sexta-feira, 5 de julho de 2013

Aceitam-se gorjetas (e outras ofertas em geral)

Nunca fui pessoa de dar gorjetas. Nem sei se fica bem dizer isto. Se não ficar, azar, está dito, e é para o lado que durmo melhor, sou um Mirone de convicções fortes, convicções que podem mudar a qualquer momento, mas fortes enquanto duram, assim como aquilo do amor e da eternidade, uma espécie, pois...
Dizia eu que, por norma, não dou gorjetas. E não o faço por dois ou três motivos principais. Primeiro, nunca sei quanto devo deixar. Será muito? Parece ostentação? Será pouco? Será uma esmola ou, pior, um insulto? Depois, e se calha àquela gente ter um patrão "maucomáscobras" que fica com o dinheiro todo para si, em vez de o entregar aos empregados? Eu não quero dar o meu dinheiro a um fulano "maucomáscobras". Por último, eu sei que a gorjeta deve ser encarada como uma recompensa pelo bom serviço prestado e que, em muitos casos, é uma forma de o empregado ver o seu magro rendimento alargado. Mas caramba, ninguém me paga mais quando o meu trabalho é bem feito (se me pagarem a tempo e horas sou um Mirone feliz), é obrigação de cada um cumprir as suas tarefas com competência, "olhaquesta"! Não basta voltar? Se volto é porque gostei do serviço, se volto, estou a gastar o meu dinheiro, estou a trocá-lo pelo bom trabalho/serviço que me prestam. Às vezes penso que isto devia ser como no estrangeiro (sim, Mirone viaja, Mirone vai ao estrangeiro), onde nas contas já vem uma parcela relativa à gorjeta. 
Há uma outra razão que me leva a não dar gorjetas e tem a ver com a má experiência que tive da primeira e penso que última vez que o fiz.
Desta vez aconteceu no ano 2001.Como já  vos contei, tinha acabado o curso há pouco tempo e, no final da outra formação de que já vos falei, decidi fazer uma pós-graduação em Coimbra. De maneira que, todos os sábados de manhã, o Mirone madrugava para se lançar à A1, para um dia inteiro de aulas.
Numa dessas manhãs frias de Janeiro sentia que o carro me fugia na estrada, estava esquisito nas curvas. A certa altura, quase a chegar a Coimbra ouço "Brlumbumbumbumbumbum" e a direcção a prender. 
Oh gaita, tenho o pneu furado! Encostei na berma, saí do carro. Xiii, o pneu está todo rasgado! Então era por isso que o carro estava estranho, já devia vir furado há imenso tempo... Sem medos Mirone, isto é num instante, daqui a dez minutos tens o pneu trocado e podes seguir para a tua pós-graduação maravilha.  Abro o porta bagagens, tiro o triângulo, recuo os metros regulamentares (não me perguntem que já não me lembro, a minha cabeça já não é a mesma, e prefiro ocupá-la com outra informação, quase sempre irrelevante), monto o triângulo a assinalar a minha presença na berma, regresso ao carro, tiro o pneu, o macaco, a chave de parafusos e começo a desaparafusar a roda. Começo o tanas! Os parafusos estavam tão apertados que nem com toda a minha força e o meu peso em cima da chave, eles se mexiam.E nenhum carro teve a curiosidade ou bondade de parar para saber se eu precisava de ajuda. Tivesse eu uma bruta mini-saia ou um decote até ao umbigo e de certeza que a A1 teria entupido com homenzarrada a querer ajudar uma donzela em apuros. Mas comigo, nada, nem as moscas ali paravam (menos mal, bicho estúpido, de todas as criaturas de Deus, seguramente as que menos préstimo têm).
Que remédio, vou ligar à assistência em viagem da Brisa, ainda há pouco passou uma carrinha por mim, estão aqui num instante. Dirijo-me à cabine laranja mais próxima e, depois de me chamarem quase tudo, que a mudança de pneu não é uma avaria, que não é para isso que a assistência serve, lá mandam vir a carrinha. Devo ter feito a força toda que havia a fazer, porque num ápice as porcas estavam desenroscadas e a roda trocada, com má vontade, mas trocada. Logo ali tive que pagar 15 contos (ainda era em contos), em notas (não trazia cheques e na altura ainda não estavam generalizados como agora os terminais de pagamento sem fios). Por acaso tinha levantado dinheiro, porque tinha de almoçar, abastecer combustível e depois das aulas ia directamente para um jantar de anos (também tenho de arranjar um tempo para escrever sobre o regresso a Lisboa, nesse mesmo dia). Paguei-lhes o que tinha a pagar e os senhores continuavam ali, a olhar para mim. Devem estar à espera de gorjeta, o que é que eu faço? Dou, não dou? Abro a carteira e tinha mais 5 contos, duas notas de 2000 e uma de 1000. Eh pah, para dar, tem de ser aos dois. Agarro nas notas de 2 contos e, de olhos no chão, sem saber o que se costuma dizer ou fazer naquelas ocasiões, entrego uma a cada um enquanto murmuro entre dentes "olhem, é para beberem uma cerveja, ou um sumo, não se fala mais nisso".
Estou a escrever isto e sinto uma vergonha igual à do dia em que se passou... Mas onde é que tu tinhas a cabeça Mirone? Dois contos a cada um, mas tu tens uma árvore das patacas no quintal?! "para beberem uma cerveja ou um sumo"?! Que estupidez!!!!

