segunda-feira, 16 de março de 2015

O estranho caso da chave saltitona*


Ah, a corda da roupa, aquela que Maria tantas vezes amaldiçoou, aquela que tantos amuos originou, seguidos de longas temporadas sem brincadeiras marotas, "pelo menos até me dares uma máquina de secar não contes com as visitas nocturnas da noviça motard, João!". "E a catequista peituda? E a pastora queijeira, achas que me pode visitar?",  "Muito menos a pastora queijeira! Quero uma máquina de secar roupa já, já viste o que tem chovido este inverno?". Nesse ano trocaram a semana em Armação de Pêra que o reembolso do IRS lhes poderia ter proporcionado, por um alvéolo na Costa da Caparica, mas compraram a bendita máquina de secar roupa. João e Maria dizem que nunca foram tão felizes como naquele Verão. Amaram-se de manhã, amaram-se de noite, amaram-se ao sol, amaram-se ao luar, amaram...
- João! Ó João, acorda, estás aí pasmado! A chave, agarra a chave!
- Desculpa, Maria. Estava a lembrar-me das férias que passamos no Orbitur da Caparica. Errr... sim, a chave, tenho de agarrar a chave.
- Despacha-te, agarra-a antes que caia, ficou presa na corda da roupa!
- Mas não chego lá. Terei de me empoleirar no parapeito, talvez assim a consiga alcançar. É perigoso. Que se lixe, um homem tem de fazer o que um homem tem de fazer!
- Que valente é o meu homem!
Decidido, arranca o reposteiro florido, outrora garrido, agora de corres esbatidas pelo sol, rasga-o em tiras e entrança uma corda que ata à cintura e prende na à perna do peciché. Enche o peito de ar faz-se à janela. Tinha de agarrar a chave quanto antes.
- João! Não saltes já!
- Sim, tens razão! Falta isto.
Pegou Maria pela cintura e beijou-a como se aquele fosse o seu último beijo.
- Não demoro. Amo-te.
- Não, João, estás nu! Toma, tapa-te com isto. A tia Herculana havia de ficar orgulhosa se soubesse que o naperon de crochet que nos fez havia de nos salvar a vida.
Cobertas as partes pudibundas, "hem, quem diria que a renda me assenta tão bem?", pensou João, subiu para o parapeito. Não podia olhar para baixo, desde aquele fatídico dia em que ficou preso na roda gigante, a simples ideia de subir para o banquinho que tinha na cozinha para chegar aos tupperwares mais altos o deixava nauseado e com tonturas. 
A chave reflectia o sol, que por um segundo o encadeou. Um segundo fatal, o pé escorregou do parapeito, João perdeu o equilíbrio e...
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh......
- Joãoooooooooooooooooooooooooooooooooooo!
Maria assomou-se à janela e olhou para baixo com medo do que pudesse encontrar. Respirou de alívio. Dois andares abaixo, o seu valente João balançava-se qual Tarzan da Flandres, "caramba, a renda fica-lhe mesmo bem", na tentativa de alcançar a varanda do senhor Dias para pedir auxílio. A corda improvisada estava a ceder. Foram muitos anos de sol, aqueles que o reposteiro florido suportou.
A chave, essa, repousava no oleado que cobria o Ford Cortina daquele vizinho.

(Cont.)


*post escrito em parceria

39 comentários:

  1. :D
    E o quarto capítulo, é que que tasco?

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    1. Este é o quarto capítulo, Be. Agora tasco, não sei do que falas, talvez no quinto, se houver...

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    2. Era o quinto, sim. Isto de andar a saltar de de um "ilustre tasco" para o outro, fiquei baralhada ;)

      Pelo menos não foi pela janela....

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  2. E depois ainda estranham e ofendem-se quando lhes chamam putas desocupadas...

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    1. Não perca o anónimo o seu precioso tempo, certamente ocupadíssimo a escrever comentários eloquentes como este, por este blog se o desgosta o que escrevo.

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    2. Oh Mironex... Como é que a Picante decidiu que se chamava o gato? Falha-se-me a memória...

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  3. só tenho uma coisa a dizer.....venho muitas vezes ler os comentários.....e com este ultimo do anónimo das 17:57 fiquei completamente aparvalhada....como é que é possível.....
    bjs paula

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  4. Era um tarzan boho-chic, toda a gente sabe que a renda é tendência!

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  5. depois de ler aquele post sabia que haveria continuação por aqui!
    gosto muito mais destas versões!
    muahahah

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  6. Não tem nada a ver, mas Ó Mirone, tu lembras-te de quando tinhas 3 anos??????? (vi no Pipoco) Eu não sei de quando serão as minhas primeiras memórias, mas 3 anos acho excessivo... e se calhar não.

