quinta-feira, 30 de abril de 2015

Senhores do Ministério da Educação

demais decisores daquilo que devem ser os conteúdos pedagógicos dos programas escolares, professores e educadores:

A ecologia e defesa do ambiente são assuntos que me são caros, garanto-vos que são, e fico verdadeiramente feliz por ver que os programas escolares os contemplam. 
Mas, quando falarem da importância da reciclagem, se puderem. expliquem também aos meninos (em especial a uma certa criança de 5 anos, uma jóia de menina, meiguinha e dócil, mas muito teimosinha), que a separação de lixo para tratamento e futura transformação ou reutilização por parte de profissionais é um contribuito inestimável para quem se preocupa com o planeta em que vive, que não precisam de fazer do seu quarto armazém de tudo o que é garrafa de plástico, rolo de papel higiénico ou caixa de cereais "para fazermos um 'purjeto' de reciclagem, mamã".

Agradecida.


Depois queixam-se...

Vá lá, senhoras, deixem-se disso, parecem galinhas tontas. Essa notícia que teimam em partilhar no Facebook sobre a retirada do Ben-u-ron do mercado já é de 2009 e referia-se a lotes muito específicos cuja cor apresentava alterações.
Não vos vejo a espalhar tão freneticamente o esclarecimento do Infarmed.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Querem ver Mr Mirone a ferver?

Assim como se o seu clube tivesse perdido uma final importante, por culpa, também do árbitro, mas sobretudo da calonice dos jogadores?
Ponham-no a ver as notícias de hoje, BES, entrevista ao advogado do preso 44 e Grande Reportagem sobre a TAP.

Por mim, decretava já o dia mundial da catarata ocular

Há pouco, enquanto apitava ferozmente, na vã tentativa de chamar o dono do carro que estacionou em segunda fila e me impedia de sair, sou abordada pelo avô de um colega que gentilmente bate no vidro do carro.
- Tem toda a razão, menina. Esta gente não respeita ninguém, deixa o carro de qualquer maneira sem se lembrarem que quem precisa de sair está com o tempo contado.
- Pois, não é o caso, vou só buscar a minha filha à escola, mas podia estar com pressa, sim senhor.
- Uma carinha tão jovem e já tem uma filha em idade escolar?
- Ahahahah, quase podia era ter uma filha em idade de sair da escola. Então eu sou da idade Catarina, a sua neta, fomos colegas de escola.
- Ah, realmente pareceu-me estar a conhecê-la, mas digo-lhe já que não parece ter mais de 20 anos.



Uma pessoa sabe que é mentira, mas sabe bem ouvir.

Att. Fada dos Dentes




Exm.ª Senhora,



Como é do V/ conhecimento, o grão de milho envolvido num pedaço papel higiénico que por duas noites consecutivas tem sido deixado debaixo da almofada da nossa filha, ainda que simule bem um dente molar, não passa de uma experiência infantil destinada a afastar eventuais dúvidas relativamente à existência de V. Ex.ª com alguma brevidade. 
Na ausência de dentes a abanar (notando-se já, contudo, o afastamento dos incisivos que antecede a sua queda) e perante a promessa feita à bisavó de que lhe ofereceria o primeiro dente de leite que caísse, entendeu a criança por bem acelerar o eventual procedimento de visitação, pondo em prática, por sua iniciativa e sem consulta prévia aos progenitores, tão suis generis plano.

Em conferência de pais não foi possível chegar a consenso quanto às medidas a tomar por parte dos encarregados de educação da menor. Se o dente deve ser trocado por uma moeda, se se deve revelar a verdadeira identidade da fada desfazendo de vez as dúvidas que a atormentam, se repreender a criança pela tentativa de fraude, se incentivar a criatividade e engenho com que põe em prática o método experimental.

Assim sendo, e porque o assunto será do interesse directo de V. Ex.ª, aguardamos instruções precisas quanto à posição que devemos adoptar.

Gratos pela atenção dispensada, subscrevemo-nos com elevada estima e consideração

de V. Ex.ª
Atentamente



 

És muito esquisitinha, Mirone, isso é tudo igual!

Olhe que não, olhe que não.

À esquerda, cereais de marca "branca" e à direita estão os cereais que compro.



Viver para contá-los

Não se lembrava ao certo quando começou o seu gosto pela ordem, certeza e previsibilidade. Lembra-se de muito pequena, ainda sem saber muito bem, contar os azulejos da cozinha, as quadrículas da janela, os botões do fogão, os puxadores dos armários, as colheradas de sopa que a mãe desesperava por fazer com que comesse. Sempre por aquela ordem, de cima para baixo, da esquerda para a direita. Imóvel, de boca aberta e olhos fixos, um, dois, três, quatro, cinco, sete, treze, onze, nove , dezoito, dez, dois, três, quatro.
Aos três anos já contava correctamente até cem, quanto bastava para saber quantos eram os azulejos, as quadrículas das janelas, os botões do fogão, os puxadores dos armários, os blocos coloridos que separava por cores e tamanhos e alinhava aos pés da cama.
Na escola escondia com excelentes notas a absoluta ineptidão no plano das relações sociais. Incomodava-a a gritaria e o desalinho das brincadeiras no recreio. Sentava-se num canto e contava os meninos e as barras do gradeamento. Preferia caminhar a andar de autocarro, sabia de cor quantos passos separavam o portão da escola da porta do seu quarto, quantas portas, quantos toldos de loja, quantas passadeiras, quantos semáforos, quantos sinais de trânsito, quantas floreiras, quantas papeleiras, quantos cruzamentos, quantas passadeiras e em cada uma delas quantas listas brancas. Ainda assim contava-as, todos os dias, primeiro na ida e depois no regresso. No quarto contava os móveis, os livros, neles as palavras e as letras, os lápis, as tábuas do soalho. Ao jantar continuava a contar os azulejos, as quadrículas da janela, os botões do fogão, os puxadores dos armários, as colheradas de sopa, agora também as calorias. Contava minutos, contava horas, contava dias, contava semanas, contava meses, fazia questão de manter um registo mental do calendário, 13 de Fevereiro, o décimo terceiro dia do segundo mês,  a sétima sexta-feira e o quadragésimo quarto dia do ano. 
Um dia perguntaram-lhe se não se cansava de contar tudo. Cansava. Muito. 
Nesse dia decidiu que não mais contaria o que quer que fosse na sua vida. Nesse dia deixou de contar. Viveu 687374583 segundos.