E foi a partir desse dia que decidi nunca mais na vida dar uma gorjeta (mas aceito, sintam-se à vontade).

PS - Ainda assim, ontem tive vontade de dar uma aos senhores que lá foram a casa (dei-lhes um copo de água, também é para beber).

29 comentários:

  1. boa-tarde.
    Independentemente de dar ou não gorgeta a quem lhe presta serviços, o não dar devido ao episódio envolvendo-o a si a a Brisa, não é argumento justificativo.
    Desde logo todos os homens neste mundo, sobretudo os que conduzem, sabem mudar um pneu. Mesmo que nunca tendo mudado nenhum, ao primeiro furo todo o homem se transforma no mais competente profissional de pneus.
    Mudar um pneu para um homem está como o salto alto para a mulher: nenhuma tropeça ou cambaleia quando os usa pela primeira vez.
    Agora, se não dá gorgeta, isso é lá consigo, que quem é insultado quando vira costas é o caro Mirone.

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    1. Boa noite,
      Perdoe o atraso na resposta, mas por motivos que desconheço o seu comentário estava na caixa de spam.
      Dou-lhe toda a razão. Isso de não ter força para rodar os parafusos é imperdoável. Só para não ser insultado novamente, e porque sou "sensível" vou passar a dar gorjeta em todo o lado.

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    2. Gorjeta, claro.
      Mas não exagere na sensibilidade que isso é coisa muito perigosa por aqui. É campo mais minado do que a Bósnia nos seus áureos tempos.

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  2. Eu também não dou gorjetas, acho que o trabalho deve ser bem feito e já são pagos para isso, mas tenho-me apercebido que uma boa gorjeta (5 ou 10 euros, já é razoável, mas se forem €20 nem se fala) te dá direito a algumas regalias que eu andava a desconhecer. E acho que, com a exceção daquelas pessoas que dão porque quase que é instituído dar, muitas outras o fazem pelo estatuto e as regalias que daí podem surgir. Ter mesa num restaurante da moda, que nesse dia estava lotado, por exemplo.

    Brandie

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    1. Então e se no tal restaurante da moda for mal atendido, dou gorjeta na mesma, para na próxima vez que lá for (se fui mal atendido devo volatr?) garantir que tenho mesa?
      Então, para ter regalias no tratamento não será melhor dar a gorjeta logo à entrada, para garantir tratamento privilegiado do princípio ao fim?
      Ai Brandie, não me baralhe!

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    2. Caro mirone baralha se com pouco:)
      Tudo depende do objectivo que tenha ao ir ao restaurante.

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    3. Jantar, almoçar... Agora é que já não percebo nada. :D

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  3. Carissimo, por a chave nas porcas de lado, dar uns saltinhos com o peso do corpo na chave e está feito.

    Não há porca que resista!

