apertava os sapatos à Mironinho, oiço-a gritar muito espantada:
- Mamã, tens a cabeça cheias de coisinhas brancas, tantas!
Nesse momento senti mil olhos (mil não digo, mas uns vinte, que eram os olhos das mães e pais presentes) a fulminarem-me, como quem diz "Alerta, alerta, temos uma piolhosa no meio dos nossos filhos". E Mironinho continua:
- Não são coisinhas mamã, são cabelos! Depressa, vai ver ao espelho, o teu cabelo está a nascer prateado!
Menos mal, os pais ficam descansados "afinal não temos uma piolhosa com a cabeça cheia de lêndeas, temos só uma adepta do animal print - padrão zebra - no cabelo".
Pus-me a fazer contas de cabeça e percebi que efectivamente estava na altura de retocar a cor das raízes.

...

Estive até há pouco com tinta no cabelo, tinta essa que ardia como tudo nas feridas, a pensar que o Diogo não tinha posto creme hidratante suficiente, que iria ficar com a pele da testa toda manchada e quando me queixei que estava a arder ele respondeu a rir. "Tem de sofrer! Se quer ficar bonita, tem de sofrer!"

Então porque é que não fico?
Sofro muito, já vos disse?


Sem comentários:

Enviar um comentário