terça-feira, 2 de julho de 2013

Põe-te andar, antes que te parta essa boca toda...

Agosto de 2012, não me recordo ao certo o dia, só que estava calor e Lisboa estava às moscas.
Hoje está um dia espectacular para ir com aquela amiga especial fazer um almoço prolongado naquele restaurante, pensei. E se bem pensei, melhor o fiz. Telefone na mão e "Olá, sou eu, estava aqui a passar ao teu escritório e já despachei o que tinha a fazer hoje. Olha lá, tens muito que fazer esta tarde ou dá para irmos almoçar? Tenho saudades dos nossos almoços demorados. Estás sem carro? Não tem problema, vamos no meu."
Meia hora depois estacionávamos praticamente à porta do restaurante.
"Sim senhor, isto sim é serviço, um lugarzinho de estacionamento mesmo à maneira! Vê-se mesmo que o país foi a banhos."
O almoço, como esperava, foi excelente. Bom vinho, boa comida  e uma companhia de luxo, concordámos. "Temos de fazer isto mais vezes. É um disparate estarmos tanto tempo sem nos vermos". Entre risos cúmplices saímos despreocupados do restaurante. Estava mesmo bem.Oh happy days!
Pego na chave do carro, aponto na sua direcção para o abrir e, horror dos horrores. Estava um mirone baixinho e escanzelado, de boné preto e óculos de sol, colado ao vidro, a espreitar para  dentro do carro. "Ai caraças, que tenho o computador na mala!".
Transformei-me num touro enraivecido, tudo à minha volta era encarnado sangue. Procuro uma barra de ferro esquecida, um paralelo solto que me pudesse servir de arma de arremesso, não encontrei, onde é que andam as calçadas portuguesas quando precisamos delas, porque é que não fui almoçar a um estaleiro de obras? Sorte a minha, naquele estado de exaltação a minha pontaria não seria o que desejava. Não interessa, sou maior que ele, faço-o em fanicos só com um dedo. Encho o peito de ar, e com o tom mais carroceiro que consigo arrancar de dentro do peito grito-lhe de longe:
- Põe andar ó monte de esterco, antes que te parta essa boa toda! Põe-te andar que não há nada aí para ver!
A minha amiga estava branca. Sussurou-me entre dentes "Pelo amor de Deus, não faças isso, olha a vergonha. Tu não és assim!". E não era, quem me conhece sabe que eu sou um cruzamento de Dalai Lama com Mahatma Gandhi, a pessoa mais pacífica ao cimo da terra. Mas era o meu carro, o meu computador e não era um "agarradinho" qualquer que mo iria roubar.
Petrificada, a minha amiga deixa-se ficar à porta do restaurante. Eu sigo na direcção do desgraçado a pedir a Deus que ele não tivesse nenhuma seringa infectada consigo. Educadamente, ele responde-me:
- Boa tarde. Não precisa de falar assim que até me assutei. Estava só a ver se o ticket não terá caído. Sabe, às vezes a fechar o carro a corrente de ar desloca o ticket, para o autuar tenho de me certificar que não há nenhum ticket visível.
Afinal o senhor era só um funcionário da empresa exploradora do estacionamento. Pedi-lhe desculpas, mas já não havia nada a fazer, já tinha introduzido os dados da viatura no sistema, agora era só esperar que a multa iria parar a casa daí a uns tempos...
E, efectivamente, chegou. Daqui a pouco, quando levantar o registo da Parques Tejo que o carteiro me deixou na caixa, saberei ao certo o dia em que passsei uma das maiores vergonhas  da minha vida.

 

11 comentários:

  1. Bem isso é que é uma boa história para contar aos netos... :)

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  2. E tenho tantas Mini Melga. Que não me falhe a memória para as poder contar às gerações vindouras. :)

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  3. Bastante impulsivo, o senhor mirone :)

    (as letrinas anti-bot irritam e estão fora de moda, mirone)

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    1. Anti-bot é o quê, além de irritante e demodé ? :P

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    2. Irrelevante. Tira as letrinhas, sff :)

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    3. Não fui eu que as pus... deve ser uma configuração automática do blogger.

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    4. Por acaso também detesto que me obriguem a provar que não sou uma máquina. Toda a gente sabe que o mirone é como o homem da Regisconta, aquela máaaquina!

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  4. Ò Homem, mas afinal quem manda aqui, tu ou o blogger? :)

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  5. Já tirei. Era a configuração automática do blogger. Eh pá, só cheguei há 10 dias, ainda há muita coisa para afinar.

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