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    1. Saltinhos com o peso. Registei. Para a próxima não há porca que (me)resista :)

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  4. Nem comentário que não me ofereça uma rosinha.

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    1. Nota prévia: Fritei!
      Ilustre Corvo, eu não mereço que entreis na minha morada, mas dizei uma palavrea e serei salvo.
      Agora assim, oferecer rosos, assim de repente, que me lembre, só as Vinte e quatro Rosas do José Malhoa... Põe-lhes áfua fresca numa jarra, dentro do teu quarto junto á cama, se alguém te perguntar de quem saõ, diz-lhes, amor, saõ de quem te ama!"
      http://www.youtube.com/watch?v=5C87kSBqgoI

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    2. Perdoe-me as gralhas, foi da emoção.

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    3. Não se preocupe. Se até a Brisa lhe perdoou a inabilidade, quem seria eu para reparar em gralhas
      Agora a retribuição ao seu carinho. Estou a dizer bem, não é? Ao seu carinho que há que compreender a sensibilidade das puras almas. Se fosse um gajo assim para o rude, tipo Pipoco, cabra macho, eu dizia assim: agora a retribuição dos teus bitaites, ó meu caralho.
      Eu disse! Não só uma mas várias palavras que vós eliminastes, senhor.
      Obrigado pela dedicatória musical, mas ná, isso de meter rosinhas pelo meio e pelos lados, confesso que não é a minha ementa preferida.
      Mas vale pela poesia, que à falta de habilidade em mudar um pneu, é arte de que não carece.
      Mas não caia em fazer poesia, não me interprete erradamente. Não que não saiba que, sabe sim senhor, mas isto por aqui é malta de uma insensibilidade atroz e o caro Mirone, imbuído da mais doce sensibilidade espiritual, soltava a alma a poetizar sobre corações despedaçados e vinham logo as crudelíssimas almas de maus-fígados comentá-lo com. "lindo! adorei! Solta a Rosinha que há em ti"

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    4. Sabe, Corvo, O que lhe digo? Ainda tenho de comer tanta sopa até lhe chegar aos calcanhares. Releve os devaneios desta alma perdida que ainda agora chegou. Poesia?! Nem diga isso que parece mal (perdoe-me a ousadia). Antes soubesse...
      Quanto às rosinhas, imbuido da mais pura sensibilidade espiritual lhe digo, deixar vir a mim as rosinhas pois é sua a blogosfera...

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    5. Ai Corvo, que agora estou aqui e não consigo avançar. O Corvo sabe que não acompanho o seu discurso, que não possuimos a mesma escorreiteza intelectual, não me pode dizer as cooisas assim, que não percebo.
      Diga-me só se percebi bem, até pode responder com brutidade, assim uma coisa à Pipoco (Mas se tiver de ser, use o discurso elaborado do Ruben, que farei por decifrá-lo). Então OCorvo deixou-me palavras que eu eliminei? Garanto-lhe que não o fiz, pois que nem moderação de comentários tenho. Eliminei? Quando? Onde? Deve ter sido a máquina, não sei explicar. Eu pedia-lhe desculpa, mas tenho mesmo a certeza de que não eliminei palavras suas. E nem OCorvo é a Bolívia, tamnpouco eu sou Quem lhe vedou o espaço aéreo. Eliminei as minhas palavras, editei textos já depois de publicados, é verdade, mas as suas, NUNCA.

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    6. Pronto, já percebi o que se passou! Não sei por que motivos, mas tinha ido parar à caixa de spam- Caramba Corvo, um Mirone não é de ferro, e falta-me arcaboiço para estas coisaS.

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    7. Que escorreiteza intelectual que nada. Deixe lá de ser modesto que, pelo menos até agora desmonstrado, de créditos de escorreiteza intelectual o caro Mirone também não é peco.

