terça-feira, 12 de maio de 2015

Das más interpretações também reza a história

Ou Mirone pensa que não é menos 'cazoutras'.
Ou Analisemos então à lupa, e sem ideias pré concebidas, a famosa obra de Rembrandt .




A primeira ideia pré-concebida que importa afastar é a do nome do quadro. Aquele que ficou conhecido por A ronda da noite, consequência de uma má interpretação causada pelo mau estado em que se encontrava o quadro, com o verniz escurecido fruto da exposição ao fumo,  chamou-se originalmente  A Companhia de Frans Banning Cocq e Willem von Ruytenburch. Paralelamente há quem insista em chamar blogosfera a uma conjunto de duas dúzias de blogues, pouco mais, num universo quase infinito deles. Deixemos de parte essa ideia pré-concebida também. A encontrar tradução nos blogs, este quadro representaria  um ou dois blogs, não mais.

Em primeiro plano, como é de esperar numa obra encomendada, e sublinhando a posição hierárquica que ocupa, temos o Capitão Frans Banning Cocq. Caminha seguro, de mão estendida, indicando o caminho. Reparem no aprumo com que se apresenta, fato escuro, camisa branca de colarinho magnífico, punhos preparados para receber requintados botões de prata e madrepérola, sapatos e meias irrepreensíveis. Cabeleira farta, de corte vigente à época. A seu lado, ligeiramente recuado, evidentemente, o leal Tenente Willem von Ruytenburch, de vestes claras, "um raio de luz, dileto pupilo, para quem tenho planos grandiosos", chamar-lhe-ia o Capitão. Willem escuta atento as preleções e ordens do seu mestre e ídolo.
Atrás seguem diversos homens armados de espadas, lanças e escudos redondos, abrindo caminho através da turba. Os elementos da companhia aparecem captados pelo pintor  tal qual os pôde contemplar em numerosas ocasiões no momento em que diariamente se preparavam para formar e sair  para percorrer a cidade na sua missão de vigilantes da ordem.
No centro da tela, à esquerda do Capitão, um personagem feminina destaca-se: tem um vestido dourado, na mão um corno que serve para beber, à cintura uma bolsa e um frango morto, preso pelas patas. A personagem feminina é uma fonte de mistério. Embora a sua estatura não seja muito maior do que a de uma criança, ela está bem realçada no quadro, uma vez que sobre a mesma incide uma luz forte.  É uma personagem chave no quadro, não se encontra na penumbra e as sombras não a tocam. Alguns críticos vêm nesta menina um retrato de Saskia van Uylenburgh, primeira esposa do pintor, que faleceu prematuramente no ano em que foi pintada a tela, possivelmente de tuberculose. Saskia era habitual modelo de muitos dos retratos do autor.





O mistério de 'A Ronda da Noite' segundo Greenaway

Segundo o realizador Peter Greenaay, Rembrandt pintou A Ronda da Noite para denunciar o assassínio de uma das pessoas que deveria ter sido representada no quadro, e apontar os culpados, nele imortalizados.

Greenaway chama à obra-prima "o j'accuse de Rembrandt". Um corajoso ataque aos burgueses que encomendaram e pagaram a tela, e estavam envolvidos numa cabala para obter mais dinheiro, influência, proeminência social e mais poder em Amesterdão, na altura a cidade mais rica e próspera do Ocidente.

De acordo com Greenaway, a originalidade formal da famosa tela mais não é do que a maneira que o artista encontrou para semear as pistas alegóricas que permitiriam aos bons observadores desvendar o mistério e identificar os assassinos, sob a forma de várias "anomalias" pictóricas.

Esta tese está exposta no filme do realizador, A Ronda da Noite. O cineasta vai mais longe. Na sua opinião, Rembrandt pagou muito caro a ousadia. O artista terá ficado arruinado e perdido a sua posição social e os favores dos poderosos e influentes, não pelo gosto em pintura e a moda artística terem mudado nessa altura na Holanda, mas devido a uma conspiração dos visados no quadro, que o desacreditaram moral e socialmente, e levaram à penúria.



7 comentários:

  1. E as grandes pinturas estão na ordem do dia. Tão bom.

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  2. Mas, na "nossa" Agustina lá está (em A Ronda da Noite, o último livro dela, precisamente:

    "O caso da pistola à cinta da pequena Saskia era explorado com suma perspicácia e inteligência. Fora descobrir que que Inês de Zuñiga, esposa do primeiro ministro Olivares, fora pintada por Juan Carreño de Miranda, bem no estilo de Velasquez e tinha à cinta, pendente de uma fita de seda, uma «surpreendente» pistola dourada. Era um símbolo de poder ou de pura afectação em contraste com a juventude retratada, no esmerado traje de corte com delicados laços rosados."

    Como diria Vergílio Ferreira: "Há uma linguagem universal para as ideologias trocarem as suas opiniões. Essa linguagem é o tiro."

    Eis o mistério -- ou parte de dele, pelo menos.

    Bom dia, cara Mirone.

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    1. E alguma vez na blogo-vida ousaria parafrasear a gigante Agustina?

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  3. Só faltou dizer que o quadro foi cortado, para caber na moldura e que a personagem que corre sobre o canto inferior esquerdo, vai iniciar a descida pela escadaria. ;)
    Olha lá aqui: https://www.google.pt/search?q=rembrandt+ronda+da+noite+completo&rlz=1C1FDUM_enPT473PT475&espv=2&biw=1920&bih=985&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=gOFRVY7iDobfUdP7geAK&ved=0CCEQsAQ#imgrc=DOA2Ri1EWIZOZM%253A%3BhqhpR1zohwY1AM%3Bhttp%253A%252F%252F3.bp.blogspot.com%252F-pMkppuZo5hA%252FUqB_XM3UL9I%252FAAAAAAAAKtE%252FUEAmgi6R3kg%252Fs1600%252FNachtwacht-kopie-van-voor-1712.jpg%3Bhttp%253A%252F%252Fcorpopoietico.blogspot.com%252F2013_11_01_archive.html%3B1600%3B1252

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