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    1. Lembro-me de alguns episódios soltos e que me marcaram. Lembro-me do dia antes de o meu avô morrer (teve um enfarte fulminante), do que trazia vestido, do peluche que me deu, de estar no colo dele, mas não me lembro de ver a família triste quando ele morreu... Lembro-me do primeiro dia no infantário, de não querer dormir a sesta e ficar a brincar num cantinho sem fazer barulho enquanto os outros meninos dormiam. Lembro-me de andar a cavalo no Leão e do dia em que o Pinóquio veio para nossa casa.

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    2. Um Beijo, Mirone! :-) Não sei dizer mais nada.

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    3. Lembro-me de ter morrido a minha avó paterna, que morava em nossa casa (quer dizer, nós é que morávamos em casa dela) e de eu achar estranho que nesse dia o almoço tivesse sido sardinha... na minha cabeça não tinha como conciliar sardinhas e morte. Mas não sei que idade teria, realmente... Acho que precisava de umas sessões daquela coisa do Freud. :-(

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    4. Mas tens como confirmar, se procurares sabes em que ano morreu.
      No caso específico do meu avô paterno não me lembro de nada sobre a sua morte (mas sei que foi muito duro, porque dois dos meus tios ainda eram menores, tinham 7 e 12 anos). Hoje sei que foi no dia antes de morrer porque sei que foi num almoço de anos de casados dos meus avós maternos (os compadres sempre se deram bem, as minhas duas avós eram amigas de juventude). Lembro-me de o ver chegar com umas claças cinzentas e uma camisa de cor salmão, com um embrulho para mim, o tal peluche e de a minha avó trazer flores. Lembro-me de alguns episódios de quando ainda vivia em casa dos meus avós (mudámo-nos para a casa nova em Junho e eu tinha feito três anos em Maio), lembro-me de estar a jantar na cozinha, e de não gostar da sopa, de a minha mãe me ter dado uma colherada de sopa e eu ficar de boca aberta, para não engolir, a olhar para o candeiro. Era uma espécie de prato de esmalte, verde por fora e branco por dentro, mais ou menos este, mas mais aberto (http://portuguese.alibaba.com/product-gs/enamel-vintage-industrial-drop-lamp-p4027-green-547559520.html). Havia uma mosca que passeava na parte de dentro desse prato do candeeiro e que projectava uma sombra muito maior que ela e lembro-me perfeitamente de estar espantada com isso. Como podia a sombra da mosca ser maior que ela?

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    5. Eu sei que sim, que posso saber em que ano morreu... em casa do meu pai há uma gaveta com várias chaves de caixão... numas bolsas pretas. Podia agora acrescentar o número de bolsas, mas não carece. Reitero o beijo, o sorriso, sei lá.

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    6. Retribuo o beijo e o sorriso. :)

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  7. E agora? Quem continua? :DD

    Tu não me digas que o João vai ficar ali pendurado forever and ever, ad eternum e isso...

    (E com que então tudo se passou em plena luz do dia? E esta hã?)

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    1. Tenho dois finais alternativos. Se ninguém se chegar à frente faço um agora escolha (no intervalo até ponho um episódio do esquadrão classe A),

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    2. O Bocas... Põe o Bocas... :D

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    3. Ou a Roxana.
      Roxana banana, Roxana banana, ohohohhh!

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    4. Acho que isto é coisa para passar o desafio à blogoesfera. Tenho cá para mim que há muito tempo não há um desafio, assim em bom...

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    5. Já sugeri à Uva que continue o post da Xaxia. Só falta ela aceitar.
      Pessoas, cheguem-se à frente!

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  8. Mirone, mete o João a cair na varanda do vizinho e o vizinho a chegar a casa nesse instante e encontrar a mulher toda descascada na cama e o João todo nu na varanda!

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    1. Uvita, continua tu, já tens material para desenvolver. O João é apanhado todo nu (e o que fazes às rendas, que o favoreciam tanto?) na varanda pelo vizinho do ford cortina.

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    2. E porque é que não se chega a menina Uva à frente, hum? Isso é que era de valor...

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    3. Uva, Uva, Uva!
      Não és Uva não és nada se não escreveres o próximo capítulo!

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    4. Uva que é Uva não passa!

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    5. Uva, pega no post da Xaxia e continua.

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    6. Oh yeah!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
      Estou em pulgas!

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  9. Isto está a ficar mais complicado que a guerra de tronos. Então e a Maria fica sozinha? E o moço salva-se de semelhante desgraça? E a chave, que necessita ser benzida?!

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  10. Benzer a chave? Seguramente! Deve estar embruxada.

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