quarta-feira, 9 de abril de 2014

Voltei

Com o bilhete premiado cautelosamente guardado na carteira dirigi-me à papelaria. Entrei. Havia vários clientes a comprar cigarros e jornais. Deambulei os olhos pelo expositor das revistas enquanto aguardava a minha vez de ser atendida. Entrou um colega, cumprimentámo-nos e trocámos trivialidades. Caramba, não podia apresentar o bilhete ali! O colega iria aperceber-se, a notícia espalhar-se-ia e em três tempos estaria rodeada de oportunistas ou pior, estaria amarrada numa cave húmida à espera de um resgate que poderia nunca vir. Comprei a Teleculinária (pareceu-me suficiente para afastar o interesse do colega) e saí.
Dirigi-me ao café. Não queria levantar suspeitas. Pedi o café do costume e saí. Olhei para a papelaria, estava vazia, se quisesse levantar o prémio ali teria de ser rápida. Levantei a gola do casaco, pus os óculos de sol e apressei o passo. Que emoção! Daí a poucos segundos a minha vida iria mudar. Quis ligar a Mr. Mirone, dizer-lhe que no meu coração nada mudaria, que era a seu lado que continuava a querer envelhecer, mas não o fiz. Dirigi-me ao balcão e apresentei o bilhete.
- Tem prémio, oito e cinquenta e oito.
Recebi o dinheiro. A papelaria continuava vazia. Saí praticamente como entrei, com a gola do casaco levantada e de óculos de sol mas com mais oito euros e cinquenta e oito cêntimos no bolso. 
Às nove e um quarto já estava no escritório... Ou achavam mesmo que ia deixar de trabalhar por causa de um prémio no Euromilhões?

Liguei a Mr. Mirone. Vamos almoçar juntos para torrar a fortuna.

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