sexta-feira, 20 de março de 2015

Dia Mundial da Poesia (é já amanhã)

Quando

Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.

Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.

Será o mesmo brilho, a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.

Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Dia do Mar'

6 comentários:

  1. Ou seja, não fazemos cá falta nenhuma. Francamente Mirone, também não há necessidade de nos reduzir à nossa insignificância.
    (Adoro Sophia de Mello Breyner)

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    1. Não se tratará de não fazermos cá falta, será mais a consciência que o mundo não somos só nós. É a minha poetisa favorita.

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    2. Não se trata de insignificância, trata-se de continuidade, imortalidade(?), talvez perpetuidade. Depois de nós, outros como nós farão o que fizemos, haverá sempre quem nos dê continuidade. Viveremos nos que nos sucederem.

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    3. Não. Viveremos enquanto nos recordarem.
      E é muito mais que o mundo não somos só nós, é quase um "o mundo não precisa de nós", seremos nós a única peça que falta, tudo o resto se mantém. Eu, há bocado, estava meio a brincar, mas não deixamos de ser mínimos.

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    4. E enquanto recordarem os que nos recordarem, porque eles serão parte do que nós fomos. Temos tanto de eterno como de efémero. Será a velha questão do copo meio cheio ou meio vazio.

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