domingo, 3 de janeiro de 2016

Isto aqui somos só nós a falar

Ainda assim, eu, que de turismo só tenho conhecimentos na ótica do utilizador, tenho uns reparos a fazer, só não sei a quem na cadeia, se aos governantes, às regiões de turismo, às autarquias ou aos operadores propriamente ditos.
De nada adianta fazer discursos bonitos, dizer que Portugal pode e deve apostar no turismo, que temos condições excepcionais para sermos líderes mundiais no segmento médio alto, determinado s proporcionar momentos únicos e personalizados. Não, meus amigos, não temos. Pelo menos enquanto continuarmos a brincar "à essência e genuinidade do que é português".
De nada adianta ter autoestradas modernas que em poucas horas nos põem na mais escondida das aldeias transmontanas (é que nem me importo de as pagar, se for essa acontrapartida de poder viajar tranquila e em segurança), criar aldeias históricas, roteiros disto e daquilo, impôr regras de reabilitação dos aglomerados habitacionais, preservando o que é tradicional, modernizando que é moderno, criar museus e centros de interpretação, afirmar que se vão envolver os agentes económicos tradicionais com os novos agentes, aqueles que chegam cheios de ideias novas - e boas, genuinamente boas - se depois, num fim-de-semana semana de quatro dias, em que as unidades hoteleiras registam índices de ocupação bastante promissores, no único café que conseguimos encontrar aberto num raio de 20 kilometros não há uma fatia de pão para fazer uma torrada, onde, ao pedido de uma sandes de queijo, se olha o potencial cliente como quem olha para um ET que pediu que lhe vendessem uma fatia de pão de 20 cereais ancestrais, colhidos em manhã de orvalho, moídos um a um, peneirados em malhas de seda fina e cozido em fornos tradicionais asiáticos em lenha  de pau santo, adornada com queijo feito num mosteiro tibetano a partir de leite de cabras sagradas. Não obstante o direito ao descanso de cada um, seria bom encontrar os tais museus e centros de interpretação a funcionar fora do mês de Agosto, ou da época das vindimas, das amendoeiras em flor. E, se não for pedir muito, encontrar quem nos venda uma sandes de queijo.

1 comentário:

  1. É verdade o que dizes.
    Mas se calhar o senhor do café achou que não valia a pena tê-lo aberto para vender-te a ti e só a ti uma sandes de queijo...
    Talvez eles saibam que não se justifica ter o estabelecimento aberto.

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