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terça-feira, 29 de setembro de 2015

Lucas 1:26

Anuncia-se, desde o primeiro dia em que pus os pés no prédio, como Anunciação Alves, "A vizinha do 3.ºC, a moradora mais antiga do prédio, pode quase dizer-se que sou a administradora oficiosa do condomínio". De cabelo muito curto, e que não pinta, esconde o novo corpo em formato de maçã que a menopausa lhe trouxe debaixo de roupas largas e desportivas, um hábito que lhe ficou desde os tempos em que dava aulas de educação física no liceu. Ao pescoço pendura os óculos de aviador e um porta chaves de fita azul turquesa. 
O estatuto que reclama de administradora oficiosa de condomínio confere-lhe, na sua imaginação, mais que o direito, o dever de uns dias antes do designado pela convocatória para a reunião de condomínio, bater a todas e cada uma das portas do prédio, "para tomar-lhe só um minutinho, é por causa dos 'outros assuntos de interesse do condomínio' que gostava de incluir na ordem de trabalhos da reunião". Lamentavelmente, em seu entender, nunca conseguiu fazer passar umas quantas alterações ao regulamento de condomínio. A primeira de todas, e que há oito anos tem vindo a ser chumbada, a de criar efectivamente o cargo de administrador oficioso de condomínio, o condómino mais antigo e que, independentemente da permilagem da sua fracção, não fosse dar-se o caso de ser um pequeno T1, teria voto de qualidade, ou quantidade, consoante a perspectiva, lhe atribuísse a permilagem equivalente a um andar. "Alguém que estivesse em permanência no prédio, tirando duas semanas em S. Pedro do Sul no início de Setembro, que assegurasse o cumprimento das regras, hoje posso ser eu, mas amanhã pode ser outro, ninguém está salvo de um dia fechar os olhos quando menos se espera". A segunda regra cuja proposta de introdução no regulamento apresenta paulatinamente e que, paulatinamente também, tem vindo a ser recusada, é uma que "bom, eu não queria dizer condicionar, ai de mim meter-me na maneira como as pessoas se governam, mas enfim, fazer depender, também não é fazer depender... Era mais podermos pronunciar-nos sobre quem podem ser os inquilinos dos apartamentos. Atenção, eu acho muito bem que se arrendem as casas vazias, mas já viu o que é entrar aqui qualquer pessoa? Um dia são estudantes, outro dia são o quê, brasileiras, pretos?".
Amanhã há reunião de condomínio. Previsivelmente, ontem foi dia de Anunciação. "Boa noite, vizinha, não lhe tomo muito tempo, é por causa da reunião de quarta-feira, só para propor que se introduzissem uns assuntos no ponto 3 da ordem de trabalhos e saber se a vizinha me acompanha. Sabia que o Dr Antunes foi transferido para o Funchal? Foi, já no início de setembro. Parece que o 4.º A está para arrendamento. Havia de se ver isso das regras de que falei no ano passado, não lhe parece?".

7 comentários:

  1. Ó Mirone, e aquela figurinha de parva lá no Tio, a tomar as dores da Palmier contra a Luna, a passar um autêntico atestado de menoridade à Palmier, como se a Palmier precisasse de si para se defender, hein?

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    1. Foi a figurinha que eu quis fazer, que o dono do blog entendeu por bem publicar e que a visada escolheu ignorar (pensava eu que eram as únicas pessoas com quem tal atitude poderia bulir, mas enganei-me, o anónimo também tem uma palavra a dizer). A tal figurinha, como lhe chama, está lá, à vista de todos, sujeita a apreciação e julgamento de quem se predispuser a tal. O anónimo já o fez. Outros o farão se assim entenderem. Boas ou más, aceito todas as críticas, venham da mais alta autoridade blogosférica (o que quer que isso seja), venham elas do mais anónimo dos anónimos.
      Volte sempre.

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  2. Com vizinhas assim mudava de prédio rápido :p

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    1. :DDD
      Tirando as vésperas das reuniões a convivência é pacífica (além disso, como a própria diz, qualquer pessoa pode fechar os olhos quando menos espera, para morrer só precisamos de estar vivos, não é?).

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  3. No meu prédio é um ele, conhecido por "dono do prédio"! Embora não bata às portas em véspera de reunião, segue quem entra no prédio, desconhecido, para ver quem vai visitar!

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    1. Mas isso não é o "trabalho" da porteira, saber quem entra e sai e a que horas? :DDD

      (esta senhora tem um T1, que se traduz numa permilagem ínfima num prédio com vinte e tal fracções, todas T3 (excepto 4 t1 e um t4), mas entende que, devido à "antiguidade" devia ter uma voz mais determinante nos destinos do condomínio. Eu também gostava de muita coisa que pura e simplesmente não vai acontecer.

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  4. No meu prédio é um ele, conhecido por "dono do prédio"! Embora não bata às portas em véspera de reunião, segue quem entra no prédio, desconhecido, para ver quem vai visitar!

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