Gosto de comer bem. Gosto de produtos com qualidade, bem confeccionados, e dispenso "mariquices" que muitas vezes, em vez de resultado de rasgo e criatividade, não passam de fogo de vista, coisa de encher o olho e disfarçar a falta de qualidade. Faço os kilómetros que forem necessários por causa de um prato ou uma iguaria bem confeccionada. Mas, infelizmente, nem sempre posso comer produtos de excepcional qualidade e acabo, no dia-a-dia, por fazer uma refeição rápida num honesto e modesto restaurante de diárias. Apesar de, como é sabido, em restaurantes modestos e honestos se poderem comer as melhores refeições do mundo. Não é o caso específico deste, mas também não envergonha nenhuma cozinheira.
Por outro lado, tenho assim uma coisa de pele contra a loucura generalizada pelo "gourmet", agora tudo é gourmet - sobretudo o que não o é, restaurantes gourmet, padarias gourmet, lojas gourmet, gourmet para trás, gourmet para diante, embirro, faz-me comichão, que cegeueira tola. O termo caiu no ouvido das pessoas e virou moda. Depois, há aqueles que se consideram "gourmets" de primeira água, (quando, na verdade e na melhor das hipóteses, serão gourmands adeptos de uma boa "barretada") e fazem questão de o enfatizar em todas as ocasiões.
Hoje ao almoço, com a melhor amiga, aquela deste incidente, e cuja companhia muito me apraz, embora tenha o deslumbramento do "gourmet", testemunhei uma cena deliciosa no "modesto e honesto" restaurante de diárias onde costumo almoçar.
É legítimo que se queira saber o que se come, mas bombardear o empregado com perguntas sobre sobre a origem de todos os produtos que cada prato leva, o que é, o que não é, de onde é de onde não é, e depois decidir "como o mesmo que tu", impacienta quem está na mesma mesa e só quer pedir o prato do dia e comer tranquilamente, dentro do possível, porque se está com o tempo contado. A mim impacientou-me. Se calhar era só fome... Filetes de peixe-espada, então.
Chegada a hora da sobremesa, "Ai, apetece-me fruta, o que é que tem?". Melão, meloa, abacaxi, uvas, manga, banana, pêssego, maçã... "A maçã, essa que está na cesta é pêro bravo de esmolfe?". É o quê? "Bravo de esmolfe, um pêro muito saboroso, que só há cá". Só um momento. Oh Manela, o pêro é mofo? Ela diz que sim, que é pêro mofo. "Então pode ser".
Escolhi uvas.
Então e a maçã? Era golden e farinhenta, e deixou a minha amiga enxofrada, com aquilo a que se chama um momumental melão.
Eu, que até tenho bom coração (não há-de ser assim tão bom, senão não precisava de o dizer) só lhe pergunto, mas o que é que esperavas quando te responderam que sim, que é pêro mofo?
Sim, o pêro Bravo de Esmolfe é muito saboroso.
Eu também sou um apreciador de comida requintada.
ResponderEliminarUns carapaus pequenos, fritos bem esturricadinhos, conta como gourmet?
Não sei, eu gosto deles bem fritos, sequinhos, mas não ao ponto de ficarem esturricados. O esturricado confere-lhes um travo amargo que, nos carapaus fritos, não aprecio. Mas isso é só o meu gosto, o gosto de quem desenvolveu uma aversão aos "gourmetismos" da moda.
EliminarGosto de boa comida, seja ela requintada, seja ela a mais humilde. Há lá maior requinte que dar uma dentada numa "maminha" (perdoe-me, mas é assim que chamo aos papos que se formam aquando da cozedura) de um pão caseiro, cozido em forno de lenha, barrada com manteiga salgadinha?
EliminarBom: esturricados é uma expressão. O que quiz dizer é que depois de fritos, comem-se de uma ponta à outra, espinha incluída.
EliminarSem acompanhamento, ou pelo menos algo que mereça referência. Perto de uma vintena deles, com pão de mistura e uma fresquinha de Gazela.
Sou muito comedido e com pouco me contento. Guio-me pelos ditames da religião que diz: Deus nos dê muito e nos contente com pouco.
Gosto de si. E digo-lhe mais, mesmo sabendo que o sentimento não é mútuo, acho que que OCorvo seria uma belíssima companhia para para comer a tal vintena de carapuzinhos fritos, sem acompanhamento.
EliminarÓ Mirone! E por que não gostaria de si? Acredite que eu gosto de toda a gente, e de si com muita simpatia.
EliminarLá porque é um azelha a mudar um pneu, não é nenhum crime de lesa-majestade para o abominar.
Também acho que seria uma belíssima companhia, e, em calhando, quem sabe?
E como já sei da sua relutância a respeito das gorjetas, não vamos estragar a boa harmonia do congratulador repasto e o Mirone paga os carapaus e eu dou a gorjeta.
Lá em cima o que quis dizer era quis e não quiz.
Aselha, claro. Decididamente! Hoje não estou nos meus dias.
EliminarFico feliz então! E olhe que sei mudar pneus (daquela vez correu mal porque as porcas estavam "calcinadas") e quanto às gorjetas a minha relutância é mais uma questão de ignorância, nunca sei quanto devo dar.
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