quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Teófilo?! Bartolomeu?!

Tempos houve em que uma vista de olhos rápida pela lista de alunos permitia aos pais fazerem uma previsão do meio sócio-económico dos colegas dos filhos com um grau de certeza consideravelmente elevado. Havia sempre um apelido pomposo ou nomes tipicamente "queques" e nomes de "bairro", sabia-se que o Bernardo e o Salvador eram, muito provavelmente, oriundos de famílias endinheiradas, e que os Ruben e Fábio eram filhos de gente mais humilde. Cada grupo tinha uma espécie de lista estanque de nomes, derivada de um pacto tácito cujas origens ninguém conhecia ao certo, e as pessoas viviam felizes dentro do "estatuto" que o nome lhes conferia.
Por motivos ainda não esclarecidos esse pacto deixou de ser respeitado e as franjas populacionais mais desfavorecidas reclamaram também para si o uso de nomes até então "betos".
Os verdadeiros betos não puderam, obviamente, compactuar com tamanha usurpação e tiveram de improvisar uma solução que rapidamente repusesse a separação de águas, equacionando assim uma de duas hipóteses. Passariam a usar eles nomes "de bairro", invertendo o direito ao uso dos nomes de cada lista,  ou criariam uma lista de nomes ainda mais exclusivos, inventando uma homenagem ao tetra-avô general ou governador de não sei onde. Se a ideia de juntar Iara a um apelido composto, cheio de apóstrofes e duplas consoantes, era simplesmente inconcebível, sacrilégio!, chamar Teodoro ou Numa a uma criança foi, contudo, a solução que lhes pareceu natural, adequada e justa.

Porquê, senhores, porquê?

29 comentários:

  1. Há pouco tempo cheguei à conclusão que os meus gatos não tinham nomes de acordo com o estatuto social da família :))) . Resolvi de imediato mudar-lhes o nome e agora chamam-se Salvador e Bernardo , mas depois de ler o teu post acho que lhes vou mudar novamente o nome para Teodoro Bartolomeu e Dagoberto Sancho. Parece-te bem?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Perfeito! Se tiveres uma gata proponho Pascolina.

      Eliminar
    2. Pascoalina (não percebo a escrita automática que nunca reconhece o que eu escrevo).
      Raimunda também me parece um bom nome para gata.

      Eliminar
    3. Raimunda acho demasiado violento para uma gata...

      Eliminar
    4. Urraca! Está decidido, é nome de rainha, supe' antiga.

      Eliminar
  2. Pipocante Irrelevante Delirante14 de setembro de 2016 às 15:35

    CAríssima MIrone, que erro, que erro...
    O que não falha é o "de" ou o traço.

    Ruben Gabriel Silva de Matos é gajo fino.
    Tal como a Vicky Sabrina Antunes-Gaiato.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. :DDDDD
      Vicky Sabrina é maravilhoso! Que pena não me ter lembrado desse nome quando a Mironinho nasceu.

      A sério, acho que no que diz respeito a esta espécie de marcação de território social pelo nome se está a entrar numa espiral de loucura, pobres crianças...

      Eliminar
  3. Não se deve gozar com gosto alheio (eu sei) e muito menos com nomes de crianças (eu sei) mas juro que não entendo o que vai na cabeça dos paizinhos que dão o nome de Luana e de Nancy às suas filhas.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O mesmo que passou pela cabeça dos que decidiram chamar Urraca e Sancha às filhas. Acharam lindo :DDDD
      Cada um com as suas referências...
      Às vezes penso que quem chama João, Pedro, Catarina ou Inês aos filhos, ou outro nome mais "normal", são verdadeiros excêntricos. Dar um nome diferente dos filhos já é uma coisa tão banal que uma pessoa até estranha que na turma dos filhos não haja pelo menos uma dúzia deles.

      Eliminar
    2. Pipocante Irrelevante Delirante14 de setembro de 2016 às 19:14

      Inês é nome de rainha, pá!!!

      Ass: Afonso Carlos Diniz de Corte-Real e Bragança de Melo

      Eliminar
    3. Sim eu sei, é uma questão de gosto...mas custa a aceitar (isto é bastante arrogante da minha parte) mas pronto.

      Quando escolhi o nome para o meu filho procurei pensar no futuro dele e como ele se poderia sentir com o nome enquanto crescia.