Tinha isto em mente desde o ano passado

mas quando me lembrei, já estávamos em Maio. Este ano quase deixava passar o mês de Abril outra vez.


domingo, 26 de abril de 2015

Adivinho-lhe um futuro auspicioso a inventar nomes de pratos em restaurantes da moda

- Mãe, o jantar pode ser croquetes de bife?
- Ó Mironinho, eu nunca fiz croquetes, nem sei como é que se fazem. Pede outra coisa.
- Já fizeste sim, muito bons. Aquilo que é um bife que à volta tem uma casca crocante como os croquetes.











Panados, a minha filha quer panados para o jantar.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Quem vai de Coimbra para a Figueira

... encontra, a meio caminho, uma das sete maravilhas da gastronomia portuguesa. 
Os pastéis de Tentúgal, Mirone? Voluptuoso doce de gemas e calda açúcar onde ferveu um pau de canela, a que se adiciona manteiga que lhe confere a textura aveludada, envolto em finas camadas de massa laboriosamente estendida por pasteleiras descalças no chão amplo de uma sala, para que atinja a e espessura da folha de ouro, que depois vão ao forno a dourar e na hora de servir se polvilham com açúcar em pó?

Não. 

O arroz carolino de Ereira,  Montemor-o-Velho. 


Algures no porta bagagens de um carro viaja agora um saco de 5kg dele.








Adivinha

Há as mães que quando levam os filhos ao supermercado evitam o corredor dos doces para não ter de ouvir pedinchices.
Depois há as mães que evitam o corredor "ménage".

- Mãe, podemos levar papel higiénico cor-de-rosa? Podemos? Podemos? Vá lá, por favor. Levas branco para ti e cor-de-rosa para mim, vá lá.

Qual delas sou eu?

Espremer mamas é que não!

Atrás de mim na fila do supermercado:
- 'Tou? ... Sim, vim agora de lá, passei só pelo supermercado para comprar pão e água. ... 'Tá fino, mas ainda está sentado. ... Sim, a médica também me disse que ainda é cedo. Mas olha, sempre trouxe a carta para a médica de família. ... Sim, fiz como me disseste, disse que já me custava dobrar, e conduzir. E a médica assim "então mas já quer ir para casa?" e eu, 'ah se a sôtora achar, não sei', assim para não dar muita bandeira, 'tás a ver? ... Claro! Achas que nasci ontem? De resto está tudo bem, para a semana já vou à médica de família para despachar isto ainda antes do fim de semana comprido. ... Depois falamos. ... Beijinhos também para vocês.


quinta-feira, 23 de abril de 2015

Então, Mirone, o que se te oferece dizer sobre o dia mundial do livro?

Apenas que há uns tempos vi no blog de uma popular decoradora umas dicas sobre decoração (curiosamente) com livros. Dizia a senhora que é uma forma muito eficaz e barata de decorar um espaço ao qual não sabemos o que fazer. Que quem não tem muitos livros, pode optar por os comprar em feiras de velharias, daqueles que se vendem ao kilo. Outra opção era ordenar os livros que temos por cores de lombadas. É possível criar efeitos degradé que dão um ar muito jovem e fresco à sala.

De maneira que é isto, vou pegar num livro enquanto espero empolgada pelos post dos bloggers influentes sobre os livros que marcaram as suas vidas.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Começo a ficar preocupada

A sério que não deu pingolim a mais ninguém? Estou farta de ver lulas, chocos, estomacoisos e mamutes. Até coral, já vi mais que uma vez.
Pior, fui saber mais sobre mim e descobri que no Brasil as crianças chamam pingolim ao seu "pingolim".




Se quiserem saber de mim vou estar ali num cantinho, enrolada (por coincidência, ou não, é a posição de defesa do pingolim) na posição fetal e a chorar baixinho.




Adenda (só dei conta já depois de publicar): Ai "ca" burra! Googlei mal, o animal é pangolim. Afinal não estou a na posição fetal a chorar, estou a rir da minha idiotice. ainda assim, pangolins, se estiverem a ler-me, uma manifestação de solidariedade será sempre bem vinda.


Um pangolim, Google?

Tanto bichinho que eu podia ser... Um colibri, um gatinho fofinho, um cachorrinho enérgico, não?
Tinha de ser mesmo um pangolim? Humpf!
Tive de ir googlar...





A outra hipótese era ser choco...

Os problemas desta mulher

Esquecer-se com frequência do lugar onde estacionou o carro.

Depois deste episódio triste, hoje voltei ao centro comercial durante o almoço.
Aperto a chave, click- click, e nada, a porta não abre, as luzes não ligam. 
Aperto outra vez. E mais outra, a apontar para dentro do carro. Nada. "Terá a pilha fraca? Olha, abro manualmente."
Meto a chave à porta, rodo para a esquerda, rodo para a a direita. "Ó diabo, nem assim abre? Querem ver que aquela conversa do Mr Mirone, para ter cuidado com as chaves que às vezes desprogramam é mesmo verdade? Nah, deve ser treta, deixa lá tentar, com um bocadinho mais de força". Nada. 
"Quanta força aguentará uma chave de carro?". Nada, não abre. "Abre-te Sésamo!". Fechado. "Abre-te Seat?". "Abracadabra? Supercalifragilisticaexpialidoso?" Surdo de todo, o carro não obedece.
"Espera lá, um maço de tabaco? O que está a fazer um maço de tabaco no meu carro? E a cadeirinha da Mironinho? Hummm...deixa cá ver a matrícula..."


