quinta-feira, 18 de setembro de 2014

É aproveitar e ler, querendo saber o que penso sobre o assunto

A propósito deste post da Palmier e sobre a escola que os pais idealizam para os filhos, em circunstâncias "normais" (vamos deixar de parte os pais abusivos, negligentes e afins), acredito que ninguém conhece melhor uma criança e as suas necessidades do que os seus pais. E que, podendo escolher a escola que os filhos vão frequentar, o fazem de forma livre, esclarecida e consciente. Ainda assim, há sempre algo que pode falhar e a escolha que fizeram não se mostrar a mais adequada ao projecto educativo que idealizaram para os filhos.
Ontem, na reunião de pais da escola da Mironinho, uma mãe queixava-se de que não tinha vida laboral ou férias suficientes para fazer face às solicitações da escola e que por isso se deviam acabar certas actividades.
A escola desde o primeiro dia, pelo menos comigo foi assim desde o dia em que a visitei para saber as condições de funcionamento, informou os pais que privilegia a sua presença na escola e defende o seu envolvimento no máximo de actividades possível. Por isso, em todos os períodos há um dia de escola aberta aos pais em que estes são convidados a assistir às aulas dos filhos, além dos dias de festa de final de período. Também procuram proporcionar aos meninos uma oferta cultural variada e por isso levam-nos com frequência ao teatro, a concertos ou exposições e fazem um visita de estudo em cada período, sendo que uma delas é planeada de forma a os pais poderem acompanhar os filhos. Convidam escritores a ir à escola e, mais uma vez, os pais são convidados a estar presentes. No dia do pai e da mãe os pais e as mães são convidados a ir à escola. 
Sugeria aquela mãe que se acabassem com os dias de escola aberta e a visita de estudo acompanhada, porque ela não podia ir e o filho chorava muito porque todos os pais iam menos ela. Que não fosse permitido que os pais fossem levar um bolo à escola e ficassem para cantar os parabéns ao filho para não causar angústia nos meninos cujos pais não podiam ir. Também achava que bastava uma visita de estudo por ano, em vez de uma por período, e que não havia necessidade de tantas idas ao teatro ou a exposições porque, parecendo que não, tudo junto ainda ficava caro.
Evidentemente, quem tem dificuldade em ausentar-se do trabalho não pode responder a estas solicitações. Também é verdade que a capacidade económica de muitos pais foi reduzida substancialmente e que para algumas famílias é difícil pagar as visitas e peças de teatro, mesmo que muitas delas tenham um custo simbólico. 
Mas também é verdade que desde o primeiro dia sabiam que a escola que escolheram lhes proporcionava todas estas actividades, que privilegiava a participação dos pais no processo educativo, que não se limita a cumprir programas ou a despejar conteúdos. E que é este conceito que a distingue das outras escolas. Com isto não quero dizer que não se deva questionar a escola, que não se devam fazer sugestões e propor mudanças. Mas pedir que se procurem soluções que se adaptem às diferentes realidades familiares é diferente de abolir determinadas actividades. Deve questionar-se a escola, devem propor-se alternativas, desde que não desvirtuem o conceito da escola e os princípios que a orientam. Se o modelo e princípios não se adequa aos desejos dos pais, pois, terão de mudar para uma outra com que mais que se identifiquem, sem dramas...
Se eu optar por matricular a minha filha num colégio de orientação católica, não me parece legítimo que proponha à escola que o abandone pelo simples facto de não ser essa a minha religião. Se a matriculo numa escola de ensino bilingue não posso pedir que leccionem apenas em português, se é precisamente o ensino bilingue que a distingue das outras. Quando escolho uma escola adiro ao projecto que me é apresentado porque o acho adequado à minha visão do que deve ser a escola. 
A escola que eu acho adequada para a minha filha não é a que deixa de promover uma actividade para não a angustiar, não é uma escola que a mantêm numa falsa de redoma de perfeição e felicidade permanente. Evidentemente desejo para a minha filha que seja feliz e que cresça saudável e emocionalmente estável, poupá-la a sofrimento desnecessário, afibal de contas ninguém gosta de ver um filho triste ou angustiado. Mas tenho noção de que a felicidade da minha filha passa necessariamente por fazer com que perceba desde cedo que há realidades familiares muito diferentes, que não tem de ter tudo o que os outros meninos têm, que tem de lidar com frustrações, angústias e contrariedades. Caberá a nós, os pais, fazê-la sentir segura do nosso amor, mostrar-lhe que ele não muda se não pudermos estar presentes numa actividade para que fomos convidados ou se alguma vez não puder ir a uma visita de estudo porque os pais não a podem pagar.
Caberá também a nós, pais, não vivermos na angústia de não poderemos proporcionar aos nossos filhos uma existência absolutamente perfeita e sem adversidades.

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