      É que enquanto são crianças (bebés) o nome passa despercebido mas eu só imagino o quanto a Urraca irá sofrer quando for criança e passar por aquela fase "engraçada" (e quem diz Urraca diz outro nome do género). E como irá a Urraca viver os seus anos de adolescente?
      Eu acho que os miúdos já são por si bastante cruéis não gosto da ideia de dificultar a vida a um filho.

      Eliminar
    4. Acredito que seja mais "traumatizante" para quem está de fora do que para as próprias crianças que, por crescerem num círculo onde Urraca é um nome "queque", vão aceitá-lo sem dificuldade e, diria até, com algum orgulho por pertencerem a uma "elite", até serem "copiados" novamente.
      Embaraçoso é o extremo a que chegou um casal que conheço, de "classe média-alta" (novos-ricos) que chegou ao extremo de colocar apelidos diferentes dos seus aos filhos e optaram por pôr um outro mais pomposo. Imagine que a mãe tinha como apelido Pereira e o pai tem como apelido Silva. Para que as crianças não ficassem com um apelido vulgar, Pereira Silva, apresentaram na Conservatória um pedido para que pudessem dar aos filhos um apelido de uma bisavó e que não constava dos nomes dos pais, só para que o apelido das crianças fosse um sonante Pereira Sottomaior. Isso sim, é motivo de embaraço, que se escolha um nome próprio mais bonito ou mais feio, é uma questão de gosto, o que seria se todos gostássemos de mantê-lo?, agora negar um nome de família só porque não é suficientemente sonante, parece-me de uma futilidade e pequenez sem par.

      Eliminar
    5. O exemplo do sobrenome familiar não me choca tanto mas tem um motivo bastante simples: isso acontece na minha família.
      A minha avó vem de uma família da classe alta (os antepassados dela) e o meu avô tem um nome equivalente a um Silva ou um Pereira. E eu tenho primos que foram buscar uma espécie de Sottomaior para os filhos. Mas estas pessoas são classe da classe média-alta não propriamente de classe alta (ou seja, em breve os ricos terão de inventar outro tipo de nomes familiares para parecerem "chiques" a valer).

      Em relação aos nomes queques, a menos que vivam na bolha (que são raros), acho que alguns acabam por se sentir afectados.
      Mesmo nos colégios da classe alta há bullying e os miúdos são miúdos.

      Eu sinceramente não consigo compreender a necessidade de se ter nomes sonantes, seja no nome próprio ou ir buscar antepassados para "homenagear". É aquela coisa de "querer parecer" que me cai mal.
      Uma coisa é ser por gosto e tudo bem que cada um tenha o seu mas se derem esses nomes sem gostarem deles... isso é que não encaixa.

      Eliminar
    6. Sim, concordo, gostos são gostos, agora a necessidade de "parecer" através de um nome sóa-me a tontice.

      Eliminar
    7. Humm... é verdade que isso acontece.
      Mas acho que também acontece das pessoas quererem ir buscar um apelido que ficou perdido por, de alguma forma, se identificarem mais com ele. Não necessariamente por ser pomposo. Embora a escolha recaia sempre sobre o SOM ser agradável ao ouvido (e daí alguns apelidos soarem melhor que outros).

      Não tenho esse dilema de «nome pomposo», porque não minha família não existe «classe alta». São gerações e gerações de gente aparentemente simples e humilde, proprietários sim, porque na altura quase todos tinham o seu pedaço de chão (nem que fosse um metro quadrado) conquistado a duras penas, para agricultura de subsistência e sobrevivência. Se algum foi mais «abastado» é provável, mas são hipóteses e mitos, nada comprovado. Comprovado sim é a pobreza extrema de alguns, mesmo donos de um pedaço de chão. Mas nunca se meteram em sarilhos. Só trabalharam para alimentar a família. Por isso sinto dignidade e carácter da parte destas pessoas que, em tempos bem mais difíceis do que aqueles que conhecemos hoje, escolherem um caminho honrado.

      Acontece que, há algumas gerações, os apelidos eram atribuídos de forma diferente. O apelido da mãe por vezes ia para as filhas, o do pai para os filhos... Ou só o da mãe podia prevalecer. Mais tarde tudo se tornou mais patriarcal mas antes, era mais meio-meio.

