É verdade leitores queridos. Sou infiel. Esta que vos escreve, esta a quem construíram um pequeno altar, esta que olham com admiração, esta a quem veneram, esta que elegeram como rolemodel para as vossas filhas, esta sou eu, infiel.
De nada serviu o exemplo irrepreensível da mãe, sempre fiel. Oh, como recordo os seus conselhos sensatos , "Mirone, filha, não te entregues ao primeiro que te aparecer, preserva-te. Olha que depois não há volta a dar. Certifica-te que ele sabe o que é melhor para ti, que quer o teu bem. Não vás atrás do que as amigas fazem. não faças só porque elas o fazem. Tu és especial. Respeita-te. Certifica-te que é mesmo um passo que queres dar e que não te vais arrepender da pessoa que escolheste". Retive-os na memória grande parte da minha vida e aos 21 anos, quando decidi fazer madeixas pela primeira vez, foi pela sua mão que conheci a melhor colorista de todos os tempos. Já me cortava o cabelo há vários anos e sentia que estava preparada para dar o passo seguinte. Foi como sempre sonhei. As madeixas ficaram muito subtis, com um aspecto muitíssimo natural. Durante mais de 10 anos só ela me mexia no cabelo. Durante 10 anos toda a gente acreditou que aquela era a cor de cabelo com que tinha nascido. Chegou porém o dia em que percebi que vivia numa prisão, sob a constante pressão de ocultar as inestéticas raízes. Falámos, conversámos muito. Reavaliámos a nossa relação e decidimos que precisava de mudar. Passámos uma esponja pelo assunto. Começámos do zero. Voltei ao tom natural. Experimentámos coisas novas. Umas, o alisamento marroquino, adorei, outras, extensões, odiei e não duraram 2 meses na minha cabeça. Era fiel à minha cabeleireira.
Mas a vida dá voltas e o trabalho acabou por nos separar.
Entrei então numa espiral de destruição. Deixei de ser criteriosa, qualquer hora de almoço, qualquer furo a meio da manhã era pretexto para me enfiar no primeiro salão de cabeleireiro que encontrasse. Estive com a Rita, com a Sandra, com a Teresa e com a Mafalda. Com o Jorge e com o Alexandre. Experimentei novos cortes, voltei às madeixas. Queria qualquer coisa diferente. Mas queria a mesma sensação, a de olhar para o espelho e ver que aquela era eu. Foram 5 anos de loucura, a viver para o agora, sem pensar no amanhã.
Este verão percebi que precisava de parar. Bati no fundo. O meu cabelo estava destruído. A medo voltei ao sítio onde fui feliz. Ela recebeu-me de braços abertos. Lambeu-me as feridas, que é como quem diz, fez-me uma máscara de hidratação profunda, devolveu ao meu a cor e o brilho de outrora. Ainda havia esperança para o meu cabelo. talvez não precisasse de cortar tanto como ela previa. Levaria tempo e muita dedicação. Jurei-lhe fidelidade. Mas foi sol de pouca dura. Nesse mesmo dia, cortei a minha própria franja. Continuo a fazer as máscaras que me recomendou, tento não abusar das placas. Estava a conseguir.
Hoje, contudo, percebi que não consigo manter a minha promessa.
As solicitações são mais que muitas e em todas as esquinas encontro um salão aberto, um cabeleireiro disposto a pintar e cortar o meu cabelo.
Hoje foi o Diogo, recém chegado ao salão de cabeleireiro aqui em baixo. Foi um corte simples, só as pontas, mas saí de lá a sentir-me uma diva. Amanhã, quando lavar e secar o cabelo em casa, quando tiver de ser eu a penteá-lo, vou sentir-me um trapo e desejar nunca ter saído das mãos da Paula. Fui fraca, não consegui...
Vá, podem insultar-me, eu mereço.