Agora diz lá, quantos lugares ao lado estava o teu carro, Mirone?
Um andar abaixo.

Amanhã venho de terylene da cabeça aos pés

Ainda não são onze e meia da manhã e já vi calças de pijama menos pingonas que as minhas. Raios partam as fibras 100% naturais. Vista de trás parece que uso fralda e na zona dos joelhos cabe meia meloa.

Post em directo

Agora na RTP 2, nesta parte, precisamente.




segunda-feira, 20 de abril de 2015

Olha lá, Mirone, e animais de estimação?

Não tenho, bem sabem. Mas em casa do meu pai a ideia de arranjar uma ovelhinha mantém-se firme. Entretanto "ressuscitaram-se" dois patinhos recém-nascidos que quase se afogaram na taça de água. No meio da aflição o meu pai ainda sugeriu que a minha mãe arranjasse uma grelha e os pusesse em cima da torradeira para aquecerem, depois dentro do forno ligado no mínimo, aberto, mas acabaram mergulhá-los só com a cabeça de fora em água morna durante uns minutos, até aquecerem, e enfiá-los numa meia de lã. Eu teria sugerido um secador de cabelo. Passaram a noite dentro de uma caixa de morangos na cozinha e no dia seguinte regressaram à capoeira.

Por cá, comecei o dia a com  a Mironinho a chagar-me o juízo, porque tínhamos de ir procurar o coelhinho que tinha fugido.
- Mas qual coelhinho? Nós não temos nenhum coelhinho.
- Aquele pequenino castanho, que encontrámos à beira da estrada e trouxemos para casa. E estava outro castanhinho e branco no ramo da árvore. Não te lembras, mamã? Aquele que dormia na casa de banho dentro de um tupperware. Vamos, deve ter ido para a cozinha procurar comida. Levanta-te!
- Ó filha, sonhaste, nós nunca tivemos um coelhinho.
- Não sonhei, tu é que não te lembras! Levanta-te, vamos procurá-lo.

Bendito regulamento de condomínio.

Momento de introspecção

Aquele em que uso o elevador com um homem com as sobrancelhas mais arranjadas que as minhas.













(não, não sou o Groucho Marx nem nada que se pareça)

domingo, 19 de abril de 2015

Aderi às hashtags

#atéaoverãoficoXL

XL? Não queres dizer Gisele?
Não, é XL mesmo.

sábado, 18 de abril de 2015

"Traz-me no teu coração a dizer que te amo"

Bebia-lhe cada palavra, cada gesto, com o encantamento infantil de quem tem todo o mundo para descobrir. Nunca percebeu porque a escolhera ele, de entre todas as outras mulheres. Não era a mais bonita nem a mais elegante ou sofisticada, não era a mais vivida ou viajada, não era, definitivamente, a mais culta ou erudita. E nunca quis perceber. Do pouco que sabia e muito que não sabia, de tudo o que nem sabia que podia saber sobre o mundo e as pessoas que nele vivem, guardava uma única certeza, no amor não se percebe, quer-se e crê-se.
Teresa queria e cria que Adelino, o seu "Aladino de pele tisnada e cabelos negros", como secretamente lhe chamava, a escolheu porque a amava.
De Adelino sabia o que precisava. Não sabia de onde era, "sou um cidadão do mundo, as estrelas são o meu telhado", dizia enquanto deixava escapar que em tempos, ainda antes da herança dos tios que lhe permitiu abandonar tudo para se dedicar ao voluntariado numa instituição que criou para o efeito, tinha sido médico com carreira promissora, o melhor na sua área, cirurgião do mitocôndrio, único na Península Ibérica. "Não te quero aborrecer com pormenores, Teresa, o mitocôndrio é um órgão complexo, situado na base do crânio, a par dos rins, o único no corpo humano capaz de se auto-regenerar. Falemos de ti!". Teresa respirava de alívio, não queria que o seu Aladino percebesse ela que não sabia o que era o mitocôndrio. Preferia mil vezes que o Aladino a levasse a viajar  até às aldeias do Sri Lanka no tapete mágico de palavras que ele lhe estendia. "Havias de gostar do Sri Lanka, Teresa. África enfeitiça-nos. Depois de pisaress as areias encarnadas do Fuji e de beberes as águas mornas do lago Bramaputra ficas preso àquele lugar, pertences-lhe. É duro ser-se voluntário. Olha as minhas mãos, grossas, ásperas, calejadas. As mesmas que vacinaram órfãos, e operaram viúvas, erigiram casas, escolas e hospitais.".
Encantava-a a voz melodiosa e o desprendimento do seu Aladino. Nunca andava com dinheiro, preferia caminhar a dar uso aos carros luxuosos que possuia. O voluntariado ensinara-o a viver com pouco. "Não Teresa, não é pouco. Se é o essencial, se é quanto basta, é muito, é tudo!". Ah, a pureza, o seu Aladino era verdadeiramente puro.

Teresa saiu mais cedo do trabalho. Queria ir para casa depressa, esperar o seu Aladino. Convidou-o para jantar, queria contar-lhe que aquele tinha sido o seu último dia de trabalho, que se tinha despedido, que queria ir com ele construir hospitais e casas nas areias encarnadas do Fuji. Sentada no banco do autocarro, observava a cidade com atenção, iria ter saudades. Em tudo via beleza, até no velho estaleiro camarário, onde dois homens descarregavam materiais de construção. Os olhos prenderam-se no mais novo, moreno, de pele tisnada e cabelos negros, pensou, "pele tisnada e olhos negros" como o seu Aladino. O seu Aladino! Saiu na paragem mais próxima e correu para trás. Do lado de fora do estaleiro gritou, chamou-o, Aladino! Adelino! O moreno olhou-a e afastou-se indiferente. Minutos depois, o telemóvel anunciava uma mensagem escrita. 
"Parti numa missão e não sei quando volto. 
Traz-me no teu coração a dizer que te amo. 
Adelino"
Teresa soube então que Adelino, o seu Aladino, com as mesmas palavras mágicas que lhe estendia o tapete, lho puxou para sempre.