      Bom, tanta conversa para dizer que tenho um apelido que me diz pouco ou nada. E falando com quem mo deu, o sentimento é um pouco recíproco. Todos gostariam mais de ter o apelido "Pereira", que se perdeu por ser da mãe. Outro apelido que não tenho e ficou perdido foi um que muitos detestam: Abreu. Mas não me importaria de o ter porque, sinceramente, acho-o bonito e ao fazer a árvore geneológica pude observar a quantidade de «Abreus» que existiram e senti-lo como parte da minha identidade. Embora se não gostasse, talvez o desprezasse. Tenho um familiar que o tem e o detesta :)

      Algures no tempo, há uns 300 ou 500 anos, existiu um apelido com alguma ligação hipotéticamente relacionada com algum «poderoso»... Mas a origem ficou perdida na inacessibilidade de consultar documentação. Hoje soaria «bem» na língua ehehe, Mas não por aí além. O apelido mais «elitista» que existiu na família na realidade era o mais simplório de todos: Espírito Santo. NADA a ver com a família que agora ficou mal vista devido ao BES. Antigamente era comum dar nomes religiosos e apelidos de santos. Então existiram muitos "Espírito Santo", Anjos, Jesus, etc, etc.

      Podia, por uma questão de identificação, desejar ter um desses de volta. Mas não seria uma escolha por pedantismo.

      Eliminar
    8. Ah, a «nova elite» inventa nomes para os filhos. Vês o exemplo da... como se chama... atriz portuguesa, cantora e dançarina... que fez uma série... e casou com um futebolista... Deu nomes de Llyyaannne ou algo assim muito estranho às filhas. Depois tens as estrelas de hollywood que decidem «presentear» os filhos com nomes de cidades, estações do ano ou coordenadas. (norte-sul, Memphis, Primavera, Verão etc).

      Mas deixas de fora outra variante de pedantismo, uma muuuuito usada. A inserção do artigo "de; da; do". Por acaso no meu nome tenho esse artigo, nunca o menciono, a pesar de gostar dele. MAS, para mim, é algo íntimo e os outros não precisam de saber que o tenho :)) Agora conheço cada vez mais pessoas que NÃO O TÊM e o COLOCAM. Só para soar bem.

      Exemplo: Fulana Almeida vira Fulana DE Almeida. Looool.

      Eliminar
  4. Urraca? A sério que conhece uma criança chamada Urraca? Ninguém merece... Isso é o que se chama ir buscar inspiração às brumas da memória...

    ResponderEliminar
  5. Tanta pedantice mal disfarçada. Recomendo vivamente a leitura do post da NM sobre resorts.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Li o post em questão logo que foi publicado, mas agradeço a sugestão, é sempre bom encontrar quem partilha gostos connosco.
      (o calmacomoandor.blogspot.pt faz parte da minha lista de leitura "obrigatória" desde o unívoco do blog)

      Eliminar
    2. Hã??!! Recomendaram-te o meu post dos resorts?? Por estares a ser pedante? Num post sobre nomes?!! Hã?!! Deve fazer sentido deve...

      Eliminar
    3. E não percebi esse obrigatória entre aspas mas está bem...

      Eliminar
    4. :DDDDDDDDDDDDD
      (Não é que me nasça um braço na testa ou me caiam os dentes se não ler, daí as aspas do obrigatório)

      Eliminar
  6. Desde segunda que o meu filho dizia que tinha um amigo novo na turma, mas que não se lembrava do nome.... Só sabia que era nome de velho. Quando ontem me disse como se chamava, tive de reconhecer que a descrição dele estava perfeita!

    O livro Freaknomics tem um capítulo bem engraçado em que, entre outras coisas, se aborda a "circulação de nomes" entre "estratos" sociais. Muito giro mesmo...

    ResponderEliminar
  7. Ahaha. Interessante observação sobre um hábito. Gostei.
    Recordo que tinha na escola um colega com 6 nomes. Bem comuns, aliás, mas um comboio! Para mim era igual a outro menino qq, sem qualquer distinção. As crianças não têm soberba, não ligam a essas coisas.
    Era deixado na escola pelo motorista. Apesar de nunca ninguém o ver chegar de carro... diziam que vinha assim. Naquela altura o normal era ir-se a pé para a escola... Não é como agora. Menos ainda, ir de choffer. Mas depois soube um pouco mais (boatos) sobre a sua vida e lamentei que fosse deixado tão «abandonado»... Fartava-se de ser castigado na escola, ehehe! Coitado. Depois foi para um «private school» e aí perdi-lhe o rasto. Ficou o «mito». Se era por vir de família com «dinheiro» que vivia assim? Talvez. Ele era normal, impossível de distinguir das demais crianças. Mas cada qual nasce inserido num contexto que acaba por influenciar o crescimento. São os adultos que interferem, as crianças tratam-se como iguais e são genuínas :))

    ResponderEliminar