sexta-feira, 6 de maio de 2016

E depois ficam a olhar para mim como veados encadeados pelos faróis de um camião numa noite escura

Encontrei no café umas conhecidas que me convidaram para me sentar na sua mesa. A conversa girava em torno dos empecilhos que têm em casa e a que dão o nome de marido. Porque não sabe fazer nada, deixa roupa por todo o lado, nunca sabe do lugar das coisas, ou porque é picuinhas, um miudinho que lhe enche a cabeça de manhã à noite, porque é pieguinhas, porque anda há meses a queixar-se mas não vai ao médico, um verdadeiro duelo pela conquista do título "o meu marido é mais traste que o teu", a antevisão do que daqui a alguns anos será o campeonato sénior de sala de espera "a minha doença é pior do que a sua".
- Estás muito calada, Mirone.
- Estava a pensar nas vantagens dos casamentos arranjados...

21 comentários:

  1. Deve ser a conversas que me irrita mais. Acho que nem percebem que no meio dessas queixas todas, é gritante a incompetência delas. Ponham-nos a fazer as coisas, eles não são nenhuns bebés, nem elas mães deles. Não faz bem à primeira, faz à segunda. Eles são aquilo que nós deixamos. Credo.

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    1. Foram elas que decidiram casar, foi uma escolha sua, livre. Mas começo a pensar que se têm sido os pais a escolher-lhes um marido talvez tivessem tido mais "sorte".

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  2. Pipocante Irrelevante Delirante6 de maio de 2016 às 10:44

    O que raio a minha esposa anda a fazer no café?...

    (brincadeira, iria lá ela falar de mim, tão prestável)

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    1. Levantam-se sempre tantas questões quando me deparo cineastas conversas:
      - o que fazem elas com um marido tão imprestavel?
      - serão elas tão imprestáveis quanto eles para se sujeitarem?
      - dirão aquilo para se sentirem mais válidas (já que pior que eles é quase impossível)?
      - dirão aquilo para prevenir que alguma amiga lhes cobice o marido?
      - sexo bom valerá o sacrifício de aturar um traste (sexo mau não vale, disso não duvido)?
      - dirão aquilo na esperança de que algum príncipe encantado aa ouça e resgate de um marido imprestável?
      ...
      ...
      ...

      (Vocês, homens, também se queixam assim das vossas mulheres?)

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    2. Esposa é tão "meia branca"... :/

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    3. Pipocante Irrelevante Delirante6 de maio de 2016 às 11:03

      Vocês, homens, também se queixam assim das vossas mulheres?

      Claro que não...


      ... lidamos com a dor e sofrimento constantes em silêncio, pois claro.

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    4. Está a ver porque não me queixo do meu? Porque lhe reconheço esse e outros méritos :))))))

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  3. Faz-me lembrar aquelas que se queixam que os maridos as traem mas continuam com eles. Então não se queixem! Dizer mal e continuar com a pessoa é humilhante para si própria.

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    1. É mais ou menos isso, sim.

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    2. Elas não se queixam, anónimo. Elas acusam-nos. É uma forma de mostrar aos mundo os monstros que eles são. E elas, pobres vítimas, lá toleram aquela triste vida com toda a resignação.
      Não é um queixume. É uma estratégia de os difamarem (a eles) e de se vitimizarem (a elas).

      Tão intrinsecamente feminino que até dói. E note que eu sou mulher.

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    3. «É uma estratégia de os difamarem (a eles) e de se vitimizarem (a elas).»

      não podia estar mais de acordo.

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    4. Flor e anónima, nem sempre. Situações como a desta manhã não são necessariamente uma forma de os difamarem e de se vitimizarem. Há homens que são mesmo uns trastes, não é difamação nenhuma. E noto em algumas mulheres um certo "orgulho", como quem diz "sou tão melhor que ele", quando se queixam dos maridos.neste caso específico senti essa espécie de orgulho.
      Se gostam de ser "mães" dos maridos e tratá-los como bebés incapazes de que se queixam? Se não gostam porque não fazem com que as coisas mudem?

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    5. Mirone, inteiramente de acordo. O meu comentário (12:03) referia-se especificamente à questão do anónimo das 10:51.
      Mas sim, totalmente de acordo: há nesses queixumes uma superiorização face aos pobres trastes que elas fazem o favor de acolher lá em casa. Tão bondosas, benza-as Deus.

      Mas isto tudo é complexo. Nós, mulheres, somos essencialmente mães. Maternas. Estamos intrinsecamente vocacionadas para a maternidade. No dia-a-dia, nas atitudes comezinhas, distinguir e separar onde termina a mulher-mulher/esposa e a mulher-mãe, não é fácil.