Dias mais tarde voltou a vê-lo, no mesmo café onde se tinham conhecido, acompanhado de uma jovem que o contemplava embevecida.
"Vou aborrecer-te, Isabel. O mitocôndrio é um órgão complexo situado na base do crânio, a par dos rins o único capaz de se autoregenerar. Falemos de ti."

Então, Mirone, e esse fim de semana a dois, como está a correr?

Depois de deixarmos a Mironinho com os avós, pensámos que sim, que tínhamos um fim de semana inteiro pela frente, sem horários, sem compromissos, a fazer coisas só de adultos, basicamente a não fazer nada. Passámos no quiosque, comprámos os jornais e ala para a praia para beber um café e cheirar a maresia. Almoçávamos por ali, um peixe fresco grelhado e, fazendo de conta que somos saudáveis, até nos aventurávamos numa caminhada. Não está muito calor, mas não chovendo, já está muito bom. Oh, happy days!
Chegados à praia, olá?! Estacionamento cheio? Não é costume nesta altura do ano. Os X e Q 5 branquinhos e de jantes especiais não enganavam, o autocolante era desnecessário, estava a decorrer ali perto um evento daquelas coisas para perder peso agora.
- Não te preocupes, deve ser no hotel. Eles fecham-se lá o fim de semana todo naquelas lavagens cerebrais deles. Deixamos o carro lá ao fundo que é da maneira que fazemos uma caminhada. 
Assim fizemos. Estacionado o carro onde o Judas perdeu as botas, caminhámos até ao apoio de praia, pedimos os café e abrimos os jornais. Ah... isto é que é vida!
Dois minutos depois "abrem as comportas". Em pequenos grupos, ainda assim barulhentos, começam a chegar, ocupam todas as mesas, tomam a esplanada de assalto. Elas de saltos vertiginosos, skinny jeans (diz que os produtos emagrecem mesmo), madeixas louras, unhas neon e base terracota. Eles de fato 'moderno', crachá na lapela, sapatos bicudos ou ténis vistosos e cabelo lambido. Todos de smart-phone ou tablet na mão.
- Deve ser só um quarto de hora, meia horita, é o tempo do coffe break, daqui a nada isto já fica sossegado outra vez, vais ver.
Não ficou. Quanto tempo é suposto durar um coffe break desses eventos? Desistimos. 
- Anda, vamos procurar outra praia.
Pois sim. Sabem que praia encontrámos, sabem? O nosso sofá, uma salada e o resto do empadão de ontem, a acompanhar uma neura de todo o tamanho. Quando chegámos ao carro tínhamos uma multa de estacionamento, duas rodas em cima do passeio.

Que tal? Bem romântico, não?

É, não é?

O low cost é o novo gourmet, não é?

Depois das companhias aéreas, as ópticas, os gabinetes dentários, as clínicas de estética, os restaurantes, os combustíveis... em qualquer buraco nasce um negócio low cost.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Uma questão de estilo

À hora do costume enchi a banheira e e comecei a despi-la para lhe dar banho. Ela começa a bambolear-se e a atirar a roupa para o chão de forma displicente, numa espécie de sessão de strip-tease mal ajambrado*.
- Então Mironinho, que é lá isso?
- É despir com estilo.
- É o quê?
- Despir com estilo. Para tudo na vida há um estilo.


....













Agora está ali de molho, enquanto o meu coração de mãe recupera.


*Aprendi com a Lady Kina.

Nem sei o que vos diga

Em nove erros* cometidos na hora do banho apontados pela revista científica (brincadeirinha, hein?) Huffington Post, cometo oito. Safo-me naquilo da esponja.




* Refastelar-me em água quase a ferver, ficar meia hora debaixo do chuveiro, usar gel de banho anti-bacteriano, ensaboar o corpo todo, demorar muito tempo para colocar hidratante, não substituir a esponja do banho, comprar produtos naturais, lavar o cabelo com champô todos os dias, usar sempre o mesmo champô.

Sabes de que é que eu gostava mesmo, mamã?

De ter um colar com um chocalhinho dourado, como os gatos.















Porque é que não me pede, sei lá, uns ténis com luzinhas, como as outras miúdas?

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Feijoada de borrego?

Meh.




Já comi pior. Fica assim uma espécie de feijoada de lebre, adaptada ao ruminante.

"Almofadinhas"