      Eu comentei assim:
      Que o caro Mirone dê ou não gorjeta pelos serviços que lhe são prestados, isso depende de si e ninguém tem nada a ver. Mas a não dá-la devido ao episódio entre si e a Brisa, não é argumento justificativo porque o empregado que lhe serve a refeição ou a bebida, é absolutamente inocente pela sua inabilidade perante um pneu furado.
      Desde logo porque todo o homem em qualquer parte do mundo, de qualquer cor ou crença, sobretudo se conduz, sabe mudar um pneu furado. Mesmo que nunca o tenha feito e se veja na necessidade de o fazer pela primeira vez, torna-se imediatamente no mais qualificado artífice na arte pneumática.
      Mudar um pneu está para o homem como o salto alto está para a mulher. Nenhuma tropeça e cai quando os usa pela primeira vez.

      Ora isto foi o que eu comentei e que, lamentavelmente foi para spam. Mas como lamenta tanto quanto eu o desvio do danado (comentário), aqui vai ele, ufano e esperançoso de que não sofra nenhuma contrariedade pelo caminho, do tipo, por exemplo, um buraco negro que o traga.

      BFS.

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    8. Sim, empregado de mesa nenhum é responsável pelo triste episódio da A1, pois não era a prim era vez que me via na contingência de mudar um pneu. Ainda hoje não percebi como foram aquelas porcas "calcinar" daquela forma.
      De qualquer maneira, se não servisse para mais nada, que não serve, este blog já serviu para me mostrar a importância de deixar gorjeta. Ainda ontem depois de jantar, em casa, quis a família Mirone ir comer um gelado numa esplanada próxima, mais pela pequena, que lho andávamos a prometer desde o início da semana. Numa conta que não atingia os 5 euros deixámos dois.
      Continuo a não perceber quanto devo deixar...

      Este seu comentário, não percebo também, fui repescá-lo esta manhã à caixa de spam, que desde o triste incidente do comentário perdido faço questão de visitar com regulariade.

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  5. Este post fez-me lembrar uma história minha. Em plena A1 pneu do carro também rebentou. Como sou uma gaja desenrascada, toca de fazer pela vidinha e começar a trocar o pneu. Mas o macaco estava de tal forma calcinado no seu lugar que eu de joelhos no chão e com as mãos já pretas da terra, não o conseguia tirar. Nisto aparece a PSP. Pararam e perguntaram o que se passava. Expliquei o problema e o resultado foi a polícia a mudar-me o pneu. hehehehe...
    Ao contrário do que dizes, os carros e camiões que passaram por mim naquele dia só buzinaram ao ver 2 mulheres com o carro "avariado". Ninguém ousou passar.

    Beijinhos

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    1. Já não há camionistas como antes, lamentável. Mas estavas com bruta mini-saia e decote profundo?

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    2. Não. Estava de calças e camisa.

      beijinhos

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  6. Adenda: Agradeci aos senhores polícias e não dei gorjeta nenhuma.

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    1. Joana, em breve um post sobre polícias e operações stop! Obrigada pela ideia!

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  7. Eu também sou anti gorjeta!
    A mim pagam-me para fazer o trabalho bem feito e ponto, porque havia de ser diferente com os outros?
    Quanto à parte de "Tivesse eu uma bruta mini-saia ou um decote até ao umbigo" se calhar também foi a parte que me faltou na minha odisseia do ano passado, a mudar pneus!
    Se te apetecer ver a estória, ela aqui fica
    http://www.osexoeaidade.com/2012/12/o-ano-do-pneu.html

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    1. Eu acho que lhe faltou postura feminina.
      Um homem vê uma mulher decidida que se mostra à vontade para dar conta do recado, a manusear sem quaisquer problemas macaco e chave de rodas e nem se atreve a oferecer ajuda porque receia, e com razão, ouvir uma resposta à maneira de uma feminista.
      Se se mostrasse feminina a olhar desolada para o pneu, a torcer as mãos muto atrapalhada sem saber o que fazer, todos os homens nas imediações corriam a prestar-lhe auxílio.
      Foi isso.

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    2. :)
      Talvez tenha sido Corvo...mas é contra a minha religião ser uma mulher enrascada...
      O que fazer quando Querida Mãezinha sempre me ensinou que uma mulher enrascada é pior do que um policia bêbedo?
      :DD

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    3. Querida mãe, a minha, dizia-me exactamente o mesmo.

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