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    6. Eu adoro ser mãe, da minha filha. Odiaria ser "mãe" de Mr Mirone ou tratá-lo como um incapaz. Aliás, dificilmente casaria com alguém assim. Nem eu nem ele somos perfeitos, mas não tenho especial prazer em evidenciar os seus "defeitos" em público. Por duas razões fundamentais: primeiro porque não gostaria que ele o fizesse comigo; depois, porque a não gostar de determinadas atitudes é a ele que me devo queixar se quiser que melhore, não é às minhas amigas. É que não estou mesmo a ver em que é que o seu medo de agulhas, por exemplo, se atenue por eu contar a toda a gente que ele morre de medo de fazer análises.

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    7. "mas não tenho especial prazer em evidenciar os seus "defeitos" em público"

      A questão é esta.

      Por vezes acho que o maior culpado dessas conversas é a educação dada pelos pais, maioritariamente católicos e com teorias como "o divórcio é uma vergonha/afronta/etc. Uma mulher divorciada é vista como uma X, Y ou Z. Outras é pelo comodismo ou pela falta de capacidade monetária para se sustentarem sozinhas.

      Eu não ficaria com uma pessoa se ela fosse assim, para mim sempre foi claro que o casamento ou é para ser feliz ou não é de todo.
      Mas essa não foi a educação que me foi dada, aliás eu juntei-me primeiro (que também é mal visto, mesmo que disfarçado por muitos continua a ser visto com condescendência) e quando decidimos casar o meu pai veio ter uma conversa comigo se eu tinha a certeza porque uma coisa era separar-me e continuar solteira, outra era passar a ser "a divorciada", porque iria ficar mal vista e que ele sabia como depois as pessoas me iriam ver.

      E estamos a falar de um homem que sinceramente é muito evoluído para a educação que recebeu na maioria das coisas. Mas nestes assuntos machistas o meu caro pai parou há meio século atrás e duvido que ele seja o único.
      Aliás eu para ser sincera acho que os meus pais seriam mais felizes se estivessem separados e tenho essa ideia desde o inicio da minha adolescência, hoje casada e com um filho mantenho a mesma opinião. Não creio que haja no casamento deles verdadeiro amor, acho que há comodismo, habituação, medo de serem falados, medo de faltarem aos bons costumes, etc.
      Aliás quando uma tia minha se separou (vítima de violência doméstica durante anos a fio) a minha avó praticamente assumiu aquilo como a maior vergonha da vida dela...e não como o maior orgulho por ter uma filha que não se deixou vitimizar.

      E estamos a falar de pessoas que andam numa faixa etária entre os 30 e os 40 anos e não são propriamente pessoas sem instrução.

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    8. Correcção Pessoas entre os 45 e 55 anos...

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    9. Eu não gosto de expor os defeitos de Mr Mirone pelos motivos que referi, não tem a ver com suportar um casamento
      Infeliz para não ser falada ou porque acho que o casamento é para a vida.

      O divórcio ainda será mal visto em meios mais pequenos, mas tirando a questão econômica (que existe) são cada vez as pessoas que mantêm um casamento infeliz para evitar falatórios.
      No caso desta manhã o divórcio nem é para aqui chamado, são casamentos sólidos e felizes (penso eu...). Mas faz parte daquela felicidade a enumeração de defeitos do outro como se se tratasse de uma competição em que ganha a que tiver o marido mais incapaz.

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  4. Olha, antes essas do que outras...

    Um gajo próximo de mim deu cabo da relação com a namorada, com quem vivia, por causa da namorada com quem vivia.
    Numa conversa de café, todas elas gabavam as proezas sexuais dos gajos que tinham em casa e a namorada dele também o fez.
    Acontece que uma das amigas não acreditou e achou por bem comprovar se era verdade ou não...
    ...e o gajo era um "puto" de vinte e dois anos na altura e não lhe corria água destilada nas veias...

    E o resultado foi tragico!

    Chamarem trastes aos gajos sempre é mais seguro que elogiarem-nos!

    :)

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    1. Eu bem avancei essa hipótese, de lhes chamarem traste para as amigas não o cobiçarem. :)))

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  5. Pipocante Irrelevante Delirante6 de maio de 2016 às 11:07

    As mulheres queixam-se dos maridos, como se queixam das maleitas, os dos transportes públicos que estão cada vez piores, ou da falta de clientes que nunca se viu, ou do tempo, ou, ou...

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  6. Isso é com os maridos como é com os trabalhos, com as casas, com as empregadas domésticas, com os filhos...é um clássico. Nunca nada está bem.

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