Branca, a mais nova e única rapariga de uma fratria de cinco, cresceu no seio de uma abastada família micaelense, habituada a mimos, nas mais das vezes sob a forma de guloseimas, numa época em que as crianças se queriam com refegos nas pernas e sorriso nos lábios. Assim se fez, roliça, vivaça e brincalhona. Ainda nova quis estudar História em Lisboa, longe de um casamento arranjado e dos negócios do chá que a família lhe reservara. Um acidente de automóvel atirou-a durante meses para uma cama de hospital, incontáveis cirurgias e sessões de fisioterapia. Do acidente ficaram apenas as cicatrizes na pele, uma prótese na anca e um ligeiro claudicar. A alegria de viver, essa, multiplicou-se e depressa a adolescente roliça e brincalhona e fez mulher encantadora, alcançando a proeza de ser companhia desejada e disputada por homens e mulheres. Nunca as formas generosas ou o claudicar teimoso foram impedimento para o que quer que fosse, nem mesmo para organizar uma demonstração de danças de salão  a apresentar na festa de aniversário do colégio onde começou entretanto a dar aulas. Desenhou fatos, ensaiou coreografias com os colegas, pôs de pé um espectáculo como nunca antes se tinha visto por ali. Contratada a modista que havia de costurar os fatos, Branca tinha uma única exigência, da qual não abria mão por forma alguma. 
- Quero que costure e cosa uns bolsos ao forro do meu vestido.
- Mas isso vai dar-lhe um volume desnecessário às ancas... 
- Melhor ainda! Perfeito.
- A menina é que sabe, escolha o feitio que assim o costurarei. Mas que mal pergunte, para que quer a menina bolsos no forro do vestido se lhe vão aumentar as ancas?
- Ora, para encher com almofadinhas. 
- Almofadinhas?
- Com certeza, almofadinhas. Iguais às que se usam como chumaços. Se alguém tiver a leviandade de comentar a largura da minha anca, farei questão de lhes mostrar que tudo não passa de uma ilusão, que na verdade são só almofadas que trago no forro. E se por algum infortúnio me vacilar a perna enquanto danço, posso cair que não me magoo.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Breve "homenagem" (cerca de três minutos) aos homens condescendentes

'Uma Arlinda mulher'


Te encontrei
Toda remelenta e estronchada num bar
Entregue às bebida
Te cortei os cabelos do suvaco e as unhas do pé
Te chamei de querida
Te ensinei todos os auto-reverse da vida
E o movimento de translação que faz a Terra girar
Te falei que era importante competir
Mas te mato de pancada se você não ganhar
Você foi
Agora a coisa mais importante
Que já me aconteceu neste momento
Em toda a minha vida
Um paradoxo do pretérito imperfeito
Complexo com a Teoria da Relatividade
Num momento crucial
Um sábio soube saber que o sabiá sabia assobiar
E quem amafagafar os mafagafinhos
Bom amafagafigador será
Te falei
Que o pediatra é o doutor responsável pela saúde dos pé
O 'zoísta' cuida dos zóio e o oculista
Deus me livre, nunca vão mexer no meu
Pois pra mim
Você é uma besta mitológica
Com cabelo pixaim parecida com a Medusa
Eu disse isso
Pra rimar com a soma dos quadrados dos catetos
Que é igual à porra da hipotenusa
Você foi
Agora a coisa mais importante
Que já me aconteceu neste momento
Até hoje em toda a minha vida
Um paradoxo do pretérito imperfeito
Complexo com a Teoria da Relatividade
Num momento crucial
Um sábio soube saber que o sabiá sabia assobiar
E quem amafagafar os mafagafinhos
Bom amafagafigador será
Eu fundei
A Associação Internacional
De Proteção às Borboletas do Afeganistão
Te provei por B mais C
Que as meninas dos teus olhos
Não têm menstruação
Dar um prato de trigo pra dois tigres
E ver os bichos brigando é legal que só (miau)
Pois nos 'tira e põe, deixa ficar' da vida
Serei sempre seu escravo-de-Jó
Vamos para o fim?
Logo agora que você estava quase
Entendendo o que eu estou falando (falando)
A canção está acabando e o Creuzebeck
Está abaixando ali o volume (volume)
E você não entende nada mesmo porque
Quando você estiver em sua casa nesse
Momento a música vai tá baixinha (baixinha)
E você não vai entender nada mesmo
Porque não sei por que eu tô falando
Esse monte de besteira aqui já que estou
Porra! Vamo parar com esse papo chato (vamo lá)
Eu já não estou aguentando mais
Está doendo minha garganta
Eu tenho que fazer ali um gargarejo com vinagre
Soltei um p***o aqui dentro (c******!)
Está fedido o ambiente, meus dedos estão dormentes
Pelo amor de Deus, parem com esta porra!

Daqui

Não é que não goste do Outono

Gosto muito, diga-se de passagem, mas gostava de ter tido Verão antes.


(tenho o carro longe, não trouxe chapéu e está a chover)

E agora uma coisa que não vos interessa nada, mas fico feliz por partilhar

Escrevo-vos do consultório do dentista, enquanto espero que a impressora desencrave e debite o recibo, acabada de sair da visita anual de rotina.

ZERO CÁRIES!

Não fosse a sala de espera estar compostinha e eu ser uma envergonhada de primeira, espetava aqui uma foto das minhas dentolas "cavity free" e com o polegar levantado.

Já vos contei aquela vez em que me lavaram o cabelo com vinagre?

Foi isso.
Eu de olhos fechados na calha, a sentir um cheiro intenso a vinagre e a cabeleireira a dizer "agora vou usar um produto 'secreto' que faz maravilhas pelo brilho do seu cabelo". Abri os olhos imediatamente e lá estava ele, o vinagre.
De framboesa? Maçã? Balsâmico?
Não. Vinagre de vinho branco. Cristal.





(quis muito acreditar que o cabelo ficou mais brilhante, mas na verdade não senti diferença nenhuma)

terça-feira, 14 de abril de 2015

Não é que eu perceba muito

Entretanto, de tanto ouvir a Mironinho contar que na sua escola aceitam tampas de plástico para "arranjar uma cadeira de rodas" para uma menina, lá conseguimos encher um garrafão. Os avós e tios juntaram mais umas quantas e demos por nós com três garrafões de tampinhas na despensa.
- Ó Mironinho, um destes dias temos de levar estas tampinhas para a tua escola, para ver se a menina sempre consegue ter a cadeira de rodas.
- Mamã, o que é que vão fazer a tantas tampas?
- Então, levam a uma fábrica que recicla tampinhas e vendem-nas. O dinheiro vai dar para comprar uma cadeira de rodas.
- Ah, ainda bem, é uma cadeira a sério! Eu não queria dizer nada, porque não percebo muito de cadeiras de rodas, mas bem me pareceu que uma cadeira feita de tampinhas não devia ser muito boa.

Já parava com esta minha mania

De atirar o barco à parede.









Está bem assim, anónima do Gato Mickey?
Tirei a foto do google.

Porque não fechas a tua conta no Facebook, Mirone?

Suspeito que também seja fantástico para a roncopatia dos maridos. Se Mr. Mirone me aparecesse na cama com "peúgas de escabeche" o mais certo era pô-lo a dormir na varanda, onde eu não o ouvisse ou cheirasse.


Ou talvez deva ser ainda mais criteriosa a aceitar pedidos de amizade.

 









segunda-feira, 13 de abril de 2015

Quatro horas!

Foram precisas quatro horas para uma alma caridosa ter a bondade de me alertar para um erro grosseiro no meu post? Se isto fosse uma experiência social, daquelas com mendigos ou sem-abrigo o mais certo era passarem a noite ao frio.
E escusam de vir com desculpas, que podiam muito bem tê-lo feito através de e-mail.
Vá, agora vão dormir! Que não vos pese a consciência.

Como é, minha boa gente?

Já todos viram pela enésima vez a cena da sequência de beijos do Cinema Paradiso? para quem ainda não viu só tem de esperar por um telejornal ou navegar pela net.

Gasolineiros de serviço, aproximem-se, s'il vous plait

A partir da próxima quinta-feira os postos de abastecimento de combustível vão ser obrigados a disponibilizar combustíveis low-cost.
Não vi nenhum posto de combustíveis fazer obras, por exemplo, a construir depósitos novos para esses combustíveis low-cost.
Parto do princípio, então, que os combustíveis normais passarão a ser vendidos como low-cost e os aditivados continuarão a ser vendidos como aditivados (por exemplo na Galp, posso escolher entre gasóleo e gasóleo G-force, ligeiramente mais caro, continuarei a abastecer-me de um ou outro, sendo que o primeiro será low-cost)? Ou será que vai haver uma terceira categoria de combustível, o low-cost? Mas, lá está, não vi obras para criar um terceiro depósito. 
Por outro lado, sabemos (?) que apesar de mais baixos, os preços dos combustíveis low-cost não serão os mesmos dos combustíveis low-cost vendidos pelos hipermercados, ou seja, serão baixos, mas não tão baixos.
Não era muito mais simples e honesto impor uma descida de preços dos combustíveis não aditivados, tout court, sem brincar aos nomes "pomposos"? Isto de chamar low-cost mas não tão low quanto isso, ainda assim low, é para quê mesmo?




Adenda: na Galp o gasóleo G force é o normal e o aditivado chama-se hi-energy, portanto queiram fazer as devidas adaptações, por favor.

No meu país

...onde o Estado quer saber tudo se houver dinheiro envolvido e haja uma oportunidade de gerar receita fiscal, no prazo de 24 horas um pai mata um bebé de seis meses à facada e um padrasto espanca uma menina de 2 anos até à morte (o irmão ficou internado para observação). Nestes dias apetece-me ceder à tentação de dizer que no meu país o Estado só quer saber de quem tem dinheiro.

Porque não compro atum em lata em promoção?

Porque acho indecente que juntem duas latas com letras garrafais a dizer "- 50%" e depois, em letras mínimas, "na segunda embalagem".

E porque acho que as outras pessoas não precisam de saber o que foi o meu almoço.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Oh pah!

Acabei de ouvir um repórter da SIC Notícias a pronunciar Rem Koolhaas em português, Réme Côlhas. Arquitecto Réme Côlhas.

Ainda aquilo do gatinho e da vaidade

Devia ter-me servido de emenda aquela outra vez em que caprichei no esfumado e, já a entrar no carro para irmos jantar, Mr Mirone me pediu que fechasse os olhos. "Oh que romântico... saiu-me cá uma caixinha de surpresas".
- Bateste nalgum sítio? Tens o olho negro ou isso aí é maquilhagem?

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Tenho uma dúvida

Os audímetros também registam os visionamentos diferidos de um determinado programa?

A vaidade, é sempre a vaidade que deita tudo a perder

Sabem como é fazer um bom trabalho, uma coisa como deve ser, "No ponto, perfeito, não mexe mais"? Um trabalho que nos enche de orgulho, "Sim senhor, está aqui uma coisa como deve ser!"? É que ficou mesmo bem, caramba!
E sentem-se tomados por um orgulho que cresce, que vos dá confiança? E de repente já não é orgulho, é vaidade? E essa vaidade grita-vos "só mais um pouco, és a maior, vais conseguir"? E começamos a acreditar que sim, que vamos, e que o que antes considerávamos perfeito afinal pode ser melhorado? E num impulso  atiramo-nos de cabeça? E estragamos o trabalho que efectivamente estava muito bom, e em vez de um serviço bonito acabamos com um "bonito serviço"?

Assim sou eu quando me lembro de fazer um "gatinho" nos olhos.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Sinto que se não disser isto rebento

Detesto Expensive Soul. É uma coisa de pele, inexplicável.

Ah.... que alívio, senhores, que alívio.

Pode repetir?

Um quadro médio/superior de uma instituição, responsável pela tesouraria, falsificou documentos para desviar ao longo de anos umas dezenas de milhares de euros que utilizou em proveito próprio. 
"Sim, desviei. Estava a atravessar momentos complicados a nível familiar e precisei do dinheiro. Mas é preciso responsabilizar a direcção que me podia ter fiscalizado e nunca o fez."

terça-feira, 7 de abril de 2015

Parece-me que estamos perante uma potencial caixa de pandora

Tribunal de Coimbra obriga a reintegração de trabalhadora na Segurança Social. É divorciada, tem um filho a cargo e corria o risco de perder a habitação, adquirida com recurso a crédito bancário.
A notícia aqui.

Farinha, sal, água e fermento

Levantou-se cedo, ainda de noite, como ouvia dizer que se levantavam as mulheres noutros tempos. No grande alguidar de barro vidrado acondicionou a farinha de trigo, Espiga, 65, que era essa que lhe disseram que se usava, um saco com sal e o fermento de padeiro. Tapou-o com um cobertor de papa velho e um lençol. Voltou atrás e agarrou um avental e um pano para atar à cabeça, que havia de ser tudo como lhe disseram que era, e dirigiu-se à modesta cozinha de fogo. De véspera deixou tudo preparado, as vides secas, três pinhas e as aparas dos pinheiros separadas. Abriu e inspeccionou o forno velho em busca de um tijolo solto, quem sabe de uma família assustada de morganhos. Achou-o limpo e capaz. Limpou o rodo e a pá de ferro de teias de arranha e pó, encheu a lata velha de água e certificou-se de que não estava rota. Sacudiu a trempe e lavou a cafeteira.  Desencabou uma enxada enferrujada e enrolou-lhe na ponta um trapo limpo.
Imaginou-se recuada no tempo e no espaço, ao tempo das avós de quem teve avós que amassavam coziam o pão, numa aldeia, numa encosta de uma serra, como os ouviu contar. Benzeu-se. Essa parte não lhe contaram, mas quis imaginar-se assim, a benzer-se antes de amassar e cozer o pão. 
Na grande lareira de pedra acendeu o lume, ajeitou a trempe e pôs a água a aquecer na cafeteira. Numa tigela pequena, dissolveu o fermento e o sal grosso. Deitou a farinha no alguidar, abriu-lhe uma cova no meio e deitou a mistura do fermento. Devagar, enquanto mexia, ia juntando mais água, amassando das bordas para dentro. Amassou, bateu, amassou mais. Meia hora, disseram-lhe que tinha de amassar durante uma boa meia hora, até a massa ficar fofa e a fazer bolhas. Puxou as abas da massa e bateu-as contra o alguidar antes de a polvilhar com mais farinha. Com os dedos fez uma cruz na massa e rezou como lhe ensinaram, "Deus te 'alevede', Deus te acrescente. Deus te dê a santa virtude, da minha parte fiz o que pude". Fez o sinal da cruz e tapou o alguidar com o lençol e o cobertor. Aproximou-o do calor, para a massa levedar, e abriu o forno. No centro dispôs duas pinhas, os galhos de pinheiro secos, ainda com carumas, e chegou-lhes uma brasa que retirou da fogueira onde aqueceu a água. Depois de ateado o lume, juntou-lhe um braçado de vides secas. Não devia usar lenha grossa, não era tão boa. Com lenha miudinha, o forno aquecia mais devagar mas por igual, e é um forno bem aquecido faz um bom pão. As vides ardiam depressa. Com o rodo espalhava as brasas pelo fundo do forno, para criar lar, e deitava mais vides para arder. O forno estaria bom quando os tijolos estivesses brancos. Fez como lhe ensinaram e enfiou o saco da farinha no cabo da enxada, meteu-o no forno e rezou um Pai Nosso. "Se o papel vier muito queimado é porque o forno está muito quente". Veio clarinho. Usou o rodo para retirar as brasas e molhou o trapo que tinha enrolado ao cabo da enxada na lata com água e passou-o no fundo do forno para limpar o maior das cinzas. Voltou a enfiar um pedaço de saco no forno para ter a certeza de que a água não arrefeceu o forno em demasia. Destapou a massa, tinha dobrado o seu tamanho. Estendeu o lençol em cima da mesa e polvilhou-o com farinha. Tendeu  oito pães redondos, deitou farinha na pá e, um a um, depositou-o no forno com um golpe seco e rápido. Fechou a porta do forno e sentou-se. Benzeu-se uma outra vez. Mal não faria e na sua imaginação as mulheres que amassavam e coziam pão benziam-se sempre. Sentou-se no banco de tábua corrida e olhou as paredes escuras da cozinha velha. Quis imaginar os diálogos que ali se tiveram, a azáfama dos dias de matança, as lágrimas que ali correram nos dias em que não se cozeu o pão porque não havia farinha. Em vão, nenhuma daquelas eram as suas memórias, nunca tinha assistido a uma matança, nunca lhe tinham contado como foram difíceis os tempos em que não havia farinha para cozer pão. Com a água que restava na lata lavou o alguidar de barro e apagou a brasas. Sacudiu o lençol e voltou a estendê-lo em cima da mesa. Olhou para as paredes outra vez. Continuavam escuras e vazias. Levantou-se e sentou-se novamente. "Já começa a cheirar a pão, ficará bom?" A hora que passou passou como imaginou que passavam as horas no tempo em que as mulheres que amassavam e coziam pão, devagar. Abriu o forno e com a pá tirou os oito pães, um a um, e deitou-os sobre o lençol. Estavam bonitos, corados, rebentaram-lhe mamas de lado, as que diziam que eram a melhor parte do pão, quando ainda quente se comia com manteiga salgada a derreter. Queimou as mãos para lhes sacudir a côdea de restos de cinza. Deixou-os arrefecer mais um pouco e levou-os no alguidar para a cozinha da casa. Abriu o frigorífico e tirou a manteiga, arrancou com as mãos uma mama bojuda de um dos pães, barrou-a com manteiga e saboreou-a lentamente. Estava bom, muito bom, como é de esperar do pão quente com manteiga salgada.
Viu-se ali, só, com oito pães de trigo fumegantes, sem saber o que lhes fazer, numa cozinha que não era a sua. Como não eram suas as memórias que quis criar.



E assim de repente

O país acordou para as quantidades absurdas de açúcar que crianças (e adultos) ingerem diariamente.
Baaaaahhhhh.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Nervo relatório

Antes de entrar no consultório, a Mironinho, que adora médicos, confessa-me:
- Estou um bocadinho nervosa, mamã, achas que é o nervo relatório?
- Nervo relatório?
- Sim, achas que é isso?
- Sei lá, acho que isso não existe. Pensa em coisas boas que vais ficar bem.
A consulta correu lindamente, ela colaborou sempre com a médica, explicou tudo muito bem explicado, uma autêntica senhorinha. Quando nos estávamos a despedir lembrou-se de uma coisa.
- Doutora, tenho uma dúvida. Existe nervo relatório?
- Nervo relatório? Eu não conheço nenhum...
- Está bem, adeus.
Já cá fora diz-me baixinho:
- Mamã, acho que deviamos ir a outro médico. Esta não conhece o nervo relatório. Não achas grave uma médica não conhecer os nervos?


domingo, 5 de abril de 2015

Limpezas de Primavera

Começam cedo, no sábado. Logo pela manhã, depois de chegar da confissão, lavada a alma de pecados, lava-se a casa. Abrem-se as janelas, batem-se tapetes que se deixam pendurados ao sol, lava-se o chão de tábua corrida com sabão amarelo, para avivar o tom alaranjado da madeira, que depois se encera. Os vidros hão-de ser limpos com um jornal velho amarrotado, para não largar pêlo. Os mil e um bibelots ficarão de molho num alguidar grande em água morna e detergente da loiça durante toda a manhã. Passa-se o óleo na mobília e com uma escova pequena há-de limpar-se minuciosamente a moldura do Sagrado coração de Jesus. Ao fim da tarde os tapetes voltarão para dentro, escolhem-se os melhores naperons que serão cerimoniosamente depositados nas costas e braços do trio de sofás, no louceiro, e no pequeno velatório. A míriade de bibelots retornará ao seu lugar. Da arca do enxoval sairão a melhor toalha  de mesa e a colcha de damasco para se lhes tirarem os vincos. Apagam-se as luzes e fecha-se a porta à chave. 
No dia seguinte, quando chegar da missa Maria Preciosa abrirá a sala outra vez. A colcha há-de enfeitar a janela aberta e a toalha é estendida sobre a mesa que depois do almoço receberá um prato com folar, uma bola, uma salva com amêndoas de açúcar, um licor caseiro, talvez um Porto.
O prior chegará, gorducho, cansado, aspergirá a sala com água benta. Atrás, os acólitos e o sacristão.  "Cristo ressuscitou! Aleluia, aleluia!". O cruxifixo será dado a beijar. Antes de sair o velho sacristão recolherá o envelope que há-de ser deixado à entrada com "as amêndoas" do senhor prior, que o telhado da residência paroquial está a precisar de ser mudado.
Levanta-se a mesa, recolhe-se a colcha e dobra-se a toalha. Apagam-se as luzes e fecham-se as janelas, antes de fechar a porta a dona da casa fixará a imagem do Sagrado Coração de Jesus, simulará uma genuflexão mal amanhada, benzer-se-á e, de cabeça baixa, fechará a porta da sala, à chave, como que para guardar o Senhor que assim entrou naquela casa.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Nunca me farto

Das mega-produções hollywoodescas que a RTP nos oferece todos os anos. Não troco a tarde que passei no sofá ao lado do meu pai a ver o Quo Vadis por nada neste mundo.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Não é muito abusivo, pois não?

Os meus sogros moram a dois minutos de mim. Os meus pais a dez.
Parece muito mal ter saído de casa com malas para ir passar o fim-de-semana de Páscoa com eles?

Já dizia Séneca

" A vergonha deve restringir o que a lei não proibe".

O que me vale é que parece que o frio vai voltar.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

A sério que ainda há jornais a publicar mentiras de 1 de Abril?

(as que publicam nos outros dias todos não contam).
É que se o fazem, façam-no bem, senhores, não entrem numa espiral de loucura que vos denuncia imediatamente.
Acabei de ler uma notícia que começa por esclarecer que não é uma mentira de 1 de Abril mas parece. Hã, hã, conta-me histórias...
A história inicial não é descabida, está bem suportada por factos públicos e notórios, sim senhor, já antes se tinha falado nisso, afinal a ideia foi para a frente. Havia alguma necessidade de exagerar nos pormenores?
Imaginem: "Governo vende património imobiliário a investidores do ramo hoteleiro chineses a preços simbólicos, para evitar os elevados custos de manutenção que acarreta." 
Agora imaginem também: "Em nota à nossa redacção, a grupo empresarial Chao Min esclareceu que tem em vista a aquisição do Forte da Boaviagem, que será desmantelado e transportado para a China onde será o ex-libris da exposição Mundial de 2020, que terá lugar em Pequim. As obras de desmantelamento terão início no próximo mês de Setembro e deverão prolongar-se por três anos. Todas a pedras serão numeradas e catalogadas de forma a que o edifício seja reconstruído, espera-se num período record de um ano, a tempo da referida exposição. Entretanto, avançam as obras no porto da Figueira da Foz, por forma a facilitar o transporte marítimo dos elementos de maior porte."

Quem, nesta equação, é suposto ser o April's fool? O jornal ou o leitor?

Amaricanos é na América, Vitor Paulo!

Contava-me uma professora, angustiada, que foi preciso chamar a mãe de um aluno à escola, no âmbito de um processo disciplinar, uma vez que, mesmo depois de repreendido pelos professores,  o adolescente insistia em maquilhar-se durante as aulas, perturbando de forma constante o seu bom funcionamento. Que lhe foi explicado desde o início que o problema  não tinha a ver com a orientação sexual que o filho parecia mostrar, mas apenas com a necessidade de assegurar o respeito dentro da sala de aula.
- Olha Vitor Paulo, se queres ter jeitos amaricanos vais para a América, ouviste? Eu e o teu pai não andamos a criar um filho para ter jeitos amaricanos, era o que faltava! Amaricanos é na América, Vitor Paulo, e tu estás em Portugal!